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domingo, 21 de outubro de 2018

O bunker dos militares de Jair Bolsonaro

Generais se reúnem em subsolo de um hotel de Brasília para discutir táticas de campanha e articular alianças políticas. Do QG, saíram propostas que hoje são a tônica do discurso do candidato do PSL

Não há mapas pendurados nas paredes ou espalhados pela mesa. Nem sofisticados instrumentos de comunicação ou criptografia. De comum com os tradicionais bunkers militares, que servem para manter seus ocupantes a salvo de guerras ou desastres e prontos para dali traçar estratégias, está o fato de se instalar no subsolo. É ali, numa sala com duas portas de madeira, com as paredes externas adornadas com um tecido de losangos coloridos, em um discreto e modesto hotel na Asa Norte, a cerca de menos de cinco quilômetros da Esplanada dos Ministérios, que os principais generais ligados à campanha do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, reúnem-se. Do bunker instalado no subsolo do Hotel Brasília Imperial saem algumas das principais estratégias usadas na campanha e o conjunto de propostas de um futuro governo.


 Evaristo Sá/AFP; Divulgação

As reuniões são anteriores mesmo à própria candidatura de Bolsonaro. Estão relacionadas com o desejo que as Forças Armadas, como instituição, demonstrou de participar mais ativamente do debate político brasileiro. O grupo congrega cerca de 20 militares da reserva. À frente, cinco generais que hoje formam o núcleo duro com origem na caserna da campanha do PSL: Augusto Heleno, Oswaldo Ferreira, Aléssio Ribeiro e o candidato a vice de Bolsonaro, Hamilton Mourão. Entre os militares da reserva mais engajados na discussão política, a turma ficou conhecida como “Grupo de Brasília”.

Os generais Augusto Heleno e Oswaldo Ferreira são os precursores da equipe. Heleno é apontado como eventual ministro da Defesa do governo Bolsonaro. O general Oswaldo Ferreira é o principal mentor do time de Bolsonaro para a área de logística e infraestrutura. É cotado para assumir um Ministério da Infraestrutura. Ao grupo, aderiu logo também o general Hamilton Mourão, que acabou se tornando o candidato a vice de Bolsonaro. E o general Aléssio Ribeiro Souto, responsável por elaborar as principais propostas do governo bolsonarista na área da Educação. Ex-chefe do Centro Tecnológico do Exército, Souto defendeu publicamente que seja revisada a narrativa sobre o Golpe Militar de 1964, dando “os dois lados da história”, e até o estímulo do estudo do criacionismo nas escolas.


COMO TUDO COMEÇOU
No segundo semestre de 2017, o general Ferreira começou a se aproximar de Bolsonaro e enxergar nele o caminho para a maior inserção política que os militares pretendiam. Bolsonaro buscava diretrizes na área de desenvolvimento de logística, setor em que os militares são considerados especialistas. Ferreira foi incorporando aos debates outros militares. Em março deste ano, as reuniões foram se tornando mais frequentes.

No início, os encontros ocorreram em várias localidades. Uma delas foi a casa do general reformado Augusto Heleno. Outra no apartamento onde mora Oswaldo Ferreira. Em uma ocasião, reuniram-se na sala de um assessor do deputado Delegado Francischini (PSL-PR) na Câmara. Ouvido por ISTOÉ, esse assessor conta que, nessa reunião, a pauta principal foi segurança. “Há muito debate. Muitas vezes, o que eles pensam não chega a ser incorporado à campanha. Apesar de serem próximos do Bolsonaro, não significa que vão ser atendidos por ele”, afirma o assessor. Com o tempo e a ascensão de Bolsonaro, os militares entenderam que precisavam de um lugar discreto e sempre disponível para as reuniões. Onde pudessem conversar sem chamar a atenção. Foi quando conseguiram alugar a um custo baixo a sala no hotel.

As reuniões têm formato parecido. Não participam delas somente militares. Em várias ocasiões, são também convidados especialistas civis que tenham afinidade com o perfil do grupo. O economista Paulo Guedes, provável ministro da Fazenda, já participou de mais de uma delas. Um dos participantes, principalmente pessoas ligadas às Forças Armadas ou algum civil convidado, realiza uma exposição de pontos para o grupo que, a partir daí, começa a trazer ideias e alternativas para o plano de governo. Do bunker, saíram várias propostas que hoje são a tônica da campanha de Bolsonaro. Um exemplo disso é a defesa que Bolsonaro tem feito de valores da família tradicional brasileira. Surgiu do grupo a tese de que parte da sociedade enxerga exagero em questões relacionadas a minorias de gênero e a defesa do aborto.

Dentro da cultura militar, que privilegia a logística e a estratégia, o grupo busca traçar diretrizes para o país a partir de 2019, com planos detalhados de execução e metas a serem atingidas. Como numa guerra a ser vencida, o grupo traça táticas militares para governar o País.


IstoÉ