A prisão de Geddel Vieira Lima é mais um passo para
perto do presidente Michel Temer, mas é também mais um fato revelador de
que o grande beneficiário desse crime permanece, e assim será, fora do
alcance da Justiça. O que está sendo investigado pela Sépsis e pela Cui
Bono é o uso do dinheiro do FGTS para empréstimos fraudulentos, e o
maior deles foi ao grupo J&F.
Geddel, que há um ano era o todo poderoso ministro da Secretaria de
governo de Temer, responsável pela relação entre o executivo e os
políticos, está hoje em prisão preventiva, sem data para sair. Antes
disso, ele já havia perdido o poder depois de ser pego num flagrante de
tráfico de influências e uso do poder político para interesses pessoais. O que o levou para a prisão foi o ato de rondar um ex-comparsa preso e
que pode relatar o seu envolvimento na corrupção na Caixa Econômica. A
suspeita é de obstrução de Justiça.
Originalmente, o que está sendo investigado pela Sépsis e Cui Bono
são operações que reúnem vários suspeitos. No governo Dilma, o então
presidente da Câmara Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima tiveram poderes
de nomeação. Entre os cargos, o de vice-presidente da Caixa, com poderes
nas áreas de loterias, fundos governamentais e FGTS. Um criminoso,
flagrado em outras operações, o doleiro Lúcio Funaro, escolheu quem
seria indicado. Fábio Cleto, o escolhido, ajudou a aprovar projetos de
interesses de vários empresários. A maior operação foi para que o grupo
J&F investisse na sua planta de celulose, a Eldorado. E foram duas
operações, uma de quase R$ 1 bilhão para o financiamento da celulose,
pela qual se pagou R$ 650 mil de propina a Fábio Cleto em novembro de
2012. E isso foi apenas uma parte pequena da propina paga aos políticos.
Depois houve um pedido do grupo J&F para se descumprir uma das
cláusulas do acordo, o que foi atendido.
O grande beneficiário é o grupo do empresário Joesley Batista que,
como se sabe, teve perdão judicial. O Supremo Tribunal Federal, depois
de longo debate, confirmou a tese de que os termos do acordo de delação
não devem ser mudados, sob pena de se perder esse instrumento que tem
trazido tantos fatos à luz. Por outro lado, é forçoso reconhecer que a
cada novo movimento fica mais uma vez exposto o quanto o grupo
empresarial se aproveitou da relação promíscua com o setor público.
Fábio Cleto fez delação premiada e isso levou Lúcio Funaro à prisão,
que ameaça fazer delação premiada, e, por isso, o ex-ministro Geddel
Vieira Lima teria passado a assediar a família de Funaro, como ele
contou ao MPF. E isso levou Geddel à prisão. Ontem no Rio foram presos empresários de ônibus, e um deles, Jacob
Barata Filho, estava para embarcar para a Europa. A assessoria do
conglomerado de empresas de ônibus diz que ele estava indo fazer uma
viagem de rotina e de negócios. Para os investigadores, ele estava
fugindo. A boa notícia neste caso é mostrar que os suspeitos estão se
sentindo ameaçados. Tanto no caso Geddel, quanto na viagem de Barata, o
que fica claro é que eles temem a punição, que antes achavam que nunca
aconteceria.
Joesley e Wesley, no entanto, ficarão impunes. A pergunta difícil de
responder é se tinha mesmo que ser tão grande o benefício. Já se sabe
que é legal, mas poucos consideram legítimo que se conceda o perdão
judicial a quem fez uso em alta escala da corrupção para turbinar o
crescimento dos negócios. A quem interessa esse crime cometido na Caixa? A muita gente como
Lúcio Funaro, Eduardo Cunha. O roubo no dinheiro do trabalhador engordou
empresários e políticos. O FI-FGTS foi concebido nos governos petistas
para ser um financiador de obras de infraestrutura com os recursos do
Fundo de Garantia. Mas acabou investindo em projetos que nada têm a ver
com infraestrutura, como o dinheiro concedido a Henrique Constantino e o
transferido para a Eldorado, da J&F.
A expressão “Cui Bono” é exatamente “a quem beneficia?” E sem dúvida a
empresa do grupo J&F foi a grande beneficiária e por isso pagou
propina a políticos. Toda vez que se mexer nesse assunto, ou em outros,
lá estará Joesley como beneficiário.
Fonte: Coluna da Miriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo
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terça-feira, 4 de julho de 2017
O elo do crime
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