Proposta desvia do foco, que deve ser proteção social, emprego e saúde
O debate sobre a redução dos salários dos servidores públicos em meio à pandemia desvia
o foco em relação ao tema urgente, que é o combate direto à
contaminação e suas repercussões econômicas atravessando a congestionada
agenda legislativa. O Brasil perde tempo discutindo esse assunto, que
precisa de PEC para reagir à crise e atrasa a implementação de soluções.
A proposta é injusta
porque foca em um público heterogêneo, composto de pessoas de elevada,
média e baixa renda. Na verdade, o esforço de financiamento deveria se
concentrar nos grupos de elevada renda e que tradicionalmente se
protegem em períodos de crise. Esse grupo inclui servidores públicos da
elite do Estado brasileiro, mas não somente.
A discussão é inadequada
porque pressupõe que o governo deveria encontrar recursos para
financiar suas ações no momento em que elas são aplicadas. É bem
estabelecido que o bem-estar da sociedade aumenta quando o custo das
recessões é distribuído ao longo de vários anos. E, para isso, as
políticas devem ser financiadas, no curto prazo, com maior endividamento
público. Um reflexo negativo da proposta está em promover uma redução
adicional da já combalida demanda agregada, criando repercussões
negativas para outros cidadãos e empresas.
Minha proposta alternativa, para financiar essas políticas, é a
introdução permanente de novas alíquotas marginais de Imposto de Renda
sobre faixas elevadas, fim da isenção sobre distribuição de lucros e
dividendos, mudança nas regras tributárias de direitos de imagem e
fundos fechados de investimento. A definição das alíquotas e das bases
de tributação refletem a velocidade do ajuste e quem paga por ele, o que
é uma decisão política.
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Manoel Pires, economista - Folha de S. Paulo - MATÉRIA COMPLETA