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terça-feira, 31 de março de 2015

SALVE a REDENTORA - SALVE o 31 de MARÇO de 1964 - A NAÇÃO que se salvou a si mesma - PARTE II e III

A Nação que se salvou a si mesma - PARTE II (do comunismo e de um presidente que era o maior corrupto e o maior latifundiário)

 “A Nação que se salvou a si mesma”, de Clarence W. Hall, publicada na edição de novembro de 1964 da revista Seleções do Reader’s Digest.  
Por ser um artigo contemporâneo à Revolução de 1964, é uma narrativa bastante preciosa sobre o período que o País vivia.
[Percebe-se facilmente que mesmo sendo um texto escrito há 50 anos, narrando fatos daquela época, se adapta perfeitamente aos dias de hoje.
Quando aborda a corrupção desenfreada que havia no Brasil naquela época, se esquecermos a data da matéria, podemos pensar que estamos lendo um jornal dos dias atuais em que a "petralhada" a "cumpanherada" tem um único objetivo:
ROUBAR O MÁXIMO QUE FOR POSSÍVEL, NO MENOR  TEMPO  - como aves da rapina que são percebem que a oportunidade do "ENRIQUEÇA DEPRESSA" está chegando ao fim.]
 
Guarnecidos de Vermelhos
OS INVESTIGADORES não tardaram a descobrir um cavalo-de-tróia vermelho, de dimensões bem mais assustadoras do que alguém imaginava.Muitos comunistas disfarçados, “plantados” em ministérios e órgãos governamentais anos antes, tinham conseguido alçar-se até postos-chaves na administração federal. A maioria dos ministérios e repartições públicas estavam guarnecidos de comunistas e simpatizantes a serviço das metas de Moscou. O chefe comunista Prestes apregoava em público: “Dezessete dos nossos estão no Congresso” — todos eleitos em chapas de outros partidos. Além disso, dezenas de deputados simpatizantes faziam acordos com os comunistas, apoiando- os em muitas questões, sempre atacando o “imperialismo dos Estados Unidos” mas jamais criticando a Rússia Soviética.

Comunistas não eram os ministros, mas os consultores de alto nível, e às vêzes apenas os subordinados ao ministro, ou os redatores de relatórios em que se baseavam altas decisões. Alguns alardeavam abertamente: “Não nos interessa quem faça os discursos, desde que sejamos nós que os escrevamos!” O Ministério de Minas e Energia era dominado completamente por um grupo assim. O Diretor-Geral dos Correios e Telégrafos, Dagoberto Rodrigues, oficial do Exército, conhecido como esquerdista, liberou certa vez grande quantidade de material de propaganda soviética e cubana apreendida pelo Govêrno Federal com a explicação vaga: “Examinei êste material e concluí que não é subversivo.”

Nos próprios sindicatos, o contrôle comunista era esmagador. Repetidamente o Govêrno intervinha em eleições sindicais a fim de garantir a escolha de candidatos comunistas, especialmente em indústrias que podiam prontamente paralisar o pais.

Atenção Especial à Educação

 O MAIS sabidamente infiltrado era o Ministério da Educação. Um dos mais íntimos conselheiros de Goulart era Darcy Ribeiro, que, como Ministro da Educação, serviu-se de cartilhas para ensinar a milhões de analfabetos o ódio de classes marxista.

Especialmente mimada pelo Ministério da Educação era a UNE (União Nacional dos Estudantes), cuja diretoria era completamente dominada por vermelhos e cujos 100.000 sócios constituem a maior organização estudantil nacional da América Latina. Durante anos um subsídio anual do Govêrno, de cêrca de 150 milhões de cruzeiros, era entregue aos diretores da UNE — sem que tivessem de prestar contas. Assim garantidos, êles se dedicavam integralmente à agitação política entre os estudantes. Parte dêsse subsídio era usada para financiar excursões à Cuba Vermelha e visitas a grupos irmãos de estudantes comunistas em outros países da América Latina.

Fortalecida ainda mais por substanciais fundos de guerra oriundos de Moscou, a UNE publicava panfletos inflamados e um jornal semanal marxista virulentamente antiamericano. Fingindo-se empenhado em combater o analfabetismo, um grupo da UNE passou dois meses distribuindo material de leitura, no qual se incluía o manual de guerrilhas do castrista “Che” Guevara — impresso em português por comunistas brasileiros da linha vermelha chinesa. Líderes da UNE especializavam-se em fomentar greves escolares e comícios estudantis, demonstrações públicas e distúrbios de rua.

Engenheiros do Caos A INFILTRAÇÃO, constataram os investigadores, fôra-se tornando maior e cada, vez menos oculta a cada mês que passava. Suficientes para fazerem soar campainhas de alarma foram as nomeações de certos homens feitas logo no início do Govêrno Goulart, como Evandro Lins e Silva, eminente advogado, há muito defensor de causas comunistas, para Procurador-Geral da República; e Professor Hermes Lima, um admirador de Fidel Castro, para Primeiro- Ministro. (Ambos foram posteriormente nomeados para o Supremo Tribunal Federal.) O principal entre os mais veementes defensores de medidas esquerdizantes era Abelardo Jurema, Ministro da Justiça de Goulart. E o secretário de imprensa do Presidente era Raul Ryff, de ligações notórias com o Partido Comunista havia mais de 30 anos.

O principal porta-voz do regime Goulart era Leonel Brizola, cunhado de Jango,
Governador do Estado do Rio Grande do Sul e depois Deputado pelo Estado da Guanabara. Ultranacionalista, odiando os Estados Unidos, Brizola era classificado como “um homem temeràriamente mais radical do que o próprio chefe vermelho, Luiz Carlos Prestes”.

Por tôda a parte havia “técnicos de conflito”, comunistas do caos. Adestrados em escolas de subversão atrás da Cortina de Ferro, eram peritos em criar o caos, para depois promover agitações em prol das “reformas”, levar o Govêrno a fazer grandes promessas que nunca poderia cumprir, e, em seguida, aproveitar o desespêro resultante para gritar: “Revolução!” O número dêsses técnicos não era grande — não havia mais de 800, tendo uns 2.000 adeptos em órgãos do Govêrno. Diz o Dr. Glycon de Paiva, do Conselho Nacional de Economia: “É tática comunista clássica darem a impressão de que são muitos. Na verdade, só uns poucos devotados são necessários para levar a efeito a derrubada de um país. Os povos livres cometem o êrro de não darem importância a qualquer fôrça sem efetivos consideráveis. Nós aprendemos pelo processo difícil.”

Quase diariamente vinham à luz as mais espantosas provas de que uma revolução vermelha estava em processo. No empobrecido Nordeste, onde se justificava a preocupação pelas flagrantes injustiças praticadas por abastados proprietários rurais contra camponeses famintos, “barbudos” de Castro perambulavam pelo campo suscitando a revolta. O transporte para instrutores cubanos em guerra de guerrilhas, assim como para centenas de jovens brasileiros que iam a Cuba fazer cursos especiais de subversão de 20 dias, era assegurado por aviões diplomáticos em vôos regulares de ida e volta para Havana. Irradiações da China Vermelha, em português, ficavam no ar quase oito horas por dia, conclamando os camponeses a se sublevarem contra os proprietários das terras.

Típico da eficiência dos investigadores democráticos foi a descoberta que fizeram, em setembro de 1963, de um grande carregamento de armas que se encontrava a caminho do Brasil, procedente da Europa Oriental. Alertado, o Exército Brasileiro enviou uma tropa ao navio e conseguiu confiscar toneladas de armas portáteis, munições, metralhadoras, equipamento de comunicações de campanha e montões de propaganda vermelha em português.

O Método “Enriqueça Depressa” AS CONTÍNUAS investigações dos peritos de informação do IPES revelaram mais do que subversão. A corrupção generalizada — bem acima do comumente aceito como parte da vida política da América Latina — estendia-se do palácio presidencial para baixo. No momento em que Goulart e seus extremistas de esquerda atribuíam tôdas as dificuldades do Brasil aos “exploradores e sanguessugas norte-americanos”,  havia gente no Govêrno metendo as mãos no dinheiro público com a maior sem-cerimônia. Estava claro que qualquer auxílio a regiões empobrecidas, inclusive contribuições da Aliança Para o Progresso, tinham de transpor uma pesada pista de obstáculos de mãos ávidas e dedos ágeis.

Com uma renda declarada de menos de 50 milhões de cruzeiros em 1963, Goulart, por exemplo conforme documentos apreendidos pelo Conselho Nacional de Segurança depois que êle fugiu para o exílio — gastou 236 milhões de cruzeiros somente em suas fazendas de Mato Grosso. Enquanto Goulart insistia no confisco das propriedades dos latifundiários e na distribuição da terra aos camponeses, os registros de imóveis demonstram que êle rapidamente somava imensas propriedades às que já tinha. 
Só depois que Jango fugiu pôde o Brasil medir a sinceridade dêle em matéria de partilha de terras. Proprietário de terras apenas em São Borja, quando iniciou sua vida pública, ao abandonar o país em abril passado Goulart era o maior latifundiário do Brasil, possuindo em seu nome mais de 7.700 quilômetros quadrados de terras, uma área quatro vêzes e meia superior à do Estado da Guanabara.

E havia os que compartilhavam as oportunidades de ficarem ricos depressa. Indiscrições sôbre uma iminente mudança na política oficial, como sôbre taxas de câmbio, davam milhões a favoritos palacianos. Empreendimentos de qualquer gênero eram vinculados a comissões e retribuições em dinheiro.
Verificou-se que um membro do estafe de Jango tinha um “bico” como “ministro-conselheiro de assuntos econômicos numa embaixada no exterior” emprego a que nunca dedicou um dia de trabalho, mas adicionava mais de 15 milhões de cruzeiros ao seu salário anual de oito milhões e meio. O tráfico de influência era um fato. Um dos deputados do Partido Trabalhista, de Goulart, estava fazendo uma fortuna acrescentando 1.295 funcionários à sua fôlha de pagamento em troca de uma fatia dos vencimentos dêles.

Outro negociozinho confortável, explorado por um “do peito” do Govêrno, era conseguir bons empregos públicos para quem pudesse pagar-lhe uma taxa de um milhão e meio de cruzeiros. Um governador de Estado estava fazendo fortuna com contrabando; outro recebeu uma verba de seis bilhões e meio de cruzeiros para a construção de rodovias e calmamente embolsou o total.

Além de tôdas essas velhacarias de alto calibre, que podiam ser documentadas, inúmeros milhões de cruzeiros desapareciam sem deixar rastro no poço sem fundo da corrupção que campeava.



A Nação que se salvou a si mesma - PARTE III 


“A Nação que se salvou a si mesma”, de Clarence W. Hall, publicada na edição de novembro de 1964 da revista Seleções do Reader’s Digest.  
 
Por ser um artigo contemporâneo à Revolução de 1964, é uma narrativa bastante preciosa sobre o período que o País vivia.
[Percebe-se facilmente que mesmo sendo um texto escrito há 50 anos, narrando fatos daquela época, se adapta perfeitamente aos dias de hoje.
Quando aborda a corrupção desenfreada que havia no Brasil naquela época, se esquecermos a data da matéria, podemos pensar que estamos lendo um jornal dos dias atuais em que a "petralhada" a "cumpanherada" tem um único objetivo:
ROUBAR O MÁXIMO QUE FOR POSSÍVEL, NO MENOR  TEMPO  - como aves da rapina que são percebem que a oportunidade do "ENRIQUEÇA DEPRESSA" está chegando ao fim.]
 

OS LÍDERES DA classe média brasileira, armados com as montanhas de provas reunidas por seus investigadores, puseram-se então a agir. Sua missão: despertar seus tolerantes e cordiais patrícios, cujas condescendentes atitudes políticas eram resumidas muito freqüentemente na frase: “Está certo, êle é comunista, mas é uma boa praça!”


Os anticomunistas organizaram dossiês sôbre os chefes comunistas e seus colaboradores, dentro e fora do Govêrno, e distribuíram-nos largamente entre os líderes da resistência e os jornais. Êles visavam principalmente à crescente classe assalariada do país, a grande sofredora com a galopante inflação. Diretores de organizações comerciais e de fábricas convocavam reuniões regulares dos empregados, discutiam o significado oculto dos acontecimentos correntes, davam-lhes panfletos. Um livrinho barato, escrito por André Gama, dono de uma pequena fábrica de Petrópolis, e intitulado “Nossos Males e Seus Remédios”, teve uma circulação superior a um milhão de exemplares. Outro documento, escrito em linguagem simples, explicava como o sistema democrático funciona melhor do que outro qualquer, detalhava as tragédias da Hungria e de Cuba, e avisava: “Está acontecendo aqui!”



A distribuição dêsse e de outros materiais anticomunistas a princípio foi clandestina, depois tornou-se ostensiva. Os lojistas punham os folhetos denunciadores dentro de embrulhos e sacos de compras. Os ascensoristas davam-nos a passageiros que se queixavam da situação. Os barbeiros punham-nos dentro das revistas que eram lidas pelos fregueses que esperavam a vez. Um tipógrafo do Rio imprimiu secretamente 50.000 cartazes com caricaturas de Fidel Castro fustigando seu povo e a legenda: “Você quer viver sob a chibata dos comunistas?” A noite mandou vários ajudantes colocá-los em lugares públicos.

 

Os contra-revolucionários da classe média do Brasil pagavam pelo tempo no rádio e na televisão para divulgarem suas revelações. Quando a pressão do Govêrno fechou muitas estações de rádio e TV a todos menos aos mais radicais propagandistas, êles formaram sua própria “Rêde da Democracia” de mais de 100 estações em todo o Brasil. De outubro de 1963 até à revolução, as estações dessa rêde, organizada por João Calmon, diretor dos Diários Associados, iam para o ar na mesma hora em que o esquerdista Leonel Brizola arengava ao público. (Detido após a revolução e perguntado por que falhara o golpe vermelho, o General Assis Brasil, o esquerdista Chefe do Gabinete Militar do Presidente Goulart, deixou escapar: “Aquela desgraçada rêde de rádio e TV, assustando a opinião pública e provocando todas aquelas marchas de mulheres!”)


Os investigadores não descobriram apenas o que tinha acontecido, mas também o que estava para acontecer. Adotando as táticas dos próprios vermelhos, trabalhadores infiltravam-se nos altos conselhos dos sindicatos trabalhistas, fingindo-se comunistas, mas denunciando regularmente as maquinações vermelhas. Repetidas vêzes os planos dos vermelhos foram desmantelados, quando oradores e escritores da oposição iam para a imprensa e para o rádio revelar o que se preparava. Certa feita, os vermelhos estavam discretamente reunindo 5.000 pessoas para uma viagem a Brasília, numa “peregrinação espontânea” para influenciar a ação do Congresso. Quando os anticomunistas denunciaram a manobra dias antes, a “peregrinação” foi cancelada.


Uma Imprensa Destemida


OS PRINCIPAIS jornais brasileiros cedo entraram na luta. Comunicando regularmente as descobertas dos grupos de resistência e mantendo por conta própria cerrada fuzilaria editorial, destacavam-se os dois mais influentes jornais do Rio, O Globo e o Jornal do Brasil, bem como O Estado de São Paulo, da capital paulista, e o Correio do Povo, o mais antigo e mais respeitado jornal independente do Rio Grande do Sul.


Por seu destemor, os jornais brasileiros pagaram pesado preço em matéria de perseguição pelo Govêrno. Quando João Calmon publicou uma revelação comprometedora de quanta inverdade havia no pretenso interêsse de Leonel Brizola pela reforma agrária — sendo o próprio Brizola interessado em terras — êste tentou silenciá-lo mandando executar a hipoteca de empréstimos feitos aos Diários Associados pelo Banco do Brasil. Para manter a cadeia funcionando, anunciantes brasileiros prontamente pagaram adiantadamente seus contratos de 12 meses, adiando assim o fechamento.


Por publicar uma narração corajosa e reveladora do que viu durante uma visita que fez à Russia em 1963, o dono do Jornal do Brasil, M. F. do Nascimento Brito, viu seu jornal incorrer nas iras do Govêrno, que mais tarde, no dia 31 de março, ordenou a sua invasão por elementos do Corpo de Fuzileiros Navais.


Feminina e Formidável


MAS É ÀS mulheres do Brasil que cabe uma enorme parcela de crédito pela aniquilação da planejada conquista vermelha. Em escala sem paralelo, na história da América Latina, donas de casa lançaram-se à luta aos milhares, fazendo mais para alertar o país para o perigo do que outra força qualquer. “Sem as mulheres”, diz um líder de classe média da contra-revolução, “nunca teríamos podido sustar a tempo o mergulho do Brasil em direção à ditadura. Muitos dos nossos grupos de homens tinham de trabalhar disfarçadamente, mas as mulheres trabalharam às claras... e como trabalharam!”


A vela de ignição e a fôrça propulsora do levante das mulheres foi uma minúscula amostra de 45 quilos de energia feminina: Dona Amélia Molina Bastos, do Rio, ex-professôra primária, de 59 anos de idade, espôsa de um general reformado do corpo médico do Exército. Ela ouviu uma noite, em meados de 1962, seu marido e alguns líderes anticomunistas discutirem desanimados a ameaça que se agigantava. “Sùbitamente concluí que a política se havia tornado demasiado importante para ser deixada inteiramente nas mãos dos homens.”


No dia seguinte — 12 de junho —, Dona Amélia convidou a sua casa várias amigas e vizinhas. Com fogo nos olhos, ela perguntou: — Quem tem mais a perder com o que está acontecendo no nosso país do que nós mulheres? Quem está pagando as contas do armazém cada vez mais altas por causa da inflação? Quem está vendo, sem nada poder fazer, as nossas economias, cuidadosamente acumuladas, destinadas à educação de um filho ou filha, minguarem ao ponto de não darem sequer para comprar uma roupinha de verão para criança? E de quem será o futuro que desaparecerá senão o de nossos filhos e netos, se a política radical do Govêrno levar a nossa pátria ao domínio comunista?



Naquela mesma noite foi formado o primeiro centro da CAMDE (Campanha da Mulher Pela Democracia). E no dia seguinte, com 30 donas de casa mobilizadas, Dona Amélia foi aos jornais do Rio pedir atenção para seu protesto contra a nomeação por Goulart de seu avermelhado primeiro-ministro. Em O Globo, disseram-lhe: “O protesto de 30 mulheres não quer dizer muita coisa. Mas se a senhora puder marchar até aqui com 500 mulheres...” Pegando no telefone, Dona Amélia e seu nascente grupo reuniram as 500 mulheres, e dois dias depois se apresentaram a Roberto Marinho, diretor do jornal e o fato mereceu manchetes de primeira página. O protesto não sustou a nomeação, mas estabeleceu o poder das mulheres para influenciar a opinião pública.

 

A “Corrente de Simpatia”


QUANDO a sala de estar de Dona Amélia não mais pôde acomodar tôdas as donas de casa ansiosas por tomar parte na CAMDE, ela mudou suas reuniões para salões paroquiais de igrejas, formou dezenas de outras pequenas “células” em casas de família. Cada mulher que comparecia era encarregada de organizar outra reunião, com 10 de suas amigas; por sua vez estas tinham de recrutar outras. Para financiar suas atividades, elas economizavam nos orçamentos domésticos e pediam ajuda às amigas com posses.  

As mulheres da CAMDE insistiam em ação. Formavam comícios de protesto público; ficavam horas diàriamente ao telefone; escreviam cartas (certa vez, mais de 30.000) a congressistas para “assumirem posição firme em prol da democracia”. Pressionavam firmas comerciais para que tirassem sua publicidade do jornal Última Hora, punham anúncios em jornais avisando sobre suas reuniões, apareciam em comícios públicos para discutir com esquerdistas e desafiar os agitadores, distribuíam milhões de circulares e livretos preparados pelas organizações democráticas denunciando o namoro do Governo com os vermelhos.


Além disso, produziam literatura própria, especialmente orientada no sentido das preocupações femininas; mais de 200.000 exemplares só de um trabalho, descrevendo o que as mulheres podiam fazer, foram distribuídos pela CAMDE às suas sócias, cada uma devendo tirar cinco cópias e mandá-las a possíveis candidatas a sócias. Quando o diretor esquerdista dos Correios e Telégrafos vedou a distribuição de mensagens e publicações da CAMDE, Dona Amelinha organizou uma fôrça de “senhoras estafetas” para entregar o material de automóvel, convencendo pilotos de companhias de aviação brasileiras a transportá-lo para lugares distantes.


As donas de casa da classe média não se limitaram a seu próprio ambiente. Elas se concentraram, por exemplo, nas mulheres do sindicato dos estivadores, fortemente influenciado pelos vermelhos. “Vocês devem convencer seus maridos!”, diziam àquelas mulheres. Muitas o conseguiram, e não poucos foram os estivadores assim convertidos à democracia, comunicando depois às suas espôsas: “Não somos mais comunistas!”


O Murmúrio das Orações


MESMO NAS favelas, ponto especial de ataque da propaganda vermelha, formavam-se unidades da CAMDE. Uma delas, numa favela na Zona Sul do Rio, denominada Rocinha, nasceu do pedido de socorro de uma lavadeira a Dona Amelinha. — Este lugar aqui — disse a mulher — está cheio de comunistas. Eles dizem que querem ensinar a gente a ler e escrever, e trazem divertimentos para nós. Mas os únicos livros que usam são cartilhas cubanas, as  únicas fitas que passam são de guerrilheiros cubanos.


Imediatamente formou-se uma célula na Rocinha, centralizada na casa dessa lavadeira; organizaram-se classes de alfabetização, forneceram-se livros. E dali a pouco as mulheres da Rocinha estavam em condições de discutir com os vermelhos em seu próprio nível, dizendo aos candidatos comunistas ao Congresso e a propagandistas da União Nacional dos Estudantes: “Vão embora. Sabemos o que é que vocês estão querendo!”


Os vermelhos partiram em busca de prêsas mais fáceis.


A difusão das organizações femininas foi espetacular. Algumas tornaram-se filiais da CAMDE; outras, como a LIMDE (Liga das Mulheres Democráticas) em Belo Horizonte, possuíam identidade própria. As mulheres de Belo Horizonte, no Estado brasileiro talvez mais ferrenhamente anticomunista, eram a coragem personificada. Quando o Congresso das Uniões dos Trabalhadores da América Latina (CUTAL), dirigido pelos vermelhos, anunciou um comício a ser efetuado em Belo Horizonte, tendo como oradores principais dois organizadores comunistas vindos da Rússia, as líderes da LIMDE mandaram um recado curto ao CUTAL: “Favor ficar cientes que, quando chegar o avião trazendo êsses homens, centenas de mulheres estarão deitadas na pista!” Elas cumpriram a palavra, e o avião nunca pousou na capital mineira; em vez disso, prosseguiu para Brasília.


As mesmas mulheres realizaram demonstração igualmente eficaz em fevereiro último. Um “Congresso de Reforma Agrária” devia reunir-se em Belo Horizonte, tendo como orador principal o cunhado de Goulart. Quando o Deputado Brizola chegou ao saguão, encontrou-o tão apinhado com 3.000 mulheres que não conseguiu fazer-se ouvir acima do ruído dos rosários e do murmúrio das preces pela libertação da pátria. Saindo, Brizola viu as ruas igualmente cheias de mulheres rezando até aonde a vista podia alcançar. O Deputado Brizola foi impelido para fora de Belo Horizonte, levando no bôlso, sem o pronunciar, um dos mais violentos discursos da sua carreira. Em 12 meses, grupos assim atuaram em tôdas as cidades grandes, de Belém a Pôrto Alegre.

Ler PARTE IV e CONCLUSÃO, clique aqui