O grande desafio do momento é “integrar” não somente os
refugiados que chegam, mas os extremistas que estão imersos nesta sociedade
paralela extremista. Desde o início do ano, a quantidade de ataques contra
centros de refugiados na Alemanha cresceu. Somente nas seis primeiras semanas
foram 118 ataques contra estes abrigos e muitos especialistas já falam sobre um
novo movimento “populista nacionalista”
que tem se espalhado pela Europa e criado verdadeiras sociedades paralelas.
Ao ver o
mapa de ataques contra refugiados na Alemanha (incluindo vandalismo, incêndios criminosos e lesões corporais),
três grandes centros da violência aparecem no mapa: Colônia,
Berlim e, o maior deles, Dresden.
E foi
exatamente em Dresden, quando fui
cobrir o movimento Pegida, onde escutei ameaças raivosas de “Lügen Presse, auf die Fresse”, algo
como imprensa mentirosa, murro na boca.
O movimento que se encontra todas as segundas-feiras desde o fim de 2014 se
autodenomina Europeus patriotas contra a “islamização”
do Ocidente e é realizado na cidade com uma das menores concentrações de
islâmicos da Alemanha.
Estes
movimentos tem uma aversão contra a grande mídia e se informam por blog
extremistas e xenófobos. E olha
que a imprensa alemã tem uma pluralidade invejável, contando com uma rede de
rádios, jornais e televisões públicas e privadas, com um espectro político
amplo. Estudos do professor alemão Andreas Zick da Universidade de Bielefeld
publicados no New York Times mostram que
20% da população estariam suscetíveis a estes movimentos. Estas sociedades
paralelas alimentam um aumento na violência contra
estrangeiros e, principalmente, refugiados. Mais de 1.200 ataques contra
centros de requerentes de asilo foram feitos desde janeiro de 2015.
Entre as armas destes ataques
estão tiros, coquetéis molotov e até mesmo uma granada de mão, que foi lançada contra um abrigo
em Villingen-Schwenningen. Muitos dos extremistas dizem que não querem os
estrangeiros, porque esta recepção dos refugiados vai custar caro. Mas os
ataques contra estes centros causam prejuízos ainda maiores nesta conta.
Diante
de tamanha violência, o Partido Verde de Berlim já se posicionou que não quer
colocar mais nenhum abrigo de refugiados no bairro de Marzahn, que é controlado pelo partido de extrema direita
NPD. Por um lado faz sentido, já que colocar refugiados ali só faz aumentar
a espiral de ódio que esta região da periferia berlinense vive. Mas a posição
manda a mensagem errada e passa uma impressão de que a violência da extrema
direita surte efeito. Este é só um dos muitos dilemas deste momento.
Na
sociedade alemã muitas vezes se usa a palavra “integração” para descrever o processo de chegada do estrangeiro na
Alemanha, mas neste caso o grande desafio do momento é “integrar” não somente os refugiados que chegam, mas os extremistas
que estão imersos nesta sociedade paralela extremista.
Fonte: Albert Steinberger, repórter, ciclista e curioso – O Globo