Transferências
que beneficiaram o ex-presidente passaram por empresas ligadas ao doleiro
Alberto Youssef
As
principais operações financeiras feitas pelo senador Fernando Collor (PTB-AL)
tratam da empresa Água Branca
Participações, usada pelo ex-presidente para comprar carros luxuosos: “A empresa não tem empregados. Também não
tem existência física. Conforme informação policial de campo, no endereço
cadastrado como sede da Água Branca funcionam outras empresas. Trata-se,
provavelmente, portanto, de ‘pessoa jurídica de fachada’, usada especificamente
para lavagem de dinheiro”, afirma o relatório da Procuradoria Geral da
República. A investigação foi além e descobriu que a Água Branca, apesar de não
existir, recebera R$ 930 mil apenas em 2013, de uma empresa fantasma, a
Phisical Comércio, abastecida pelo operador de propinas Alberto Youssef.
Fechava-se o caminho do dinheiro.
Apesar da forte reação de Collor
contra a operação, três
delatores da Lava Jato mostram o mesmo caminho: entregas de dinheiro vivo para o senador. O assessor Rafael
Ângulo, responsável pelos carregamentos de dinheiro a mando de Youssef, detalhou uma entrega de R$ 60 mil, e narra, sem
floreios, a naturalidade com que o ex-presidente recebia a propina.
Eis um relato literal da delação premiada
selecionado por Janot para ilustrar o envolvimento de Collor: “Que ouviu o barulho de abrir com chave; Que
em seguida, adentrou na porta e foi atendido pessoalmente por FERNANDO COLLOR
DE MELLO;[...] Que, porém, como o declarante reconheceu COLLOR e o declarante
tinha sido orientado a entregar o dinheiro pessoalmente para ele, o declarante
disse: ‘eu trouxe sessenta, o senhor sabe?’; Que ele respondeu: ‘Sei’; Que
então, como a quantia era menos volumosa, sobretudo porque estava em notas de
R$ 100,00, o declarante entregou o valor diretamente para COLLOR; […] Que
FERNANDO COLLOR pegou os valores e apenas disse ‘tudo bem’; Que COLLOR não
contou os valores e apenas colocou ao lado”.
Ricardo
Pessoa,
presidente da empreiteira UTC, diz ter pago pelo menos R$ 20 milhões de propina a um diretor da BR Distribuidora. “O declarante sabia que por trás da indicação
de ZONIS estava FERNANDO COLLOR, do contrário, não aceitaria pagar 20 milhões
de propina”, diz trecho do depoimento.
Na
terça-feira, quando foi realizada a Operação Politeia, Collor negou as
suspeitas. “A defesa do senador Fernando
Collor repudia com veemência a aparatosa operação policial realizada nesta data
em sua residência. A medida invasiva e arbitrária é flagrantemente
desnecessária, considerando que os fatos investigados datam de pelo menos mais
de dois anos, a investigação já é conhecida desde o final do ano passado, e o
ex-presidente jamais foi sequer chamado a prestar esclarecimentos.”
Fonte: Revista Época