Em nota, Polícia Rodoviária Federal tratou fuzilamento de criança como acaso infeliz
[COMENTÁRIO destaque INICIAL: indiscutivelmente que ocorreu uma fatalidade que vitimou uma criança de 3 anos - mas em nossa opinião o cerne do lamentável incidente se fundamentou com a IRRESPONSABILIDADE do pai da vítima em dirigir um VEÍCULO ROUBADO - é DEVER do condutor do veículo (proprietário ou não) se assegurar de que está portando a documentação legal do veículo e da procedência do mesmo.]
Sete de setembro, Dia da Independência. Uma família da Região Serrana
do Rio volta para casa depois de passar o feriado com parentes. No Arco
Metropolitano, o carro com duas crianças começa a ser perseguido pela
Polícia Rodoviária Federal. Um agente aponta o fuzil e atira. A caçula,
de 3 anos, é baleada na cabeça.[comentário: carro que consta nos registros como VEÍCULO ROUBADO.]
Heloísa dos Santos Silva foi levada para um hospital público da Baixada Fluminense. Depois de nove dias no CTI, seu coração parou de bater. A PRF divulgou uma nota de pesar: “Solidarizamo-nos com os familiares, neste momento de dor, e expressamos as mais sinceras condolências pela perda”.
O comunicado, redigido em tom protocolar, trata a morte como um acaso infeliz. Ignora a brutalidade da abordagem, a imprudência assassina dos policiais, a tentativa de constranger e intimidar a família da vítima.
Enquanto Heloísa agonizava, 28 policiais circularam pelo hospital. Um
agente se infiltrou na emergência e abordou o pai da menina. Outro
pressionou a tia, chegando a exibir um projétil. “Isso tudo ocorreu no
ambiente hospitalar, quando a vítima Heloísa recebia atendimento médico
cirúrgico”, anotou o procurador Eduardo Benones. Mesmo assim, o juiz Ian
Legay Vermelho, da 1ª Vara Federal Criminal, negou os pedidos de prisão
preventiva.[ao que se sabe entre os policiais - 28!!! - não estavam os três que guarneciam a viatura envolvida da lamentável ocorrência.]
Além de abusar do uso da força, a PRF atuou como braço armado de um projeto extremista. Na eleição presidencial, armou barreiras ilegais para tumultuar rodovias. Depois fez vista grossa a bloqueios promovidos por caminhoneiros bolsonaristas. O ex-diretor Silvinei Vasques usou cargo e distintivo em campanha pelo capitão. Foi preso no mês passado, acusado de interferir no processo eleitoral.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, disse que “há um esforço sincero de redução das mortes decorrentes de ação policial na PRF”. Pode ser, mas o esforço não evitou o fuzilamento da menina Heloísa. Em agosto, o ministro deu 120 dias para o órgão rever seus manuais “a fim de identificar eventuais falhas ou lacunas”. Com sorte, as primeiras medidas concretas virão em 2024.
Pode ser tarde demais para outras crianças que circulam em rodovias. Na terça-feira, em nova operação na Via Dutra, uma bala perdida perfurou o sapato de uma menina de 7 anosas polícias estaduais. Pelo que se vê, a política do bangue-bangue não tem ideologia. As chacinas se sucedem em estados governados pela direita, como São Paulo, e pela esquerda, como a Bahia.
Só na última semana, ações da polícia baiana deixaram 20 mortos. Na segunda-feira, repórteres tentaram ouvir o chefe da Casa Civil, Rui Costa. O ministro comandou o estado por oito anos e é aliado do atual governador, o também petista Jerônimo Rodrigues. Ao ser questionado sobre o assunto, deu as costas e respondeu com um monossílabo: “Fui”.
[fechando: pelo título da matéria, fica claro que o jornalista lamenta que as mortes não tenham alcançado policiais - esqueceu que um policial da PF morreu nas ações de Salvador.]
Bernardo Mello Franco, jornalista - O Globo