Presidente da República, Jair Bolsonaro,
durante café da manhã com Dias Toffoli, Presidente do Supremo Tribunal
Federal; Davi Alcolumbre, Presidente do Senado Federal; Rodrigo Maia,
Presidente da Câmara dos Deputados; Onyx Lorenzoni, Ministro-Chefe da
Casa Civil da Presidência da República; Paulo Guedes, Ministro de Estado
da Economia, e Augusto Heleno, Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da República - 28/05/2019
(Marcos Corrêa/PR)
O problema do noticiário político do
Brasil é um só: os analistas, tanto da Universidade como da imprensa,
insistem em levar as notícias a sério. Não dá. É como criticar uma piada
porque peixe não fala. Na piada, fala, sim.
Neste momento, Bolsonaro e o
presidente do Supremo, Dias Toffoli, estão em lua de mel. Toffoli
participou do pacto de Bolsonaro com Rodrigo Maia “para destravar o
Brasil”. Maia, que é do ramo, sabe que esse tal pacto não é para levar a
sério. Mas Toffoli está animado. Depois do café da manhã com Bolsonaro e
Maia, ficou novamente ao lado do presidente, que recebia deputadas e
senadoras. Ouviu impassível quando Bolsonaro, depois de elogiá-lo (“uma
pessoa excepcional”), disse: “É muito bom termos a Justiça ao nosso
lado”. E completou fazendo com as mãos uma imitação de coração.
Tudo muito bom, tudo muito bem, mas
acontece que, mais cedo ou mais tarde, alguma medida de Bolsonaro “para
destravar o Brasil” irá chegar ao Supremo. Como Toffoli poderá
participar do julgamento, ele que é “a Justiça ao lado” de Bolsonaro? E,
caso se declare impedido, tudo o que o presidente fez para atraí-lo não
terá tido nenhum resultado. Muito esforço para nada. É desejável, inclusive nos temos da
Constituição, que os presidentes dos três Poderes tenham relacionamento
harmonioso. Mas confraternizar ultrapassa os limites do relacionamento
desejável. Pode caber ao Supremo o julgamento de Flávio, o filho 01.
Amizade, vá lá. Amizade colorida, não dá.
Não é, mas continua sendo
Outra novela curiosa é o tal fim do Centrão.
Depois que o Centrão foi até alvo de manifestantes que apoiam o
Governo, ninguém mais é do bloco. Os principais dirigentes do partido,
inclusive o presidente ACM Neto, sustentam que Centrão era o grupo de
políticos que girava em torno de Eduardo Cunha. Rodrigo Maia? Imagine! A
eleição de Rodrigo Maia eliminou os últimos vestígios do Centrão.
Aliás, o PR também não é Centrão. Mudou de nome e hoje é PL. O cacique é
o mesmo, Valdemar Costa Neto. Mas são personagens diferentes. O
Valdemar do PR talvez fosse Centrão, o do PL não é. Simples.
O morto-vivo
Aliás, o extinto Centrão, embora já não
exista mais, continua operando como se existisse. Coisas de nossa
estranha vida política, se levada a sério.
Bico longo, penas coloridas
O governador de São Paulo, João Dória Jr.,
acaba de assumir o controle do PSDB. Seu candidato, o deputado
pernambucano Bruno Araújo, se elegeu presidente do partido. Toda a
análise política é sobre o “novo PSDB”, que Dória “vai levar para a
direita, abandonando a tradicional postura tucana de centro-esquerda”.
Pois é. Mas, tirando o afastamento da antiga geração, toda com mais de
70 anos, do comando partidário, não há mudança. Dória surgiu na política
há 40 anos, na campanha de Franco Montoro para o Senado. Foi um dos
marqueteiros na eleição de Montoro para o Governo. Com Mário Covas como
prefeito nomeado, dirigiu a Paulistur. Foi indicado por Fernando
Henrique para dirigir a Embratur. Quem o lançou candidato a prefeito foi
Alckmin. Seu vice era Bruno Covas, aliado até hoje, o neto de Mário
Covas. É tucano de ponta a ponta. Não muda nada. PSDB é PSDB, para o bem
ou para o mal. O que muda é a formação: Dória é melhor empresário que a
média tucana, e tem menos diplomas universitários. Quem diz que ele é
recém-chegado ao partido não pode ser levado a sério.
Em nome de Deus
Já a frase de Bolsonaro diante de fiéis da
Assembleia de Deus tem de ser levada a sério: ele perguntou ao público
se já não estava na hora de haver um ministro evangélico no STF. A
Constituição fala em notável saber jurídico e ilibada reputação. Não se
refere em nenhum momento à filiação religiosa de Suas Excelências. Nem
para favorecer, nem para prejudicar. Se alguém tiver ilibada reputação e
notável saber jurídico, suas convicções religiosas não importam. Mas,
se quiser, Bolsonaro pode nomear um jurista evangélico para o STF. Basta
desistir da nomeação de Moro em favor de um evangélico de notável saber
jurídico e ilibada reputação (e que, aliás, não permitiria que a
religião influenciasse seus votos – mesmo no caso que interessa ao
presidente, contrário a tornar a homofobia um crime). Ou convença Sérgio
Moro a adotar a vertente evangélica do cristianismo, e então nomeá-lo.
Fora isso, estará só fazendo demagogia para buscar mais apoio dos
evangélicos.
O original era melhor
E é difícil levar a sério a política quando o ministro da Educação aparece num vídeo simulando uma cena de Cantando na Chuva,
o clássico musical lançado em 1952. Qual a mensagem que Sua Excelência
queria transmitir? Não importa: qualquer que fosse, a cena da dança na
chuva protagonizada por um ministro a abafaria. Para este colunista, que
acha importante manter a liturgia do cargo, a única conclusão a que se
pode chegar é que a dança original, com Gene Kelly, foi muito melhor que
a do ministro.