Há um problema com o futuro. Quando ele chega, as pessoas esqueceram o que as trouxe até ali.
Eu poderia estar falando de fatos recentes, de invasões de competência confessadas nas entrelinhas de declarações supostamente harmonizadoras e logo atropeladas com inquéritos do fim do mundo e com a autossagração ao posto de poder moderador. Contudo, moderandi potestatem e inquisitionis finis mundi não integram nosso latinório constitucional ou jurídico.
Refiro-me,
particularmente, à decisão do colegiado do STF que, em 7 de dezembro de
2006, derrubou a cláusula de barreira que reduziria o número de partidos
políticos, favoreceria a formação de maiorias e dinamizaria o processo
legislativo. Não bastasse isso, em 17 de setembro de 2015, o Supremo
pulou novamente a cerca para descobrir que os constituintes de 1988, em
alguma caverna da Constituição, deixaram escrito, envelopado e lacrado
que ficava proibido o financiamento privado às campanhas eleitorais. [pensando um pouco sobre as razões para tantos 'supremos pulos': não fossem os pulos, os partidecos de nada, não existiriam e são eles que se servem do supremo apetite intervencionista para atrapalhar o governo e continuarem existindo.]
Desde então, partidos começaram a surgir debaixo das pedras de Brasília. “Pessoal! Dinheiro público na mão das direções partidárias!”. “Quem vai querer?”. “Quem vai levar?”.Razões a Fréderic Bastiat. Há o que se vê e o que não se vê. Na farra orçamentária deste fim de ano, o botim das siglas aprovada ontem (21/12) fechou em R$ 4,9 bilhões do nosso suado dinheirinho.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.