Para voltar a crescer de maneira sustentada, ou seja, por vários anos seguidos, o Brasil não escapa de uma série de reformas estruturais. Pois esse é o problema, dizem. A cultura política brasileira não favorece esse tipo de reformas, ao contrário, bloqueia.
Isso é verdade em muitos momentos, mas a sociedade brasileira já passou por mudanças intensas, todas votadas e aprovadas no Congresso Nacional. E muitas das chamadas impopulares. Nos dois governos FHC (1995/2002), essa mudança foi vertiginosa. A gente nem acredita quando se faz a lista.Eis aqui:
- Lei e instituto da Responsabilidade Fiscal, com superávit primário
- Metas de inflação com BC autônomo na prática
- Câmbio flutuante
- Solução da dívida dos Estados e Municípios, que passam a ter orçamentos equilibrados
- Quebra do monopólio da Petrobras e lei das concessões de exploração de petróleo
- Fator previdenciário
- Lei da suspensão temporária do contrato de trabalho
- Reforma administrativa (agências reguladoras e profissionalização na gestão de estatais)
- Programa de saneamento do sistema financeiro privado
- Capitalização e profissionalização da gestão do BB e Caixa
- Fechamento e privatização de bancos estaduais
- Privatizações (mineração, siderurgia, transportes, energia elétrica, telecom)
Eis as principais:
- Conta corrente e poupança simplificadas
- Crédito consignado
- Alienação fiduciária para imóveis e patrimônio de afetação para empresas, regras que turbinaram o crédito imobiliário
- Contribuição previdenciária para funcionários aposentados
- Nova lei de falências
- Portabilidade do crédito
- Super-simples
- Lei das SAs
Ainda assim, a situação hoje é melhor do que a verificada logo após o impeachment de Collor. Verdade que a recessão atual é mais profunda e mais longa, mas a economia é maior, mais diversificada e, pois, com boa capacidade de recuperação. A inflação, embora ainda alta, é um problema muito menor. As contas externas voltam ao equilíbrio. Reparem aqui: em 1993, o Brasil exportou menos de US$ 40 bilhões. No ano passado, mesmo com a queda de preços das commodities, foram US$ 200 bilhões. Já batemos US$ 250 bilhões (2011). Ou seja, a capacidade de recuperação via comércio externo é superior.
E, finalmente, no pós-Collor não tínhamos moeda. Hoje, o Real está meio atacado, mas sobrevive, assim como os instrumentos de gestão econômica. Foram esquecidos, quebrados, mas estão aí. Na política, muita gente pergunta quem seria o FHC de Temer. Na verdade, não precisa. A tarefa hoje é restabelecer a confiança e retomar políticas econômicas conhecidas, o que é mais simples do que criar uma nova moeda e todas suas bases. Antes de FHC, Itamar teve três ministros da Fazenda em menos de um ano. Hoje, Henrique Meirelles assume o comando em condições melhores.
Resumo da ópera: não é verdade que as reformas são impossíveis. O Brasil tem jeito.
Mas vai dar trabalho. E depende de Michel Temer conquistar credibilidade para encaminhar as reformas e um governo mais eficiente. Não vai conseguir isso com um governo parecido com o de Dilma e vulnerável à Lava Jato.
Fonte: Carlos Alberto Sardenberg