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quinta-feira, 6 de outubro de 2022

A imprensa mandou o jornalismo às favas - Edilson Salgueiro

Revista Oeste

O ativismo de esquerda nas redações jornalísticas se tornou implacável desde que Jair Bolsonaro vestiu a faixa presidencial

 Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

 Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock 

Desde 22 de julho de 2018, quando o extinto Partido Social Liberal (PSL) confirmou a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República nas eleições daquele ano, a velha imprensa decidiu mandar o jornalismo às favas. A fidelidade aos fatos, elemento basilar da atividade jornalística, deu lugar à militância política desenfreada. Esse ativismo nas redações, inédito na história brasileira, se tornaria implacável a partir de 1º de janeiro de 2019, quando o ex-capitão de Exército vestiu a faixa presidencial.

De lá para cá, os escândalos de festim “bombardearam” os jornais, as revistas e os programas de televisão. Bolsonaro foi responsabilizado, entre outras coisas, pelos efeitos da pandemia de covid-19, pela recessão econômica resultante da crise sanitária, pela destruição da Floresta Amazônica, pelos esquemas de corrupção que jamais existiram e pelos golpes imaginários à democracia. [sem esquecer que queriam o impeachment dele por suposta prevaricação em uma compra de vacinas que sequer foi efetuada.] A realidade, no entanto, absolveu o chefe do Executivo dessas acusações.

O “genocida negacionista”
Segundo o portal Our World in Data, o Brasil está na 19ª posição no ranking mundial de mortes proporcionais pelo coronavírus — 3,1 mil a cada 1 milhão de habitantes. 
Peru (6,4 mil a cada 1 milhão de habitantes), Bulgária (5,4 mil a cada 1 milhão de habitantes) e Bósnia e Herzegovina (4,9 mil a cada 1 milhão de habitantes) estão no topo da lista.

A política de vacinação do Ministério da Saúde, também alvo do consórcio de imprensa, obteve resultados satisfatórios. O Brasil é o quinto país que mais vacinou no mundo, em termos absolutos: quase 188 milhões de pessoas. Apenas Indonésia (204 milhões), Estados Unidos (263,8 milhões), Índia (1 bilhão) e China (1,3 bilhão) apresentam taxas superiores.

O Brasil também é o quinto país com a maior taxa da população com esquema vacinal completo (87%), à frente de Espanha, Itália, Japão, França, Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, México, Israel e Rússia. Uruguai (88%), China (91%), Vietnã (92%) e Chile (93%) lideram o ranking. Apesar de os números serem positivos, o chefe do Executivo é constantemente tachado de “genocida” e “negacionista”.

Em 15 de abril de 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF) atribuiu aos Estados e aos municípios a responsabilidade de decretar medidas restritivas contra a disseminação do coronavírus. 
Em 11 de março, o Distrito Federal amparou-se na decisão do STF e estabeleceu políticas de distanciamento social. 
Por meio de um decreto, o governador Ibaneis Rocha (MDB) suspendeu as aulas da rede pública e privada por cinco dias. 
Na semana seguinte, todas as atividades de atendimento ao público foram paralisadas.
Restaurantes, bares, lojas, salões de beleza e cinema fecharam as portas. Esse seria o pontapé inicial da prática de confinamento da população brasileira e do estrangulamento da economia do país.

Os efeitos das medidas restritivas foram praticamente imediatos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE), em pesquisa divulgada em 16 de julho daquele ano, mais de 700 mil empresas faliram. Do total de negócios fechados temporária ou definitivamente, quatro em cada dez — um total de 522 mil empresas — disseram ao IBGE que a falência ocorreu em razão da pandemia de coronavírus.

A imprensa não só atribuiu ao presidente da República a responsabilidade pela mazela da pandemia, como também “patrocinou” a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, que, durante seis meses inteiros, não foi capaz de produzir uma única acusação que se sustentasse do ponto de vista judicial. O relatório definitivo da CPI, com mais de mil páginas, não teve solidez para incriminar ninguém.

O falso incendiário
Bolsonaro também foi responsabilizado por supostos retrocessos nas políticas de preservação ambiental
. A realidade, contudo, mostra que o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera com folga o ranking de queimadas na Floresta Amazônica. Entre 2003 e 2010, quando esteve na Presidência da República, o Brasil registrou 2,4 milhões de focos de fogo. Na média mensal, os números ultrapassam a marca de 25 mil.

Se o atual governo continuar com a média dos primeiros 44 meses, chegará ao fim do mandato registrando pouco mais de 780 mil queimadas. A média mensal de cerca de 16 mil prova que há menos focos de fogo na atual administração do que havia na época em que Lula dava as cartas no Planalto. Michel Temer (15,7 mil), Fernando Henrique Cardoso (14,6 mil) e Dilma Rousseff (14,4 mil) completam a lista.

A despeito das críticas infundadas, o Brasil apresenta uma expressiva diminuição no número de incêndios e queimadas em 2022. De 1º de janeiro a 15 de agosto, o país registrou 49,6 mil queimadas, contra quase 59 mil no mesmo período de 2021. Uma diminuição de 15%, enquanto no restante da América do Sul o aumento foi de 19%. Nos últimos dois anos, o país reduziu em torno 25% da incidência de incêndios e queimadas em seu território.

O “vilão” do desmatamento
Além de incendiar o Brasil, o presidente também é acusado de desmatá-lo como nunca antes na história deste país. Neste caso, os números também falam por si. Nos primeiros 36 meses do atual governo, a média mensal de desmatamento na Amazônia brasileira registrou a marca de 945 quilômetros quadrados. Esse número é inferior ao verificado nas gestões de Lula (média mensal de 1,3 mil) e FHC (1,6 mil). Dilma, que sofreu impeachment e não concluiu o segundo mandato, e Temer, sucessor da petista, apresentam resultados melhores: 444 e 610 quilômetros quadrados, respectivamente.

Em números absolutos, FHC é o recordista. Durante os oito anos de governo tucano, entre 1995 e 2002, 153 mil quilômetros quadrados foram desmatados no país. Essa área é equivalente aos territórios de Suíça, Bélgica, Holanda e Moldávia juntos. Na vice-liderança aparece o ex-presidente Lula: 125 mil quilômetros quadrados, de 2003 a 2010. Se tiver a oportunidade de concluir dois mandatos e permanecer com a média anual de hoje, Bolsonaro acabará com a medalha de bronze: 90,7 mil quilômetros quadrados.

O “Orçamento secreto”
Ao longo do primeiro mandato de Bolsonaro, o consórcio de imprensa buscou implacavelmente um escândalo de corrupção que pudesse ser equiparado ao Mensalão e ao Petrolão, do Partido dos Trabalhadores (PT). Houve diversas tentativas, até que uma delas fez sucesso entre os representantes da velha mídia: a existência de um “Orçamento secreto”. “É um esquema tão sofisticado que nem os próprios jornais conseguem comprovar os crimes”, escreve o jornalista Silvio Navarro, em reportagem publicada na Edição 125 da Revista Oeste.

É importante ressaltar que a peça orçamentária é manejada e aprovada pelo Congresso Nacional. Cabe ao Executivo enviar seu planejamento de despesas e arrecadação, mas o ajuste é realizado pelo Legislativo. E mais relevante: esses recursos são legais, previstos na legislação brasileira. “É prática recorrente dos governos atender a pleitos dos parlamentares para manter a fidelidade de sua base no Congresso”, explica Navarro. “Goste-se ou não do modelo, é algo que se chama articulação política. No governo Bolsonaro, passou a ser tratado pelo consórcio de imprensa como um escândalo de compra de apoio parlamentar.” Por não haver irregularidades nessa prática, a história do “Orçamento secreto” mantém-se relevante apenas para os políticos da oposição.

A novilíngua da imprensa
Depois de produzir as manchetes de festim da covid-19, das “catástrofes” ambientais e dos esquemas de corrupção que não existiram, a imprensa engajada partiu para o noticiário econômico.

O país reagiu de maneira consistente ao lockdown político de governadores, determinados a sangrar o governo federal. O fôlego da economia surpreendeu bancos e consultorias de investimentos, e, apesar dos prognósticos dos “especialistas”, não houve a anunciada recessão. Pelo contrário. O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve crescer mais de 3% neste ano, segundo o Bank of America.

E houve ainda mais avanços. O desemprego, por exemplo, recuou para 9%. O volume de empregos com carteira assinada está aumentandoapenas em julho, 218 mil vagas foram abertas. As contas públicas também estão em ordem: em 12 meses, encerrados em julho deste ano, o país acumulou superávit primário de R$ 230 bilhões o equivalente a 2,5% do PIB. Esses números mostram a resistência brasileira ante a inflação galopante, uma herança da pandemia e do conflito no Leste Europeu.

“É aí que começa o festival de conjunções adversativas que precede algo desagradável”, escrevem Branca Nunes e Silvio Navarro, em reportagem publicada na Edição 117 da Revista Oeste. Tornou-se quase impossível encontrar uma manchete sem “mas”, “porém”, “entretanto”. Surgiram aberrações como “despiora” da economia e a tristeza no semblante da apresentadora da CNN ao comunicar que, “infelizmente”, teria de trazer notícias positivas para a população brasileira.


(...)

O escritor e antropólogo Flávio Gordon acredita que a ideologia perverteu a prática jornalística. “Se antes, pela falta de termo de comparação, o público talvez não notasse os truques sujos e as manipulações perpetrados diariamente pela imprensa autoproclamada ‘profissional’, hoje ele percebe”, observou. “Quando a redação se torna uma bolha na qual o radicalismo ideológico de uns retroalimenta o dos colegas, o senso de cumprimento de uma missão política em vista de um mundo melhor sobrepuja qualquer preocupação com a prática jornalística tradicional, que, nessas condições, passa a ser vista até mesmo como reacionária.”

Crise de audiência
O resultado da militância nas redações não está surtindo efeito. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, a circulação de 15 jornais impressos caiu 7,7%. Em números absolutos, pouco mais de 430 mil exemplares foram colocados em circulação nesse período. Há sete anos, eram 1,3 milhão. O Super Notícia é a publicação de maior destaque — fechou o primeiro semestre com média de 7,5 mil exemplares. Mas registrou queda de 8,5%, em comparação com dezembro de 2021. A pior retração é da Folha, de 66,1 mil para 55 mil (-16%).

Tampouco as revistas impressas vão bem das pernas. Segundo o Instituto Verificador de Comunicação (IVC), a circulação sofreu uma queda de 28% ao longo de 2021. A Veja, por exemplo, já foi a terceira maior do mundo ao imprimir 1,2 milhão de exemplares. O tombo mais recente levou-a a perder 51 mil — e amargar, pela primeira vez desde o nascimento, uma tiragem que mal atinge a faixa dos 90 mil. Todas as revistas hoje lutam pela sobrevivência. Menos a Piauí, que não depende de leitores. Depende da herança do dono, o banqueiro João Moreira Salles. A bolada parece muito longe do fim. Tanto assim que, mesmo bancando os rombos mensais da revista, tem dinheiro de sobra para figurar na lista dos dez maiores doadores da campanha de Lula.

Os brasileiros escolheram no domingo 2 de outubro seu candidato à Presidência da República. A imprensa brasileira, por sua vez, decidiu em 1º de janeiro de 2019 que Bolsonaro não poderia ser o chefe do Executivo — a despeito da vontade popular. Nas eleições de 2022, os jornalistas militantes não só manifestaram suas preferências políticas, como também participaram da campanha. Como se ninguém estivesse vendo.

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Edilson Salgueiro, colunista - Revista Oeste