Governo estreou sem brilho e entra na fase de ‘tourear’ o Congresso de Renan Calheiros
[sugerimos aos que criticam Bolsonaro em tudo, jornalistas ou leitores, que leiam: Melhor assim. É um pouco didático, mas, verdadeiro e mordaz.]
Governo Bolsonaro completa o primeiro mês com muita emoção e nenhum
brilho e começa hoje uma nova etapa em que terá de se relacionar com o
Congresso invertendo o jogo: com menos emoção e mais brilho. Bolsonaro
ainda não se afirmou, mas isso pode ficar em segundo plano se Paulo
Guedes se articular bem com a equipe política, o programa econômico
deslanchar e a “nova era” mantiver as expectativas. Se não, complica.
Em janeiro, Bolsonaro desperdiçou a chance de estrear em grande estilo
no cenário internacional. Sem Trump, Macron e os principais líderes, o
foco estava no novo presidente do Brasil, mas ele não soube aproveitar
as condições favoráveis. Com tanto a dizer, a explicar, a oferecer,
Bolsonaro limitou-se a um discurso de seis minutos, chocho, óbvio. E, do
total de 45 minutos a que teria direito, só usou 15 para vender o
Brasil, seu governo e ele próprio. Para piorar, fugiu da entrevista à
imprensa internacional.[quanto mais um presidente fala, mais a imprensa malha - vejam o Trump, estão sempre prontos a criticá-lo, até quando silencia; a 'liturgia' do cargo de presidente da República não o obriga a ficar horas e horas discursando (estilo os discursos do falecido coma andante Castro), a agir como garoto propagando dos interesses de seu país.
Em respeito à dignidade do cargo os pronunciamentos em eventos internacionais devem ser sucintos, formais; entrevistas coletivas devem ser a exceção da exceção - o porta-voz cuidará dos contatos com o jornalista;
e, em solo pátrio, o presidente quanto entender que o assunto recomenda uma manifestação presidencial, convoca uma cadeira de Rádio e TV e presta as informações necessárias.
Presidente dando entrevista não é bom - sempre será malhado, criticado.]
No front interno, Bolsonaro consumiu a maior parte do tempo
confraternizando com militares em posses e almoços. Aliás, só discursou
em uma: a do novo ministro da Defesa, general Fernando Azevedo. Isso é
catequizar os já catequizados. O importante seria ampliar o leque
político para atrair o centro, onde há ainda setores refratários, ou
desconfiados. A história do agora senador Flávio Bolsonaro e do motorista e amigo da
família Fabrício Queiroz pairou como um fantasma inconveniente,
insistente, lembrando a cada momento movimentações financeiras atípicas,
depósitos picados mal explicados, súbito aumento de patrimônio,
funcionários que recebiam dinheiro público enquanto trabalhavam para
particulares. [os adversários do presidente, considerá-los inimigos talvez seja mais adequado, contando com o apoio dos 'vazadores' do Coaf e assemelhados, reúnam as provas e que então o assunto seja investigado e os culpados, caso tenha ocorrido algum crime, seja punidos com os rigores da lei.
Tergiversar sobre o assunto lembra fofoca, boato, conversa de comadre e a não leva a nada.]
Já não bastasse o senador, o motorista, a mulher e a filha deste darem
de ombros para o MP, Flávio entrou no STF para suspender a investigação e
vai perder hoje, quando o ministro Marco Aurélio derrubar a liminar da
suspensão. Nem pode reclamar. Quem não deve não teme, certo? Não foram “esquerdopatas” que exigiram explicações, foram os próprios
generais do entorno do gabinete presidencial, inclusive, talvez
principalmente, o vice-presidente Hamilton Mourão. Aliás, um capítulo à
parte na campanha, na transição e no primeiro mês.
Se Bolsonaro foi obrigado vez ou outra a recuar de decisões na fase de
transição, ao assumir, ele precisou ser desmentido pela própria equipe,
ora por um ministro, ora por um alto assessor, ao falar de IOF, IR,
reforma da Previdência. Isso mexe com o mercado, os humores e a
percepção sobre a competência do presidente. [qualquer ser humano normal, inexperiente no convívio com a imprensa - Bolsonaro é um ser humano normal - está sujeito a cometer imprecisões;
infelizmente, grande parte da imprensa não aceita que PERDEU - quem GANHOU as ELEIÇÕES foi BOLSONARO, que É o PRESIDENTE DA REPÚBLICA.
É só aceitar isso e dói menos.]
Até o general Augusto Heleno, do GSI, teve de recorrer ao seu jogo de
cintura para desmentir a intenção de ter uma base militar americana em
solo brasileiro. Segundo Heleno, fizeram um “auê” por nada. Mas ele
certamente sabe que quem fez o “auê” foi o próprio Bolsonaro.
Possivelmente, por ter confundido a “base” de Alcântara com base
militar. Erro elementar. [o próprio general Heleno já foi alvo da sanha da imprensa quando emitiu sua opinião certíssima - sobre DIREITOS HUMANOS para HUMANOS DIREITOS;
foi só Bolsonaro se enrolar na euforia dos três primeiros dias no cargo e o general agir com serenidade e esclarecer, para virar o herói.]
Brumadinho foi um ponto positivo para Bolsonaro, rápido ao ir já no
primeiro momento à área e mobilizar a equipe. A tragédia alavancou o
ministro Ricardo Salles e serviu de alerta contra o certo desdém do
próprio presidente e de parte dos ministros diante do meio ambiente. A partir de hoje, Bolsonaro e seu governo entram numa segunda fase: a de
tourear um Congresso que parece dividido entre os neófitos, que não
sabem muito bem a que vieram, e os muito experientes, que são craques em
pressionar governos. Em especial governos que precisam aprovar reformas
difíceis e compensar, na economia, o que falta no desempenho do próprio
presidente.
Rodrigo Maia será uma mão na roda na presidência da Câmara, mas o Senado
tem tudo para virar problema, com o super experiente Renan Calheiros. [que mudança|! Calheiros de multiprocessado, de corrupto mor, agora é o 'super experiente' e logo será também o 'super competente', lógico que isto ele é em outras atividades, mas, vão classificá-lo sempre no bom sentido.]
Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo