Não tenho a menor dúvida de que a relação do partido com o Estado brasileiro tem características de organização criminosa, mas denúncia de Janot é oportunista; deixasse para Raquel Dodge
Sabem o que não suporto em Rodrigo Janot
no que diz respeito ao estilo pessoal e ao jeito de fazer as coisas? A
sua impressionante vulgaridade, aliada a um desprezo solene que nutre
pela inteligência alheia. Se bem que, convenham, ele não tem perdido
muita coisa ao apostar na burrice alheia, especialmente nas obsessões
canhestras de certos reaças que mais sabem dizer por que não querem Lula
do que afirmar por que querem o seu candidato, seja ele quem for.
Mais: a vaidade de Janot não lhe oferece
espaço para pensar nos interesses do país. Ele rende o que for
necessário no altar da arrogância, da vaidade, da truculência. E foi o
que fez nesta terça ao entregar a denúncia contra Luiz Inácio Lula da
Silva, Dilma Rousseff, Antonio Palocci e mais uma penca de companheiros.
Acusação: integrar uma organização criminosa, que teria desviado pelo
menos R$ 3 bilhões da Petrobras. Oficiosamente, a investigação é chamada
de “quadrilhão do PT”. Integram o grupo Guido Mantega, Gleisi Hoffmann,
Paulo Bernardo e Edinho Silva. O procurador-geral pede ainda que os
petistas sejam condenados a indenizar a Petrobras em R$ 6,5 bilhões,
além do pagamento de R$ 150 mil por danos morais.
Atenção, meus caros! Se há coisa de que
tenho certeza é o fato de que o PT ter organizado uma estrutura para
assaltar o Estado brasileiro, por intermédio das estatais e demais
órgãos públicos. Mais do que uma determinação, eu diria que agir assim é
um mandamento da natureza petista, que mistura o público e privado; o
interesse nacional e as necessidades do partido; sua pantomima
particular com a história universal. Logo, acredito que, com efeito, os
crimes foram cometidos.
Dito isso, vamos ao ponto: será mesmo
que o melhor dia para ter apresentado essa denúncia era esta
terça-feira? No momento em que a Lava Jato passa para uma desmoralização
como nunca se viu; em que o procurador-geral é obrigado a vir a público
para admitir que seu braço direito conspirava contra os interesses do
país; em que alguns setores mesmerizados pelas mistificações do MPF — e
da PGR em particular — acordam para a realidade; a meros 12 dias de
entregar o cargo, eis que vem o sr. Janot para acusar Lula de ser o
comandante de uma organização criminosa? Vocês sabem: é aquele Power
Point de Deltan Dallagnol, o rapaz que ainda não negou com a devida
ênfase que vá ser candidato.
O apoio de esquerdistas à Lava Jato é,
no geral, pequeno. Os companheiros acham que se deu um golpe em Dilma
Rousseff com a ajuda dos procuradores — e de Janot em particular. A
operação tem se escorado numa versão rebaixada da direita, que abandonou
qualquer veleidade de economia política em favor do proselitismo mais
rasteiro. E Janot está a precisar de apoio, não é? Então ele não hesita: larga a denúncia
contra Lula ao mesmo tempo em que é obrigado a admitir as ilegalidades
da Lava Jato, o que os fanáticos sempre se negaram a ver — inclusive os
fanáticos do antipetismo. Se o acordo com Joesley feria o princípio de
uma certa moralidade abstrata, o que se descobriu no seio da Lava Jato
é, sem favor, uma espécie de… organização criminosa.
Reitero: pessoalmente, não tenho dúvida
de que o PT operou com o Estado brasileiro no formato de uma organização
criminosa. Mas essa questão, dadas a sua gravidade e a importância
política, poderia ficar sob os cuidados de Raquel Dodge, que vai
substituir Janot. Mas quê! Desmoralizado e humilhado, resolveu surfar
mais uma vez nas ondas fáceis do antipetismo. E resolveu tratar a
direita como o cão de Pavlov, aquele que baba. É claro que não será Janot a respeitar intelectualmente uma direita que não se respeita, certo?
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo