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domingo, 28 de agosto de 2022

Sabatinados e sabotinudos - Revista Oeste

Guilherme Fiuza

"Boa noite, candidato. Em primeiro lugar, uma informação para a nossa audiência: nós vamos ser tão duros com o senhor como fomos com o Bolsonaro" 

Ciro Gomes, William Bonner e Renata Vasconcellos, na entrevista do candidato ao <i>JN</i> | Foto: Reprodução
Ciro Gomes, William Bonner e Renata Vasconcellos, na entrevista do candidato ao JN | Foto: Reprodução

Sabatina televisiva do candidato Ciro Gomes:

— Boa noite, candidato. Em primeiro lugar, uma informação para a nossa audiência: nós vamos ser tão duros com o senhor como fomos com o Bolsonaro.

Positivo, estou preparado.

— Dá pra notar.

— O quê?

— Seu terno é muito bem cortado e o senhor está com uma expressão plácida que passa confiança.

— Obrigado.

— Mas seremos duros com o senhor.

Entendo. Agradeço mais uma vez o alerta.

— O senhor é muito educado.

— Pois é, todos elogiam o meu jeito afável e delicado.

— Quanta diferença. É horrível sabatinar gente grosseira. Ontem mesmo nós… Deixa pra lá. Vamos às perguntas.

— Ok.

— Voltamos a alertar que elas serão incisivas, doa a quem doer.

— Compreendo.

— Mas você responde se quiser, Ciro. A gente jamais afrontaria um cara tão legal como você.

— Obrigado. Vocês também são muito legais.

— Como vai a Patrícia?

— Isso já é a sabatina?

— Candidato, quem faz as perguntas aqui somos nós! Avisamos que seríamos duros.

— Ah, tá.

— Repetindo a pergunta: como vai a Patrícia?

— Vai bem.

— Vocês ficaram amigos depois da separação?

Muito. Nos damos super bem.

— Que legal. Nada como gente civilizada. Detestamos essas pessoas raivosas que brigam com todo mundo.

— Onda de ódio.

— Aí você falou tudo.

— Tudo, não. Tem também desinformação, fake news e atos antidemocráticos.

— Certíssimo, candidato. A conversa está tão boa que até esquecemos de recitar a cartilha completa.

— Não tem problema, acontece.

— O senhor é muito compreensivo.

— Gentileza de vocês.

— E simpático.

— São seus olhos.

— E charmoso.

— Assim vou me encabular.

— Não seja modesto. Ainda assim, com todas essas virtudes, teremos que continuar sendo duros com o senhor.

— Ok. Serei forte.

— Bota forte nisso.

Sou talhado para a guerra.

— Força, guerreiro.

Obrigado.

— Então aguenta firme que vamos prosseguir com o interrogatório rigoroso: qual novela da Patrícia você achou mais legal?

— Ah, não sei… Foram tantas…

— Candidato, não fuja da pergunta! Não permitiremos evasivas! O senhor tem mais uma chance: qual é a sua novela preferida da Patrícia?!

— Bem… Acho que O Rei do Gado.

— Acha?! Não tem certeza? Não aceitaremos respostas vagas, candidato!

— Ok. É O Rei do Gado mesmo.

— A gente também adorou. O Fagundes tava ótimo, né?

Maravilhoso.

— Acho que foi uma das melhores novelas que eu já vi. Você tem muito bom gosto, Ciro.

— Então vocês acham que eu estou indo bem na sabatina?

— Candidato, vamos repetir: quem pergunta aqui somos nós. E não queremos essa intimidade com o sabatinado.

— Desculpem. Estou tão à vontade que esqueci as regras.

— Relaxa, Ciro. Vamos pra um rápido intervalo comercial, aí a gente toma um café. Mas já vamos deixar uma pergunta no ar, pra você responder depois do break: topa jantar depois da sabatina?

— Claro que t…

— Calma, querido. Só depois do intervalo.

— Opa, é mesmo. Desculpem a minha ansiedade.

— Não estamos te achando ansioso. Você está bem calmo até, apesar da pressão que estamos colocando sobre você. Deve ser a experiência.

— É, acho que…

— Não, não, não. Agora, não. Só depois do intervalo.

— Ah, tá. É que vocês anunciaram o break e continuaram falando, aí achei que tinham adiado o comercial.

— Não é isso. É que nós temos que falar mais do que você, senão podem nos acusar de tratamento desigual. Aí vamos esticando um pouquinho as nossas falas. Nossa vontade seria ficar só te ouvindo, horas a fio, com essa sua prosa agradável, essa sua indignação genuína, esse seu sotaque musical, esse seu conhecimento impressionante de todos os assuntos. Se tivéssemos mais tempo até pediríamos pra você nos explicar a Teoria da Relatividade, com essa precisão que só você tem. Mas infelizmente a televisão tem os seus limites, então a nossa ideia é terminar a arguição sobre as novelas a tempo de falarmos um pouquinho sobre bares e restaurantes, um assunto urgente do qual você não poderá escapar.

— …

— E repetimos o alerta: seremos duros nos questionamentos, doa a quem doer.

Leia também “A estranha morte da menina Vanessa”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste