A Nação que se salvou a si mesma - PARTE II (do comunismo e de um presidente que era o maior corrupto e o maior latifundiário)
“A Nação que se salvou a si mesma”, de Clarence
W. Hall, publicada na edição de novembro de 1964 da revista Seleções do
Reader’s Digest.
Por ser um
artigo contemporâneo à Revolução de 1964, é uma narrativa bastante preciosa
sobre o período que o País vivia.
[Percebe-se
facilmente que mesmo sendo um texto escrito há 50 anos, narrando fatos
daquela época, se adapta perfeitamente aos dias de hoje.
Quando aborda a corrupção desenfreada que havia no Brasil naquela época, se esquecermos a data da matéria, podemos pensar que estamos lendo um jornal dos dias atuais em que a "petralhada" a "cumpanherada" tem um único objetivo:
ROUBAR
O MÁXIMO QUE FOR POSSÍVEL, NO MENOR TEMPO - como aves da rapina que
são percebem que a oportunidade do "ENRIQUEÇA DEPRESSA" está chegando ao
fim.]
Guarnecidos de Vermelhos
OS INVESTIGADORES não tardaram a descobrir um cavalo-de-tróia vermelho,
de dimensões bem mais assustadoras do que alguém imaginava.Muitos
comunistas disfarçados, “plantados” em ministérios e órgãos
governamentais anos antes, tinham conseguido alçar-se até postos-chaves
na administração federal. A maioria dos ministérios e repartições
públicas estavam guarnecidos de comunistas e simpatizantes a serviço das
metas de Moscou. O chefe comunista Prestes apregoava em público:
“Dezessete dos nossos estão no Congresso” — todos eleitos em chapas de
outros partidos. Além disso, dezenas de deputados simpatizantes faziam
acordos com os comunistas, apoiando- os em muitas questões, sempre
atacando o “imperialismo dos Estados Unidos” —mas jamais criticando a
Rússia Soviética.
Comunistas não eram os ministros, mas os consultores de alto nível, e às
vêzes apenas os subordinados ao ministro, ou os redatores de relatórios
em que se baseavam altas decisões. Alguns alardeavam abertamente: “Não
nos interessa quem faça os discursos, desde que sejamos nós que os
escrevamos!” O Ministério de Minas e Energia era dominado completamente
por um grupo assim. O Diretor-Geral dos Correios e Telégrafos, Dagoberto
Rodrigues, oficial do Exército, conhecido como esquerdista, liberou
certa vez grande quantidade de material de propaganda soviética e cubana
apreendida pelo Govêrno Federal com a explicação vaga: “Examinei êste
material e concluí que não é subversivo.”
Nos próprios sindicatos, o contrôle comunista era esmagador.
Repetidamente o Govêrno intervinha em eleições sindicais a fim de
garantir a escolha de candidatos comunistas, especialmente em indústrias
que podiam prontamente paralisar o pais.
Atenção Especial à Educação
O MAIS sabidamente infiltrado era o Ministério da Educação. Um dos mais
íntimos conselheiros de Goulart era Darcy Ribeiro, que, como Ministro da
Educação, serviu-se de cartilhas para ensinar a milhões de analfabetos o
ódio de classes marxista.
Especialmente mimada pelo Ministério da Educação era a UNE (União
Nacional dos Estudantes), cuja diretoria era completamente dominada por
vermelhos e cujos 100.000 sócios constituem a maior organização
estudantil nacional da América Latina. Durante anos um subsídio anual do
Govêrno, de cêrca de 150 milhões de cruzeiros, era entregue aos
diretores da UNE — sem que tivessem de prestar contas. Assim garantidos,
êles se dedicavam integralmente à agitação política entre os
estudantes. Parte dêsse subsídio era usada para financiar excursões à
Cuba Vermelha e visitas a grupos irmãos de estudantes comunistas em
outros países da América Latina.
Fortalecida ainda mais por substanciais fundos de guerra oriundos de
Moscou, a UNE publicava panfletos inflamados e um jornal semanal
marxista virulentamente antiamericano. Fingindo-se empenhado em combater
o analfabetismo, um grupo da UNE passou dois meses distribuindo
material de leitura, no qual se incluía o manual de guerrilhas do
castrista “Che” Guevara — impresso em português por comunistas
brasileiros da linha vermelha chinesa. Líderes da UNE especializavam-se
em fomentar greves escolares e comícios estudantis, demonstrações
públicas e distúrbios de rua.
Engenheiros do Caos
A INFILTRAÇÃO, constataram os investigadores, fôra-se tornando maior e
cada, vez menos oculta a cada mês que passava. Suficientes para fazerem
soar campainhas de alarma foram as nomeações de certos homens feitas
logo no início do Govêrno Goulart, como Evandro Lins e Silva, eminente
advogado, há muito defensor de causas comunistas, para Procurador-Geral
da República; e Professor Hermes Lima, um admirador de Fidel Castro,
para Primeiro- Ministro. (Ambos foram posteriormente nomeados para o
Supremo Tribunal Federal.) O principal entre os mais veementes
defensores de medidas esquerdizantes era Abelardo Jurema, Ministro da
Justiça de Goulart. E o secretário de imprensa do Presidente era Raul
Ryff, de ligações notórias com o Partido Comunista havia mais de 30
anos.
O principal porta-voz do regime Goulart era Leonel Brizola, cunhado de
Jango, Governador do Estado do Rio Grande do Sul e depois Deputado pelo
Estado da Guanabara. Ultranacionalista, odiando os Estados Unidos,
Brizola era classificado como “um homem temeràriamente mais radical do
que o próprio chefe vermelho, Luiz Carlos Prestes”.
Por tôda a parte havia “técnicos de conflito”, comunistas do caos.
Adestrados em escolas de subversão atrás da Cortina de Ferro, eram
peritos em criar o caos, para depois promover agitações em prol das
“reformas”, levar o Govêrno a fazer grandes promessas que nunca poderia
cumprir, e, em seguida, aproveitar o desespêro resultante para gritar:
“Revolução!” O número dêsses técnicos não era grande — não havia mais de
800, tendo uns 2.000 adeptos em órgãos do Govêrno. Diz o Dr. Glycon de
Paiva, do Conselho Nacional de Economia: “É tática comunista clássica
darem a impressão de que são muitos. Na verdade, só uns poucos devotados
são necessários para levar a efeito a derrubada de um país. Os povos
livres cometem o êrro de não darem importância a qualquer fôrça sem
efetivos consideráveis. Nós aprendemos pelo processo difícil.”
Quase diariamente vinham à luz as mais espantosas provas de que uma
revolução vermelha estava em processo. No empobrecido Nordeste, onde se
justificava a preocupação pelas flagrantes injustiças praticadas por
abastados proprietários rurais contra camponeses famintos, “barbudos” de
Castro perambulavam pelo campo suscitando a revolta. O transporte para
instrutores cubanos em guerra de guerrilhas, assim como para centenas de
jovens brasileiros que iam a Cuba fazer cursos especiais de subversão
de 20 dias, era assegurado por aviões diplomáticos em vôos regulares de
ida e volta para Havana. Irradiações da China Vermelha, em português,
ficavam no ar quase oito horas por dia, conclamando os camponeses a se
sublevarem contra os proprietários das terras.
Típico da eficiência dos investigadores democráticos foi a descoberta
que fizeram, em setembro de 1963, de um grande carregamento de armas que
se encontrava a caminho do Brasil, procedente da Europa Oriental.
Alertado, o Exército Brasileiro enviou uma tropa ao navio e conseguiu
confiscar toneladas de armas portáteis, munições, metralhadoras,
equipamento de comunicações de campanha e montões de propaganda vermelha
em português.
O Método “Enriqueça Depressa”
AS CONTÍNUAS investigações dos peritos de informação do IPES revelaram
mais do que subversão. A corrupção generalizada — bem acima do comumente
aceito como parte da vida política da América Latina — estendia-se do
palácio presidencial para baixo. No momento em que Goulart e seus
extremistas de esquerda atribuíam tôdas as dificuldades do Brasil aos
“exploradores e sanguessugas norte-americanos”, havia gente no Govêrno
metendo as mãos no dinheiro público com a maior sem-cerimônia. Estava
claro que qualquer auxílio a regiões empobrecidas, inclusive
contribuições da Aliança Para o Progresso, tinham de transpor uma pesada
pista de obstáculos de mãos ávidas e dedos ágeis.
Com uma renda declarada de menos de 50 milhões de cruzeiros em 1963,
Goulart, por exemplo — conforme documentos apreendidos pelo Conselho
Nacional de Segurança depois que êle fugiu para o exílio — gastou 236
milhões de cruzeiros somente em suas fazendas de Mato Grosso. Enquanto
Goulart insistia no confisco das propriedades dos latifundiários e na
distribuição da terra aos camponeses, os registros de imóveis demonstram
que êle rapidamente somava imensas propriedades às que já tinha.
Só
depois que Jango fugiu pôde o Brasil medir a sinceridade dêle em matéria
de partilha de terras. Proprietário de terras apenas em São Borja,
quando iniciou sua vida pública, ao abandonar o país em abril passado
Goulart era o maior latifundiário do Brasil, possuindo em seu nome mais
de 7.700 quilômetros quadrados de terras, uma área quatro vêzes e meia
superior à do Estado da Guanabara.
E havia os que compartilhavam as oportunidades de ficarem ricos
depressa. Indiscrições sôbre uma iminente mudança na política oficial,
como sôbre taxas de câmbio, davam milhões a favoritos palacianos.
Empreendimentos de qualquer gênero eram vinculados a comissões e
retribuições em dinheiro. Verificou-se que um membro do estafe de Jango tinha um “bico” como
“ministro-conselheiro de assuntos econômicos numa embaixada no exterior”
— emprego a que nunca dedicou um dia de trabalho, mas adicionava mais
de 15 milhões de cruzeiros ao seu salário anual de oito milhões e meio. O
tráfico de influência era um fato. Um dos deputados do Partido
Trabalhista, de Goulart, estava fazendo uma fortuna acrescentando 1.295
funcionários à sua fôlha de pagamento em troca de uma fatia dos
vencimentos dêles.
Outro negociozinho confortável, explorado por um “do peito” do Govêrno,
era conseguir bons empregos públicos para quem pudesse pagar-lhe uma
taxa de um milhão e meio de cruzeiros. Um governador de Estado estava
fazendo fortuna com contrabando; outro recebeu uma verba de seis bilhões
e meio de cruzeiros para a construção de rodovias e calmamente embolsou
o total.
Além de tôdas essas velhacarias de alto calibre, que podiam ser
documentadas, inúmeros milhões de cruzeiros desapareciam sem deixar
rastro no poço sem fundo da corrupção que campeava.
A Nação que se salvou a si mesma - PARTE III
“A Nação que se salvou a si mesma”, de Clarence
W. Hall, publicada na edição de novembro de 1964 da revista Seleções do
Reader’s Digest.
Por ser um
artigo contemporâneo à Revolução de 1964, é uma narrativa bastante preciosa
sobre o período que o País vivia.
[Percebe-se
facilmente que mesmo sendo um texto escrito há 50 anos, narrando fatos
daquela época, se adapta perfeitamente aos dias de hoje.
Quando aborda a corrupção desenfreada que havia no Brasil naquela época, se esquecermos a data da matéria, podemos pensar que estamos lendo um jornal dos dias atuais em que a "petralhada" a "cumpanherada" tem um único objetivo:
ROUBAR
O MÁXIMO QUE FOR POSSÍVEL, NO MENOR TEMPO - como aves da rapina que
são percebem que a oportunidade do "ENRIQUEÇA DEPRESSA" está chegando ao
fim.]
OS LÍDERES DA classe média brasileira, armados com as
montanhas de provas reunidas por seus investigadores, puseram-se então a agir.
Sua missão: despertar seus tolerantes e cordiais patrícios, cujas
condescendentes atitudes políticas eram resumidas muito freqüentemente na
frase: “Está certo, êle é comunista, mas é uma boa praça!”
Os anticomunistas organizaram dossiês sôbre os chefes
comunistas e seus colaboradores, dentro e fora do Govêrno, e distribuíram-nos
largamente entre os líderes da resistência e os jornais. Êles visavam
principalmente à crescente classe assalariada do país, a grande sofredora com a
galopante inflação. Diretores de organizações comerciais e de fábricas
convocavam reuniões regulares dos empregados, discutiam o significado oculto
dos acontecimentos correntes, davam-lhes panfletos. Um livrinho barato, escrito por André Gama, dono
de uma pequena fábrica de Petrópolis, e intitulado “Nossos Males e Seus
Remédios”, teve uma circulação superior a um milhão de exemplares. Outro documento,
escrito em linguagem simples, explicava como o sistema democrático funciona
melhor do que outro qualquer, detalhava as tragédias da Hungria e de Cuba, e
avisava: “Está acontecendo aqui!”
A distribuição dêsse e de outros materiais anticomunistas a
princípio foi clandestina, depois tornou-se ostensiva. Os lojistas punham os
folhetos denunciadores dentro de embrulhos e sacos de compras. Os ascensoristas
davam-nos a passageiros que se queixavam da situação. Os barbeiros punham-nos
dentro das revistas que eram lidas pelos fregueses que esperavam a vez. Um
tipógrafo do Rio imprimiu secretamente 50.000 cartazes com caricaturas de Fidel
Castro fustigando seu povo e a legenda: “Você quer viver sob a chibata dos
comunistas?” A noite mandou vários ajudantes colocá-los em lugares públicos.
Os contra-revolucionários da classe média do Brasil pagavam
pelo tempo no rádio e na televisão para divulgarem suas revelações. Quando a
pressão do Govêrno fechou muitas estações de rádio e TV a todos menos aos mais
radicais propagandistas, êles formaram sua própria “Rêde da Democracia” de mais
de 100 estações em todo o Brasil. De outubro de 1963 até à revolução, as
estações dessa rêde, organizada por João Calmon, diretor dos Diários
Associados, iam para o ar na mesma hora em que o esquerdista Leonel Brizola
arengava ao público. (Detido após a revolução e perguntado por que falhara o
golpe vermelho, o General Assis Brasil, o esquerdista Chefe do Gabinete Militar
do Presidente Goulart, deixou escapar: “Aquela desgraçada rêde de rádio e TV,
assustando a opinião pública e provocando todas aquelas marchas de mulheres!”)
Os investigadores não descobriram apenas o que tinha
acontecido, mas também o que estava para acontecer. Adotando as táticas dos
próprios vermelhos, trabalhadores infiltravam-se nos altos conselhos dos
sindicatos trabalhistas, fingindo-se comunistas, mas denunciando regularmente
as maquinações vermelhas. Repetidas vêzes os planos dos vermelhos foram
desmantelados, quando oradores e escritores da oposição iam para a imprensa e
para o rádio revelar o que se preparava. Certa feita, os vermelhos estavam
discretamente reunindo 5.000 pessoas para uma viagem a Brasília, numa
“peregrinação espontânea” para influenciar a ação do Congresso. Quando os
anticomunistas denunciaram a manobra dias antes, a “peregrinação” foi
cancelada.
Uma Imprensa Destemida
OS PRINCIPAIS jornais brasileiros cedo entraram na luta.
Comunicando regularmente as descobertas dos grupos de resistência e mantendo
por conta própria cerrada fuzilaria editorial, destacavam-se os dois mais
influentes jornais do Rio, O Globo e o Jornal do Brasil, bem como O Estado de
São Paulo, da capital paulista, e o Correio do Povo, o mais antigo e mais
respeitado jornal independente do Rio Grande do Sul.
Por seu destemor, os jornais brasileiros pagaram pesado
preço em matéria de perseguição pelo Govêrno. Quando João Calmon publicou uma
revelação comprometedora de quanta inverdade havia no pretenso interêsse de
Leonel Brizola pela reforma agrária — sendo o próprio Brizola interessado em
terras — êste tentou silenciá-lo mandando executar a hipoteca de empréstimos
feitos aos Diários Associados pelo Banco do Brasil. Para manter a cadeia
funcionando, anunciantes brasileiros prontamente pagaram adiantadamente seus
contratos de 12 meses, adiando assim o fechamento.
Por publicar uma narração corajosa e reveladora do que viu
durante uma visita que fez à Russia em 1963, o dono do Jornal do Brasil, M. F.
do Nascimento Brito, viu seu jornal incorrer nas iras do Govêrno, que mais
tarde, no dia 31 de março, ordenou a sua invasão por elementos do Corpo de
Fuzileiros Navais.
Feminina e Formidável
MAS É ÀS mulheres do Brasil que cabe uma enorme parcela de
crédito pela aniquilação da planejada conquista vermelha. Em escala sem paralelo,
na história da América Latina, donas de casa lançaram-se à luta aos milhares,
fazendo mais para alertar o país para o perigo do que outra força qualquer.
“Sem as mulheres”, diz um líder de classe média da contra-revolução, “nunca
teríamos podido sustar a tempo o mergulho do Brasil em direção à ditadura.
Muitos dos nossos grupos de homens tinham de trabalhar disfarçadamente, mas as
mulheres trabalharam às claras... e como trabalharam!”
A vela de ignição e a fôrça propulsora do levante das
mulheres foi uma minúscula amostra de 45 quilos de energia feminina: Dona
Amélia Molina Bastos, do Rio, ex-professôra primária, de 59 anos de idade,
espôsa de um general reformado do corpo médico do Exército. Ela ouviu uma noite, em meados de 1962, seu marido e alguns
líderes anticomunistas discutirem desanimados a ameaça que se agigantava. “Sùbitamente
concluí que a política se havia tornado demasiado importante para ser deixada
inteiramente nas mãos dos homens.”
No dia seguinte — 12 de junho —, Dona Amélia convidou a sua
casa várias amigas e vizinhas. Com fogo nos olhos, ela perguntou: — Quem tem mais a perder com o que está acontecendo no nosso
país do que nós mulheres? Quem está pagando as contas do armazém cada vez mais
altas por causa da inflação? Quem está vendo, sem nada poder fazer, as nossas
economias, cuidadosamente acumuladas, destinadas à educação de um filho ou
filha, minguarem ao ponto de não darem sequer para comprar uma roupinha de
verão para criança? E de quem será o futuro que desaparecerá senão o de nossos
filhos e netos, se a política radical do Govêrno levar a nossa pátria ao
domínio comunista?
Naquela mesma noite foi formado o primeiro centro da CAMDE
(Campanha da Mulher Pela Democracia). E no dia seguinte, com 30 donas de casa
mobilizadas, Dona Amélia foi aos jornais do Rio pedir atenção para seu protesto
contra a nomeação por Goulart de seu avermelhado primeiro-ministro. Em O Globo,
disseram-lhe: “O protesto de 30 mulheres não quer dizer muita coisa. Mas se a senhora
puder marchar até aqui com 500 mulheres...” Pegando no telefone, Dona Amélia e seu nascente grupo
reuniram as 500 mulheres, e dois dias depois se apresentaram a Roberto Marinho,
diretor do jornal — e o fato mereceu manchetes de primeira página. O protesto
não sustou a nomeação, mas estabeleceu o poder das mulheres para influenciar a
opinião pública.
A “Corrente de Simpatia”
QUANDO a sala de estar de Dona Amélia não mais pôde acomodar
tôdas as donas de casa ansiosas por tomar parte na CAMDE, ela mudou suas
reuniões para salões paroquiais de igrejas, formou dezenas de outras pequenas
“células” em casas de família. Cada mulher que comparecia era encarregada de
organizar outra reunião, com 10 de suas amigas; por sua vez estas tinham de
recrutar outras. Para financiar suas atividades, elas economizavam nos
orçamentos domésticos e pediam ajuda às amigas com posses.
As mulheres da CAMDE
insistiam em ação. Formavam comícios de protesto público; ficavam horas
diàriamente ao telefone; escreviam cartas (certa vez, mais de 30.000) a
congressistas para “assumirem posição firme em prol da democracia”.
Pressionavam firmas comerciais para que tirassem sua publicidade do jornal
Última Hora, punham anúncios em jornais avisando sobre suas reuniões, apareciam
em comícios públicos para discutir com esquerdistas e desafiar os agitadores,
distribuíam milhões de circulares e livretos preparados pelas organizações
democráticas denunciando o namoro do Governo com os vermelhos.
Além disso, produziam literatura própria, especialmente
orientada no sentido das preocupações femininas; mais de 200.000 exemplares só
de um trabalho, descrevendo o que as mulheres podiam fazer, foram distribuídos
pela CAMDE às suas sócias, cada uma devendo tirar cinco cópias e mandá-las a
possíveis candidatas a sócias. Quando o diretor esquerdista dos Correios e Telégrafos vedou
a distribuição de mensagens e publicações da CAMDE, Dona Amelinha organizou uma
fôrça de “senhoras estafetas” para entregar o material de automóvel,
convencendo pilotos de companhias de aviação brasileiras a transportá-lo para
lugares distantes.
As donas de casa da classe média não se limitaram a seu
próprio ambiente. Elas se concentraram, por exemplo, nas mulheres do sindicato
dos estivadores, fortemente influenciado pelos vermelhos. “Vocês devem
convencer seus maridos!”, diziam àquelas mulheres. Muitas o conseguiram, e não
poucos foram os estivadores assim convertidos à democracia, comunicando depois
às suas espôsas: “Não somos mais comunistas!”
O Murmúrio das Orações
MESMO NAS favelas, ponto especial de ataque da propaganda
vermelha, formavam-se unidades da CAMDE. Uma delas, numa favela na Zona Sul do
Rio, denominada Rocinha, nasceu do pedido de socorro de uma lavadeira a Dona
Amelinha. — Este lugar aqui — disse a mulher — está cheio de
comunistas. Eles dizem que querem ensinar a gente a ler e escrever, e
trazem
divertimentos para nós. Mas os únicos livros que usam são cartilhas
cubanas, as únicas fitas que passam são de guerrilheiros cubanos.
Imediatamente formou-se uma célula na Rocinha, centralizada
na casa dessa lavadeira; organizaram-se classes de alfabetização, forneceram-se
livros. E dali a pouco as mulheres da Rocinha estavam em condições de discutir
com os vermelhos em seu próprio nível, dizendo aos candidatos comunistas ao
Congresso e a propagandistas da União Nacional dos Estudantes: “Vão embora.
Sabemos o que é que vocês estão querendo!”
Os vermelhos partiram em busca de prêsas mais fáceis.
A difusão das organizações femininas foi espetacular.
Algumas tornaram-se filiais da CAMDE; outras, como a LIMDE (Liga das Mulheres
Democráticas) em Belo Horizonte, possuíam identidade própria. As mulheres de Belo Horizonte, no Estado brasileiro talvez
mais ferrenhamente anticomunista, eram a coragem personificada. Quando o
Congresso das Uniões dos Trabalhadores da América Latina (CUTAL), dirigido
pelos vermelhos, anunciou um comício a ser efetuado em Belo Horizonte, tendo
como oradores principais dois organizadores comunistas vindos da Rússia, as
líderes da LIMDE mandaram um recado curto ao CUTAL: “Favor ficar cientes que,
quando chegar o avião trazendo êsses homens, centenas de mulheres estarão
deitadas na pista!” Elas cumpriram a palavra, e o avião nunca pousou na capital
mineira; em vez disso, prosseguiu para Brasília.
As mesmas mulheres realizaram demonstração igualmente eficaz
em fevereiro último. Um “Congresso de Reforma Agrária” devia reunir-se em Belo
Horizonte, tendo como orador principal o cunhado de Goulart. Quando o Deputado
Brizola chegou ao saguão, encontrou-o tão apinhado com 3.000 mulheres que não
conseguiu fazer-se ouvir acima do ruído dos rosários e do murmúrio das preces
pela libertação da pátria. Saindo, Brizola viu as ruas igualmente cheias de
mulheres rezando até aonde a vista podia alcançar. O Deputado Brizola foi
impelido para fora de Belo Horizonte, levando no bôlso, sem o pronunciar, um
dos mais violentos discursos da sua carreira. Em 12 meses, grupos assim atuaram em tôdas as cidades
grandes, de Belém a Pôrto Alegre.
Ler PARTE IV e CONCLUSÃO, clique aqui