Quem busca atendimento em hospitais, unidades básicas ou de pronto atendimento da rede pública enfrenta um problemas que atravessam gestões no DF. Governo promete resultados em 120 dias, com medidas como a expansão do modelo do Hospital de Base
Esperar. Situação comum para muitos dos pacientes que procuram
serviços públicos de saúde do Distrito Federal. Ao recorrer a hospitais,
unidades básicas de saúde (UBSs) ou de pronto atendimento (UPAs), o
brasiliense deve estar preparado para ficar horas ou mesmo dias na fila
até ser chamado pelos atendentes. “O jeito é ter paciência, não é mesmo?
É a única coisa que nos resta”, constata a autônoma Vanila dos Santos,
45 anos, na porta do Hospital Regional do Gama (HRG), enquanto aguarda o
atendimento da mãe, a aposentada Terezinha de Jesus dos Santos, 83.
A
idosa, que sofre de uma doença crônica no pulmão, ficou com a vida por
um fio após precisar de acompanhamento médico no hospital. “Em 2017, eu a
trouxe até o HRG dois dias seguidos, porque ela apresentava sintomas de
um derrame cerebral. No primeiro, esperamos 11 horas e ela só foi
medicada. No segundo, voltei de manhã, com ela gritando de dores. Fiz um
escândalo para que fosse internada. Só atenderam meu pedido à noite. Na
madrugada seguinte, ela teve o derrame”, relata.
Terezinha recuperou-se, mas, no ano seguinte, voltou a sofrer com a
falta de atendimento. Em junho de 2018, foi diagnosticada com uma grave
pneumonia. Ao procurar o HRG, Vanila foi aconselhada a levar a mãe a um
posto de saúde do Novo Gama (GO), município a cerca de 15km de onde
elas vivem. “Minha mãe foi medicada durante uma semana, até que
enfermeiros disseram que a situação dela estava piorando cada vez mais e
que ela precisava urgentemente de tratamento hospitalar”, lembra a
filha.
Vanila retornou ao HRG e só saiu de lá
quando disponibilizaram um leito para que Terezinha fosse internada no
setor de pneumologia. “Fiz outro escândalo, porque ninguém queria me
ajudar. Foi muito angustiante ver a minha mãe naquela situação. Fiquei
tão mal que a minha pressão subiu e tive um infarto. Precisei até
procurar um cardiologista”, conta. Terezinha recebeu alta após 14 dias.
Periodicamente, volta ao hospital para exames de rotina.
Para
Vanila, colocar os pés no HRG é sempre um sofrimento. “Além da demora e
do atendimento ruim, existem as limitações de locomoção da minha mãe.
Quando estou sozinha, tenho que empurrar a cadeira dela e segurar o
botijão de oxigênio, que tem 1 litro e pesa bastante. Não é fácil”,
desabafa.
Esse é apenas um dos exemplos do que
acontece ao redor do Distrito Federal. Na última semana, a reportagem
percorreu quatro hospitais regionais e coletou mais de 10 relatos
parecidos, como o da auxiliar de serviços gerais Josenilda Soares, 28,
que quase perdeu o filho Gabriel Lucas Soares, 3, após ele ser picado
por uma cobra. O cenário em cada um dos
pontos visitados é quase sempre igual: pacientes estressados,
incomodados com a longa espera por atendimento e infelizes com o atual
estado da saúde pública de Brasília. Poucos têm esperança de que essa
realidade possa mudar.
Assim
que assumiu o GDF, Ibaneis Rocha (MDB) afirmou que trataria da saúde de
imediato e que zerar as filas seria um dos objetivos principais. Para
isso, investiu R$ 153.373.814,78 e aposta na implementação do SOS DF
Saúde, projeto que prevê uma série de ações para o setor, como mutirões
de cirurgias eletivas e de urgência ou emergência. Desde o início do
ano, a nova gestão contabiliza mais de 2,4 mil procedimentos cirúrgicos.
Desde
quarta-feira, o Correio tentou conversar com porta-vozes da Secretaria
de Saúde, mas, até o fechamento desta edição, ninguém estava disponível.
A reportagem questionou a atual situação das filas no sistema público,
assim como possíveis soluções para o problema. Em nota, a pasta
respondeu que estruturar a Saúde no DF é o principal objetivo: “O
projeto SOS DF Saúde vem justamente para sanar as dificuldades
encontradas. Será possível contratar profissionais de algumas
especialidades, como anestesistas, e comprar materiais
médico-hospitalares de forma mais célere”.
Até
sexta-feira, 74 pacientes aguardavam a liberação de um dos 264 leitos de
Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) da rede. “A gestão trabalha na
abertura de novos. A expectativa é de que, em breve, 63 sejam
contratados”, reforçou a secretaria. Segundo a pasta, ainda não há um
número exato de quantas pessoas aguardam atendimento pelo serviço
público. “Por meio do complexo regulador, estamos organizando a fila
para consultas e cirurgias. Os dados existentes são fragmentados e um
mesmo paciente pode estar inserido mais de uma vez na lista de espera”.
Quando decretou estado de emergência para a saúde do DF, em 7 de
janeiro, Ibaneis afirmou que, apenas na área ortopédica, havia quase 18
mil pessoas aguardando uma operação.