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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Policial defende intervenção e ataca Pezão: ‘Tinha que sair’



'Ser policial no Rio é carregar uma certidão de óbito'


O rottweiler Enzo substitui, bem ao seu jeito feroz e espalhafatoso, a campainha da casa de três cômodos no endereço raramente divulgado. E, pronto, lá vem vindo a cabo Flavia Louzada, uma ex-fisiculturista de 37 anos, única mulher a participar da ocupação do Alemão em 2010. Protegem também a moça duas esculturas de exus guardiões da porteira, logo na entrada.
                Policial Militar Flávia Louzada - Ana Branco


No quarto, o papagaio Louro, esganiçado, quebra o clima: “Tudo bem?” Para sua dona, nada bem. Não está sendo fácil pagar as parcelas do empréstimo bancário de R$ 25 mil, o salário é curto, os amigos vêm sendo assassinados com frequência, e, para piorar, já são dois meses de licença por causa da pressão alta. Até o prazo de validade de dois anos das sobrancelhas tatuadas vai chegando ao fim — e, por falar nisso, é hora de trocar também os esmaltes azul e rosa que se revezam descascados nos dedos das mãos e dos pés.


Mas segue intacta nas costas a maior das marcas de Flavia: a gigantesca tatoo do brasão da PM, feita por amor à instituição agora falida e à sombra da intervenção federal. Na concepção da cabo Louzada, do 16º BPM, em Olaria, o Exército caiu do céu, tão essencial à segurança quanto seu rottweiler feroz.


A seguir, a entrevista concedida à repórter Marluci Martins.

Por que escolheu ser policial?
Minha mãe era professora de uma escola no Irajá. Um dia, um aluno chegou sob efeito de drogas e com uma pistola. Ela pediu que ele fosse pra casa. Quando minha mãe saiu do colégio, esse rapaz, na garupa de uma moto, disparou três tiros. Um deles pegou na garganta. Ela morreu, eu tinha 11 anos. Quero ser a policial que salva uma mãe, um irmão. Sempre me perguntam quantas pessoas eu matei. Ninguém pergunta quantas eu salvei.

Quantas pessoas você salvou? Quantas matou?
Salvei muitas. Principalmente, crianças em comunidades, onde as pessoas já estão acostumadas com tiroteio. Se ouvem um tiro, correm pra janela ou pra rua, pra ver o que está acontecendo. Também não sei quantas matei.

Qual é o seu sonho na polícia?
É o Bope, mas eles não querem mulher.

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