Análise Política
O cenário político pós-eleição coloca ao presidente eleito o duplo
desafio: articular uma maioria parlamentar no Congresso conservador para
governar sem sobressaltos, e combinar isso com uma política de
governadores (não confundir com a expressão da República Velha) que
garanta estabilidade federativa, fator importante também para
estabilizar o Legislativo. E isso num ambiente político-partidário
nacional cindido. Não será trivial. [Temos o PENSAMENTO, OPINIÃO, que o ex-presidiário eleito, está na situação em que Carlos Lacerda descrevia para Getúlio: " ... não pode ser candidato, se candidato não pode ser eleito, se eleito não pode ser diplomado, se diplomado não será empossado, se empossado não pode governar. ..." O fim do Getúlio faz parte da história.]
Nem sempre a lógica prevalece, mas se der a lógica o presidente eleito
precisará enveredar, pelas razões expostas, por um caminho mais
aglutinativo que divisivo. Um fator trabalha a favor dessa tendência: a
necessidade de sobrevivência política. Mas outro fator trabalha contra:
apesar da frente ampla inorgânica que se agrupou em torno do vencedor,
em termos orgânico-partidários a aliança que o sustentou é
essencialmente puro-sangue.
Essa necessidade de convergir a um ponto médio num ambiente conflagrado
imporá certamente limitações a mudanças bruscas de política econômica, e
também desaconselhará radicalizar, por exemplo, a agenda dita
identitária. Se, novamente, der a lógica, o governo deverá buscar
soluções programáticas centrípetas e não centrífugas. A começar do ponto
nevrálgico imediato: a eleição para as presidências do Congresso.
Mais que ganhar as disputas pelo comando da Câmara dos Deputados e do
Senado, o fundamental para o governo é não ser derrotado. O ideal será
ter comandantes nas Casas alinhados com o Planalto, mas será preciso
acompanhar para ver o risco que o novo governo estará disposto a correr
nessas batalhas iniciais.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político