A travessia do vale da morte
Quando a
maré baixa é que se vê quem está nadando pelado! (Ou
como preservar seu emprego na crise)
A cínica afirmação
da presidente Dilma Rousseff de que a ”situação do país no ano que vem não deve
ser maravilhosa” deixa claro que não
vamos sair da recessão antes de pelo menos 2017.
Dona Luiza, presidente do Magazine Luiza, sempre tão otimista, na semana
passada jogou a toalha ao afirmar que “o
consumo não acabou... o que acabou foi o nível de confiança da população” e
anunciou “reduzimos em 30% os
investimentos em expansão”. Na verdade, apenas no
primeiro semestre deste ano Dona Luiza já demitiu 8% de sua equipe. Imagine
em 2016!
Com quase
160 milhões de pessoas em idade produtiva, o fato é que milhões de
brasileiros vão perder o emprego ou ver seus negócios estagnarem ou quebrarem
nos próximos meses.
Reconhecer que estamos começando a travessia do vale da
morte, como fez Dona Luiza, é
a primeira parte da solução dos nossos problemas. E
você? Já tem seu plano de sobrevivência? Nas empresas onde tenho
tido oportunidade de atuar como consultor de planejamento, tenho levado uma
mensagem que pode interessar às pessoas em geral e que pode ser traduzida em
uma agenda constituída de cinco pontos.
Primeiro
ponto: pensar e agir de forma
proativa. Assuma o protagonismo nas ações e deixe de pensar e agir como mero
empregado. Lembre-se de que Henry Ford
dizia que “há dois tipos de pessoas
que não interessam à uma boa empresa: as que não fazem o que se manda e as que
só fazem o que se manda”.
Segundo
ponto: assumir atitude construtiva e colaborativa. É uma
péssima ideia encarar a recessão como uma situação de salve-se quem puder. Seus
colegas estão no mesmo barco. Não encare a manutenção
de seu emprego como uma competição por um lugar no bote salva-vidas.
Terceiro
ponto: identificar
as oportunidades de redução de custos. Atreva-se, se ninguém ainda fez isso na
equipe, a listar até mesmo itens que parecem ser irrelevantes nos tempos ditos
normais. A maioria dos empregados ignora como devoram
orçamentos coisinhas que são vagamente catalogadas pelos contadores como
‘miscelânea’:
uma infinidade de itens invisíveis, que vai dos clipes,
papel, corretor, até custos de operação do dia a dia em fábricas, lojas e
escritórios.
Pesquise ampla e exaustivamente. Considere a
temperatura do ar refrigerado, café, açúcar, papel higiênico, energia elétrica
desperdiçada em luzes e equipamentos que não estão em uso, produtos de limpeza,
água mineral, amenidades diversas da vida corporativa, gastos que terceirizados
repassam, como limpeza e logística etc. Os grandes cortes ficam por
conta do financeiro, mas quanto maior a empresa, mais significativos são esses
custos. Ajude a descobri-los.
Quarto
ponto: produtividade. Isto
é, o desafio para fazer mais com menos
– o qual é para ser encarado e resolvido de forma colaborativa por sua equipe e
que pode resultar em caminhos transformadores na empresa. A recessão cria um
estímulo para que exploremos formas de buscar o potencial multiplicativo de
esforços individuais. Você sabia que no Japão as
crianças, desde o primeiro grau, são elas próprias responsáveis pela
limpeza de seus banheiros na escola e que isso só ocorreu na esteira da derrota
da Segunda Guerra? O brasileiro precisa de um choque de mentalidade em termos
de colaboração para a produtividade em todas as esferas de nossas vidas, seja
produtiva, escolar, familiar.
Esta agenda não poderia ser finalizada sem indicar
a habilidade mãe que caracteriza a nossa maior singularidade em relação às outras
espécies do reino animal: a capacidade
de criar inovação. Esta recessão é uma extraordinária oportunidade para ‘pensar
fora da caixa’ e para buscar inovar em múltiplas dimensões. Não tenho
dúvida: a capacidade de inovar e mudar na sociedade humana é muito mais
importante do que a capacidade darwinista de adaptação ao meio ambiente.
Me aponte
um indivíduo que considera esta agenda como bússola e eu aposto: não vai ser ele um dos demitidos nos meses à frente!
Fonte: Redação Época –
Ricardo Neves