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quinta-feira, 21 de novembro de 2019

‘Ele matou como se ela fosse bicho’, diz testemunha que viu moradora de rua ser morta em Niterói após pedir R$ 1

O Globo -  Rafael Nascimento de Souza

‘Ele matou como se ela fosse bicho’, diz testemunha que viu moradora de rua ser morta em Niterói após pedir R$ 1

Advogada de comerciante, que atirou na mulher, garante, no entanto, que ele reagiu a tentativa de assalto 

Era pouco depois das 5h20 quando a moradora em situação de rua Zilda Henrique dos Santos Leandro, de 31 anos, conhecida pelos populares como Neia, foi assassinada na rua Barão de Amazonas esquina com rua Marquês de Caxias, no Centro de Niterói. De acordo com a polícia, Neia abordou o comerciante Aderbal Ramos de Castro, que passava pelo local, pedindo R$ 1. Aderbal não gostou do pedido e matou a mulher. Uma testemunha que viu o crime contou que Castro “matou a mulher friamente e foi embora como se nada tivesse acontecido”. O crime aconteceu no último dia 16 e o suspeito pelo homicídio foi detido ontem. A advogada do comerciante, no entanto, garante que ele reagiu a uma tentativa de assalto.
Eu chegava para trabalhar e vi quando ela parou perto dele e pediu um dinheiro. Quando eu virei, eu só vi ele pegando a arma e disparando contra ela. Em seguida, foi embora como se nada tivesse acontecido. Ele matou a Neia com a maior naturalidade e como se ela fosse um bicho — conta o funcionário de uma lanchonete próxima, que chegava para trabalhar no momento da abordagem.
 

Imagem de câmera de segurança mostra o momento em que Aderbal saca a arma e atira em Zilda Leandro Foto: Reprodução
Autor dos disparos foi preso.
A advogada Daniela Lopes, que faz a defesa de Aderbal Ramos, afirmou, no entanto, que o cliente reagiu a um assalto e que ele tentava defender um dinheiro que estava dentro de uma bolsa que ele carregava. No entanto, a mulher não quis informar a quantidade levada na bolsa.
— Não importa se foi R$ 1 ou não. O que importa era o que estava dentro da bolsa. Sobre o valor que estava na bolsa, não importa. Ele apenas se defendeu de um assalto — garante a defensora.
A advogada tentou desqualificar as imagens que mostram o assassinato de Zilda Henrique dos Santos Leandro.
— As imagens não conseguem pegar todo o entorno da rua e não dá para ver quantas pessoas que estavam ali. O que sabemos é que varias pessoas chegaram até ele para tentar pedir dinheiro. Ele, que é comerciante do local, foi surpreendido por essas pessoas. Como ele já tinha sido vítima de assalto antes e a pessoa já chegou gritando com outras pessoas, ele receoso e de impulso reagiu para não ser assaltado.
' Perguntado sobre o porte de arma, a advogada disse que “Aderbal tem, sim, porte de arma ela é legalizada e tudo direito”. Entretanto, a Polícia Civil afirmou que o homem não tinha autorização para portar arma. 

Delegado diz que versão de assalto é 'fantasiosa'
— Apuramos que ela estava nas ruas pedindo esmola. Ela chegou perto dele, abordou, ele recusou e caminhou por mais alguns passos. Ela foi acompanhando a certa distância e insistindo nesse sentido. Ele de súbito sacou o revólver, deu dois tiros nela e seguiu seu caminho como nada tivesse acontecido — explicou o investigador.
— É fantasiosa a história que ela estava com outras pessoas para tentar assaltá-lo. É só ver as imagens — disse. 

A Polícia Civil afirma que o homem tinha autorização para ter uma arma de fogo em casa. No entanto, ele não poderia andar com ela nas ruas.
Ele tinha posse de armas, autorização para ter a arma dentro de casa e não sair. Nesse dia ele, mesmo, disse que decidiu levar a arma para o trabalho para se proteger, já que estava com medo de ser assaltado. Ele disse que tinha essa arma para se proteger — contou Bruno Reis.

Morador do local, de acordo com a Polícia Civil, o homem fazia o trajeto a pé todos os dias.
— Chegamos até ele com utilizando o sistema de câmeras da Prefeitura de Niterói. Refizemos o trajeto dele e conseguimos identificá-lo. Foi tudo muito próximo do local. Ele mora e trabalha ali naquele entorno do Centro — afirmou o delegado. 

Irmã diz que Zilda queria R$ 1 para comprar pão
Na manhã desta quarta-feira uma irmã de Zilda esteve na porta da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e aos prantos pediu justiça pela morte de Zilda. Segundo a mulher, Aderbal Ramos de Castro já havia agredido outros moradores de rua antes do assassinato de Zilda.
— Ela chegou nele para pedir R$ 1 para comprar um pão. Após isso, ele falou que era para a minha irmã sair porque se não ele daria um tiro na minha irmã. Ela disse que era para ele dar o tiro então. Ele foi pegou arma e atirou na minha irmã — disse a mulher, que pediu anonimato. 

A irmã de Zilda disse que ela vendia doces  na rua, em alguns momentos, para se sustentar.
— Por conta de R$ 1 ele tirou a vida da minha irmã. Eu não me conformo com o que esse homem fez com a minha irmã. Ele não pode ficar impune. Ele tem que pagar pelo que ele fez — disse a mulher. 

Socorro negado
Segundo Miguel Ângelo Pessanha, uma outra moradora em situação de rua, amiga de Neia, ainda tentou pedir ajuda aos motoristas que passavam pelo local. Entretanto, ninguém parou.

— A menina que andava com ela começou a gritar e pedir ajuda. Logo depois, o Corpo de Bombeiros chegou, mas acho que ela já estava morta. Não se mexia mais — lembrou o homem que trabalha no local há três meses. 

Funcionários de comércios próximo onde Neia foi morta contam que era comum a moradora em situação de rua passar pela região. Segundo essas pessoas, a vítima nunca abordava de forma violenta pedestres e motoristas.
— Eu escutei um tiro e foi muito alto. Quando olhamos na janela tinha uma menina caída e a outra ajudando. (A Neia) virou pra um lado e pro outro e ninguém parou (para ajudar). Quinze minutos depois o Samu chegou — disse o educador físico Paulo Menezes, 34, que mora na rua onde o crime aconteceu.
Menezes lembra que, geralmente, alguns moradores de rua ficam na região. No entanto, eles não abordam agressivamente os pedestres.
— Eles são super educados, não mexem com ninguém. Muitos nem contribuição pedem. Eu que, geralmente, desço e ajudo com alguma coisa — afirma.
(...)
 
Ponto de prostituição
Segundo quem mora e trabalha no entorno da Rua Barão do Amazonas, a noite o local é ponto de prostituição. Quem vive no local relata que é comum ter brigas e até pessoas esfaqueadas pedindo ajuda na localidade. Nesta manhã, alguns carros da PM e da Guarda Municipal de Niterói foram vistos passando na via.

Depois de ser alvejada, Neia ainda chegou a ser socorrida pelo Corpo de Bombeiros e levada para o Hospital estadual Azevedo Lima, no Fonseca, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. 
Em O Globo - MATÉRIA COMPLETA