Comandante
de uma escrivaninha no Planalto, o general Augusto Heleno desceu à trincheira
das redes sociais armado de tambores e clarins. Estufando o peito como uma
segunda barriga, Heleno proclamou que o ministro Celso de Mello, do Supremo, cometerá
"um ato impatriótico, quase um atentado à segurança nacional" se
mandar divulgar a íntegra da gravação da reunião ministerial de 22 de abril.
Heleno
insinua que Jair Bolsonaro e seus ministros trataram na reunião de temas
sensíveis. Na definição do general, abordaram-se "assuntos confidenciais e
até secretos." Em petição ao decano do Supremo, a defesa de Sergio Moro
pede transparência total. Alega que a gravação não expõe "segredo de Estado",
apenas "constrangimentos".
Pleitear que seja divulgado, inteiramente, o vídeo de uma Reunião Ministerial, com assuntos confidenciais e até secretos, para atender a interesses políticos, é um ato impatriótico, quase um atentado à segurança nacional. pic.twitter.com/fwTaKcG9OQ -- General Heleno (@gen_heleno) May 13, 2020
[pleitear que assuntos de Estado sejam divulgados para atender ao pedido da defesa de um ex-juiz, ex-ministro, tão boquirroto, que divulgou até conversas privadas mantidas com uma amiga e afilhada de casamento, constitui um pleito que certamente o decano do STF não atenderá.
O ministro Celso de Mello usou termos ofensivos, provocadores, no despacho de intimação dos oficiais generais e outras autoridades arroladas no processo do famoso vídeo - que a defesa de Moro e os inimigos do presidente Bolsonaro pretendem sirva de prova das acusações apresentadas pelo ex-juiz - mas tem responsabilidade para com a Pátria e com a Justiça e não permitirá a divulgação de partes dos registros do vídeo, que sejam estranhas às acusações sob investigação.]
De fato, tomada pelos vazamentos,
a reunião do Planalto transcorreu sob atmosfera constrangedora, marcada por
xingamentos, desqualificações e alucinações. Foi como
se Bolsonaro e os ministros estivessem com a barriga encostada no balcão de um
boteco de quinta categoria. Ou com os cotovelos recostados numa mesa de ferro
—dessas que têm os pés em formato de 'X' e o tampo apinhado de garrafas de
cerveja vazias. Até para desfazer essa imagem, Heleno deveria defender o
escancaramento da gravação. Sob pena de potencializar a sensação de que o
general do GSI e seus companheiros de farda no Planalto inventaram uma
modalidade nova de patriotismo: o patriotismo de botequim.
Blog do Josias - Josias de Souza, jornalista - UOL