O Supremo na mira das milícias virtuais
Bernardo Mello Franco
O ministro Marco Aurélio Mello tocou no assunto ao seu estilo: com
ironia. Ao iniciar o voto de ontem, ele mencionou os vídeos em que
caminhoneiros bolsonaristas ameaçam invadir o STF. “Recebi no WhatsApp que se estaria reforçando a rampa aqui do
Supremo, porque teríamos caminhão subindo...”, disse, com um sorriso no
rosto.
Há três décadas no Supremo, o ministro disse que o Brasil passa por um momento “extremamente delicado”, em que é assombrado por “espectros ameaçadores, surtos autoritários e manifestações de grave intolerância que dividem a sociedade civil”. Não foi a primeira vez que ele alertou para tentativas de intimidação do Judiciário na “nova era”. [irônico é a diferença de classificação do que diz o presidente da República - JAIR BOLSONARO - e o decano do STF - ministro Celso de Mello.
Quando o presidente comenta sobre ameaças dizem ser paranóia,já o decano seus comentários praticamente transformam ameaças virtuais em materiais.]
A nova onda de pressões tenta emparedar os ministros contrários à prisão de réus condenados em segunda instância. Isso não impediu que os favoráveis à regra atual também protestassem contra a agressividade dos ataques.
Para Alexandre de Moraes, o STF tem sido alvo de um bombardeio que mistura ameaças, discursos de ódio e fake news. Ele reclamou de uma “pregação fundamentalista” que prevê o apocalipse antes de julgamentos importantes. “De cada decisão judicial, dependeria o sucesso ou a ruína da nação”, disse. A ofensiva dos caminhoneiros contra o Supremo é liderada por Ramiro Cruz Júnior, que acusa o tribunal de tentar “soltar bandidos no atacado”. Ele ostenta proximidade com a família Bolsonaro e tentou se eleger deputado pelo PSL. Foi recebido pelo presidente em 17 de abril, segundo registros oficiais do Planalto.
Bernardo Mello Franco, colunista de política do Globo