Governo
conta com 200 dos 513 deputados na Câmara. Em busca de respaldo político, Dilma se reúne com governadores,
enquanto Lula e petistas avaliam que ela perdeu apoio ao endurecer o ajuste
fiscal
O
governo federal passou os últimos dias contando os votos que possui no
Congresso para
barrar a tramitação de um possível processo de impeachment da presidente da República, Dilma Rousseff. A
maior preocupação do Palácio do Planalto, agora, é com a deterioração do relacionamento com o vice-presidente, Michel Temer,
que comanda o PMDB, e com a bancada do partido.
Dilma conversou mais de uma vez
por telefone, na
segunda-feira, com o presidente do
Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski. À noite, ela reuniu para um
jantar dezenove governadores da base aliada, no Palácio da Alvorada. Embora o encontro tenha sido para pedir
apoio às medidas de austeridade fiscal, com corte
de 26 bilhões de reais, congelamento de salários
do funcionalismo e reedição da CPMF, o governo tentou vender ali a imagem de que está reagindo à crise.
Ficou claro, ainda, que Dilma espera o
respaldo dos governadores contra a tentativa de derrubá-la.
Na linha de frente do
monitoramento dos aliados, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e
o assessor especial da Presidência, Giles Azevedo, têm
mantido conversas reservadas com
deputados, senadores, empresários, governadores e também com advogados.
Ainda nesta segunda, antes do anúncio da nova tesourada no Orçamento,
Mercadante fez outro mapeamento dos votos com os quais o governo pode contar na
Câmara e no Senado.
A situação mais
dramática é na Câmara, onde o Planalto tem perto de 200 dos 513 votos, muito pouco diante do que precisa para frear eventual pedido
de afastamento de Dilma. No
diagnóstico do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da cúpula do PT, Dilma perdeu sua base social ao endurecer o
ajuste fiscal e corre o risco de ter o mandato abreviado. O roteiro discutido por deputados de oposição do PSDB, DEM, Solidariedade e PPS e
por dissidentes da base aliada, entre os quais o PMDB, prevê que o presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), rejeitará qualquer
pedido de impeachment.
A partir daí, porém, um deputado deverá apresentar recurso ao plenário da Casa. A votação,
neste caso, é por maioria simples. O governo não tem, até agora, nem mesmo
esse apoio.
Para piorar a situação,
PMDB e PT estão em pé de guerra e uma
rede de intrigas alimenta a crise política. Não são poucos os petistas que lembram, nos bastidores, que a Operação
Lava Jato atingirá Temer e a cúpula do PMDB, envolvendo Renan Calheiros (AL),
presidente do Senado, e os senadores Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO), além
de Cunha, que já foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por
corrupção e lavagem de dinheiro.
O vice-presidente está em Moscou
com cinco ministros do PMDB. Nesta terça-feira, Kátia Abreu (PMDB), titular da Agricultura, e
Jaques Wagner (PT), da Defesa, iriam se juntar à
comitiva, mas Dilma pediu que eles ficassem no Brasil. A explicação oficial foi a de que os dois
precisam ajudar o governo a aprovar o pacote do corte de gastos e a reedição da
CPMF no Congresso. A assessoria de Kátia informou, ainda, que ela torceu o
pé. Mas, em conversas reservadas, auxiliares de Dilma
admitiram que não era conveniente que os ministros mais próximos da presidente
integrassem uma viagem "do
PMDB".
Fonte: Estadão
Conteúdo