Temos uma
má notícia para você: a internet mundial pode sofrer uma falha mundial ainda
neste mês, como já ocorreu em outros anos. Mas aqui vai a boa notícia: a
possibilidade de problemas é considerada mais remota agora e pode ser a última
vez que a web tenha um problema do tipo. Não entendeu nada? Estamos falando do
que é chamado por especialistas de "768k Day", um dia conhecido por
pessoas da área e temido pelos problemas que pode gerar em conexões. Na
prática, esse é o dia em que roteadores (o de empresas de transmissão de dados,
não o da sua casa) mais antigos têm seu limite de tráfego de rotas ultrapassado
e ficam malucos.
Esse
problema pode gerar lentidão, dificuldades para se conectar e até um "mini
apagão" na internet de usuários em toda a rede ou só em alguns sites, mas
há uma dúvida se usuários vão sentir a falha ou não como em anos anteriores, já
que muitas empresas trocaram equipamentos. Para entender as razões disso
acontecer, é preciso manjar um pouquinho do funcionamento técnico da internet.
Por trás das nossas conexões diárias com sites do mundo todo em que vários
provedores e servidores se comunicam, existe um "mapa" que guia essa
troca de dados chamado "tabela de rotas". É essa tabela que pode
atingir um limite e ocasionar problemas, como ocorreu em agosto de 2014.
Em 2014, alguns equipamentos tinham um tamanho
máximo para essa tabela que era limitado a 512 mil entradas. Muita gente teve
lentidão, outros travaram. Daí configuraram um limite novo de 768 mil entradas
nessa tabela e estamos chegando de novo a isso Antonio Moreiras, gerente de
projetos e desenvolvimento do NIC.br, entidade que atua na coordenação da
internet no Brasil
O "
768K Day" não tem um dia específico para acontecer, mas dá para saber que
o número será ultrapassado nos próximos dias. Cada operadora vê um número de
rotas diferente dentro da sua tabela, o que faz com que cada uma atinja o
limite em um momento diferente.
Quem pode ser afetado
A falha deve afetar principalmente
equipamentos antigos e, segundo Moreiras, coloca em risco principalmente
provedores menores que não atualizaram o sistema. "Todo equipamento de
rede e roteadores têm uma tabela de roteamento, e essas tabelas têm limites.
Equipamentos mais antigos têm menos memória e capacidade. Quando ultrapassa
esse limite, param de funcionar", aponta o professor Rodrigo Filev, do
departamento de ciência da computação da FEI, isso tem a ver com a memória
disponibilizada em cada equipamento.
Por isso, pode acontecer algo parecido com o que ocorreu há cerca de uma
década em São Paulo, quando parte do Estado ficou sem rede e com problemas na
telefonia por causa de uma falha no roteamento. Em 2014, o problema afetou o
Poupatempo. "Os roteadores estouram a tabela e ficam malucos, não sabem
para onde direcionar o tráfego. Embora grandes fabricantes tenham atualizado
uma parte, não dá para garantir. Tem muito equipamento que não foi atualizado e
pode sim parar serviços essenciais e dar prejuízos em sites de e-commerce e
sistemas de logística que dependem da localização pela internet. Isso pode
gerar prejuízo mais para empresas do que para pessoas", opina João Carlos
Lopes Fernandes, professor do curso de Engenharia de Computação do Instituto
Mauá de Tecnologia. O gerente do Nic.br, no entanto, considera remota a
possibilidade de problemas desta vez. Pode
ter problema agora? Pode. Mas, se acontecer, vai ser muito menor. Nem esperamos
que aconteça e essa questão mal tem sido levantada pelo pessoal técnico, mas é
importante o alerta para quem não trocou o equipamento ou mudou as
configurações Antonio Moreiras, gerente de projetos e desenvolvimento do NI.
Quem poderá nos defender?
Quem
acompanha isso de perto são as operadoras, empresas e provedores para que os
problemas sejam amenizados antes da fatídica data. Ao usuário, resta esperar
que seu provedor ou o responsável pelo site tenha tomado as medidas cabíveis
para evitar a falha. "A gente não pode fazer nada. Estamos na ponta da
internet e são ajustes da área de engenharia de tráfego que sequer ficam
próximos de nós", diz Filev. "Não tem nada a ver com roteador
doméstico, então não precisa mexer em nada da sua casa", afirma Lopes Fernandes.
É a última vez?
"Os roteadores hoje têm uma memória muito
maior do que o tamanho dessa tabela. Eu diria que não tem mais um limite. Uma
outra coisa é que está sendo feita uma transição para outro protocolo de
internet que tem uma tabela mais separada e controlada, não precisa de tantos
caminhos", conta Moreiras.
Isso significa que nossa internet vai funcionar
lindamente pelo resto dos tempos?
Não, claro. Existem ainda outras questões que
grupos como o Nic.br tentam melhorar na rede. Podem ter outros problemas, mas
igual a esse deve ser a última vez
Antonio Moreiras.