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segunda-feira, 18 de julho de 2016

Estupradores e medeias = aborto livre = 'cultura de Medeias'



Dizer que todo o homem é potencialmente um estuprador é o mesmo que afirmar que toda a mulher é uma Medeia em potência. Em Portugal, num espaço de poucas semanas, três mulheres acabaram por matar os filhos, quando também tentavam se suicidar, tendo o objetivo de se vingar dos maridos. No modo de raciocinar que se tornou habitual, estes exemplos seriam suficientes para criar uma mancha sobre todas as mulheres.

Raciocínios deste tipo são obviamente forçados mas rapidamente espalham-se pelas redes sociais como ‘slogans’ mobilizadores de idiotas vazios de sentido, que na sua histeria vão repeti-los para um círculo mais alargado até eventualmente se incorporarem no “senso comum”, especialmente se patrocinados pela comunicação social.

Mas quase todo o tipo de manipulação de massas parte de algum erro de lógica, de categorização ou de interpretação. Quando se diz que todos os homens ou mulheres são em potência alguma coisa, isto é uma argumentação de tipo erístico que confunde propositadamente o ‘possível’ com o ‘provável’. Todos os seres humanos têm a possibilidade de serem santos ou monstros, mas a probabilidade disso acontecer para uns é de 99% e para outros é de 0,01%. A tentação de conceber apenas percentagens de 0% ou de 100% mostra o ódio moderno ao livre arbítrio, a tentativa de eliminar o ser humano como “variável da equação” e torna-lo numa constante. Isso gera inevitavelmente um certo fatalismo, ou seja, o indivíduo acha que para ele quase tudo é impossível de alcançar com a exceção de umas poucas coisas, que são inevitáveis ou obrigatórias. Ele sente-se menos livre do que um animal doméstico ou mesmo do que um rato de laboratório.

Quase todos nós vivemos numa certa mediocridade, afastada tanto da santidade quanto da monstruosidade. Na verdade, estamos tão afastados que as consideramos coisas igualmente temíveis, mas talvez a santidade seja uma coisa mais aterradora por ser tão desconhecida. O ser humano perde a noção de quem é e do que pode fazer quando estas possibilidades remotas saem do seu horizonte de consciência. Todos nós estamos imensamente afastados da santidade mas, se essa possibilidade ainda está presente para nós de alguma forma, em momentos especiais somos capazes de atos de auto sacrifício ou de uma coragem extrema. Por outro lado, se descartamos a hipótese de nos tornarmos monstros, isso abre a porta para cairmos da mediocridade para a bestialidade sem percebermos, porque continuamos achando que somos pessoas “normais”. A possibilidade de sermos monstros é não apenas um aviso, ainda que remoto, mas também pode ser útil em situações em que somos agredidos, porque naqueles momentos ou nos tornamos predadores ou somos vítimas inermes de um sacrifício.

Mas quando alguém diz que todo o homem é um estuprador em potência (ou que toda a mulher é uma Medeia disfarçada), não quer afirmar que existe uma pequena probabilidade disso acontecer mas sim que a probabilidade é grande, ao ponto de quase afirmar que a verdadeira natureza do homem é a de ser estuprador, não a colocando mais vezes em prática apenas por receio de ser punido. A monstruosidade deixa de ser uma hipótese limite e passa a ser a norma, ainda que encoberta. A possibilidade de santidade obviamente que desaparece neste cenário.

A ideia de que todo o homem é um estuprador em potência é, num certo sentido, reforçada com a imagem de que vivemos numa “cultura do estupro”, porque ambas refletem a propaganda feminista de que o homem não presta e tem uma dívida histórica para com a mulher. Na verdade, são ideias que se cancelam uma à outra. Se o homem é naturalmente um estuprador, então, não é necessário um reforço cultural, porque sempre que ele tiver oportunidade iria violentar as mulheres. A cultura é algo que redireciona as inclinações naturais ou que cria algo diferente delas. 

A “cultura do estupro” seria a coisa mais ineficiente do mundo porque com toda a propaganda ao sexo desregrado, com a impunidade de crimes sexuais em muitos sítios e com a pretensa natureza de estuprador dos homens, ainda assim, o número efetivo de estupradores é ínfimo.  Podia terminar dizendo que não existe cultura do estupro em relação ao corpo mas em relação à inteligência. Mas nem isso é muito certo. Realmente existe a tentativa de imposição de uma cultura do estupro com a apologia cada vez mais descarada da apologia. E uma cultura de Medeias também já está em pleno andamento em muitos países, com o aborto livre.

Por: Mário Chainho