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quinta-feira, 14 de maio de 2020

General Heleno inventa o patriotismo de botequim - Blog do Josias


Comandante de uma escrivaninha no Planalto, o general Augusto Heleno desceu à trincheira das redes sociais armado de tambores e clarins. Estufando o peito como uma segunda barriga, Heleno proclamou que o ministro Celso de Mello, do Supremo, cometerá "um ato impatriótico, quase um atentado à segurança nacional" se mandar divulgar a íntegra da gravação da reunião ministerial de 22 de abril.

Heleno insinua que Jair Bolsonaro e seus ministros trataram na reunião de temas sensíveis. Na definição do general, abordaram-se "assuntos confidenciais e até secretos." Em petição ao decano do Supremo, a defesa de Sergio Moro pede transparência total. Alega que a gravação não expõe "segredo de Estado", apenas "constrangimentos".

Pleitear que seja divulgado, inteiramente, o vídeo de uma Reunião Ministerial, com assuntos confidenciais e até secretos, para atender a interesses políticos, é um ato impatriótico, quase um atentado à segurança nacional. pic.twitter.com/fwTaKcG9OQ -- General Heleno (@gen_heleno) May 13, 2020 

[pleitear que assuntos de Estado sejam divulgados para atender ao pedido da defesa de um ex-juiz, ex-ministro, tão boquirroto, que divulgou até conversas privadas mantidas com uma amiga e afilhada de casamento, constitui um pleito que certamente o decano do STF não atenderá.

O ministro Celso de Mello usou termos ofensivos, provocadores,  no despacho de intimação dos oficiais generais e outras autoridades arroladas no processo do famoso vídeo - que a defesa de Moro e os inimigos do presidente Bolsonaro pretendem sirva de prova das acusações apresentadas pelo ex-juiz  - mas tem responsabilidade para com a Pátria e com a Justiça e não permitirá a divulgação de partes dos registros do vídeo, que sejam estranhas às acusações sob investigação.

De fato, tomada pelos vazamentos, a reunião do Planalto transcorreu sob atmosfera constrangedora, marcada por xingamentos, desqualificações e alucinações. Foi como se Bolsonaro e os ministros estivessem com a barriga encostada no balcão de um boteco de quinta categoria. Ou com os cotovelos recostados numa mesa de ferro —dessas que têm os pés em formato de 'X' e o tampo apinhado de garrafas de cerveja vazias. Até para desfazer essa imagem, Heleno deveria defender o escancaramento da gravação. Sob pena de potencializar a sensação de que o general do GSI e seus companheiros de farda no Planalto inventaram uma modalidade nova de patriotismo: o patriotismo de botequim.

Blog do Josias - Josias de Souza, jornalista - UOL