Se debates fossem realmente importantes para a democracia e seu filho problemático, o processo eleitoral, eles seriam realizados com mais frequência e exibidos às 16h do domingo, no lugar do futebol. [sic] Aliás, seriam realizados num estádio de futebol lotado. Se debates fossem realmente importantes e minimamente relevantes, teriam a participação de pessoas que dispensariam as regras tolamente rígidas.
O pressuposto de que um debate ajuda a esclarecer o eleitor também é errado porque, apesar de toda a propaganda do TSE e das autoridades eleitorais, uma eleição não é um confronto saudável de ideias. Longe disso. Depois de décadas de distorções de todo tipo, dá para dizer sem medo de errar que o processo eleitoral se transformou numa disputa de lealdades. Não tem mais nada a ver com projetos ou visões de mundo.
Não importa o que o candidato fale ou deixe de falar nas entrevistas, no horário eleitoral gratuito ou nos debates. Poucos são os eleitores capazes de mudar radicalmente de voto por conta do que é ou não dito pelo candidato que eles acreditam ser não só o melhor, mas principalmente a única saída para o país. Ninguém está disposto a se deixar convencer do contrário.
Sim, chegamos a este ponto. Se é que alguma fez não estivemos nele. Tendemos a romantizar os debates como se eles fossem representações de algum ideal grego. Como se o estúdio frio da emissora de TV fosse a ágora e aqueles homens de terno e gravata fossem filósofos discutindo ideias avançadas não só de administração da cidade-estado, mas também da melhor forma de se viver e alcançar a felicidade. Mas, se um dia os debates buscaram refletir esse ideal de democracia, esse projeto caiu por terra com o surgimento das redes sociais. Que nada mais são do que um debate interminável e sem vencedores. E não há nada de mau nisso. Tecnologias novas surgem e as formas de nos comunicarmos muda também.
(Logo mais, à tarde, comentarei em vídeo os pormenores do debate na Band. Que, na minha opinião, foi "vencido" por Jair Bolsonaro).
Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES