J. R. Guzzo
Escolha de Lula é uma imoralidade em estado puro, e Senado finge que tem autonomia para aceitar ou recusar a indicação
A nomeação do advogado Cristiano Zanin para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal
– pois é exatamente disso que se trata, uma nomeação – é um escândalo
em dose dupla.
A escolha do nome, em si, já é uma imoralidade em estado
puro. Como é possível, num país que se apresenta o tempo todo como
“democrático” e “republicano”, o presidente da República colocar o seu
próprio advogado pessoal, ninguém menos que ele, na mais alta Corte de
Justiça do país – onde vai ficar pelos próximos 27 anos, até 2050?
É um
insulto.
Em qual democracia séria do mundo se aceita uma coisa dessas?
O
segundo ato do escândalo é a feira livre que está formada em torno da
indicação.
O nome de Zanin tem de ser aprovado pelo Senado, para
satisfazer as formalidades da legislação – uma fantasia oca e hipócrita,
porque não existe a possibilidade da rejeição do indicado, mas que é
aproveitada pelos senadores para extorquir o governo.
Vendem os seus
votos de “sim” e como pagamento recebem empregos, verbas e privilégios.
Para o presidente Lula não custa nada. É tudo pago com dinheiro do pagador de impostos.
Há, é claro, todo um vasto e caro espetáculo de teatro onde os atores fingem que se trata de coisa séria.
O Senado
finge que tem autonomia para aceitar ou recusar o nome de Zanin, como
se sua voz valesse um tostão furado para alguma coisa. O nomeado vai
fingir que respeita os senadores.
Ambos vão fingir que a “sabatina” é
uma sabatina de verdade, com perguntas e respostas voltadas para o
interesse público.
A mídia vai fingir que está cobrindo um evento de
importância capital para a nação – e por aí se vai.
Mas o preço, à essa
altura, já está acertado e até pago, pelo menos com uma entrada. O
resumo desta opera é bem simples: Zanin, além de ser um desastre em si,
vai sair muito caro para o brasileiro que está a 1 milhão de quilômetros
de distância da decisão, mas vai pagar integralmente por ela.
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Não
há nada certo nessa história. Zanin sabe que não está sendo nomeado por
nenhum mérito pessoal, mas porque Lula impôs o seu nome e pagou o preço
cobrado pelos senadores.
Sua atuação como ministro do STF vai ser
suspeita desde o primeiro minuto no cargo.
Como seria possível esperar
que ele tenha um mínimo de imparcialidade em qualquer decisão de
interesse de Lula ou do seu governo?
As suas sentenças vão ser sempre a
mesma coisa – um carimbo de “aceito” em todo papel que colocarem na sua
frente.
A calamidade dobra de tamanho com o mercado de compra e venda
montado pelo “Centrão”
para aproveitar, além de outras, mais essa oportunidade de praticar
extorsão.
É assim que se escolhe, hoje, um ministro do Supremo.
J. R.Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo