Andrea Jubé
Amigo de Bolsonaro
desde a juventude, Alberto Fraga é um dos integrantes do núcleo mais restrito do entorno
presidencial e é cotado para entrar no governo
Em tom
saudosista, ele sacou o aparelho do bolso do paletó e
exibiu a tela do celular com as imagens do grupo de rapazes bronzeados, na
faixa dos vinte e poucos anos, com o mar da Urca ao fundo, calções de banho
vintage e desafiou: “ache o presidente aqui na foto”.
Não era
difícil: o rapaz
esguio de cabelos muito lisos e sorriso largo na extremidade direita era o
futuro presidente da República, companheiro de juventude do ex-deputado e
ex-secretário de Transportes Alberto Fraga. Jair Bolsonaro, 64 anos, e
Alberto Fraga, 63, foram contemporâneos na Escola de Educação Física do
Exército (Esefex) que funciona até hoje no Forte de São João no Rio de Janeiro.
Naquela época, início dos anos 80, Bolsonaro participou de um dos episódios
mais dramáticos da vida do então tenente da Polícia Militar.
Num dia
de folga, Fraga caminhava com a família pela Rua Sá
Ferreira, em Copacabana, com o filho Diego no colo, quando foram assaltados.
Um deles - que depois Fraga identificaria como “Galo
Cego”, por causa da mancha no olho - apontou-lhe uma arma,
indiferente ao bebê de duas semanas que tinha nos braços. Os bandidos
fugiram, mas Fraga voltou nos dias seguintes ao local
do crime até reencontrar o bando e persegui-los até o esconderijo.
Depois Fraga pediu reforçou aos colegas da turma da Esefex para capturá-los. O
único dos 45 que se voluntariou, segundo Fraga, foi Bolsonaro.
Como ele
era militar do Exército, Fraga o dispensou, argumentando que era uma missão policial. Ao fim, Fraga acompanhado de soldados da Polícia Militar capturou os
agressores e os levou presos, até o “Galo Cego”.
Fraga rememora o episódio como uma das primeiras demonstrações de amizade de
Bolsonaro. Passados 38 anos, Fraga - mesmo
sem cargo no governo - é um dos integrantes do núcleo mais restrito do
entorno presidencial. Ele é um dos responsáveis pela indicação de Augusto Aras
para a Procuradoria Geral da República.
No
cenário de faroeste em que se transformou a política brasileira, Bolsonaro
cercou-se de amigos longevos para se aconselhar e reagir nas crises e traições.
Os integrantes desse núcleo o acompanham há mais de dez anos. Fraga é um dos
mais antigos. Outro companheiro de longa data é o ministro da
Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, que começou a trabalhar com ele há 16
anos. “Jorginho”, como é chamado pelo
presidente, deu continuidade a uma amizade iniciada pelo seu pai, o capitão do
Exército Jorge Francisco, morto em abril de 2018 e que foi por mais de 20 anos
chefe de gabinete de Bolsonaro.
O
ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, foi colega de turma de
Bolsonaro na década de 70 na Escola Preparatória de Cadetes do Exército. Foram
contemporâneos na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e conviveram na
Câmara, o general como assessor parlamentar do Exército. Hoje aceleram
juntos as Harley Davidson. Ainda de seu tempo na Câmara, Bolsonaro levou
para a chefia do gabinete presidencial o major reformado Pedro César Sousa,
e para sua assessoria especial o ex-assessor da Marinha Célio Faria Júnior.
Depois da
Esefex, Bolsonaro e Fraga se reencontraram na Câmara no começo dos anos 90. Anos depois, seriam
correligionários. Em 2003, durante a discussão do Estatuto do Desarmamento,
Fraga era pró-comercialização de armas e enfrentava a oposição interna de Renan
Calheiros no PMDB. Bolsonaro o levou para o PTB, de onde saíram em 2005 para
ingressar no PFL, hoje DEM. É o partido até hoje de Fraga, mas Bolsonaro trocou
a sigla naquele mesmo ano pelo PP, depois migrou para o PSC, depois para o PSL
e agora vigora a incerteza.
No ano
passado, dias antes do segundo turno, Bolsonaro apresentou Fraga aos
jornalistas como futuro ministro. “Anuncio aqui que
quem vai coordenar a bancada, lá do Planalto, vai ser o Fraga”, disse o
então candidato em 24 de outubro de 2018.
Exatamente
um ano depois, o nome de Fraga voltou à baila como aposta na anunciada reforma
ministerial. Há um mês, os desembargadores do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios (TJDFT) absolveram Fraga, à
unanimidade de votos, de uma condenação na primeira instância pelo suposto uso do cargo de
secretário de Transportes para obter vantagens indevidas. Fraga sempre
alegou que a acusação era infundada, mas a condenação constrangeria a
eventual nomeação. No início deste ano, o mesmo TJDFT também o absolveu de
uma condenação de posse ilegal de arma. [coisas que
só acontecem no Brasil: um oficial PM, coronel, último posto na Corporação, ser
preso por porte ilegal de armas - além do mais, Fraga na época também era
deputado federal, terceiro mandato consecutivo.
Enquanto isso, querem
armar os agentes do DETRAN-DF;
não conseguiram licença para
portar armas de fogo, usam TASER - e, covardemente, no final de semana, quatro
deles, dominaram um único homem - cidadão trabalhador, chegando em casa -
acharam pouco 4 contra 1 e ainda usaram as TASER.]
Em 2011, a Polícia Civil apreendeu um revólver e 289 munições de uso
restrito em um apartamento atribuído a ele. Mas os desembargadores alegaram
que uma resolução do Exército sobre posse de arma gera a absolvição. Agora, livre de embaraços legais - e a depender do arbítrio
presidencial - Fraga pode ser alçado do posto de amigo e conselheiro
para ministro, seguindo a trilha Jorge e Ramos.
Valor Econômico – Coluna de Andrea Jubé