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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

PT trata Dilma como tia excêntrica e incômoda e agravamento da crise mantém Dilma no córner


Dilma vive com o PT uma fase de estranhamento. Com atraso de duas semanas, o partido festejará seu aniversário de 36 anos neste sábado, no Rio de Janeiro. Crivado de investigações, Lula será o centro das atenções. O petismo irá afagá-lo com um caloroso desagravo. Quanto a Dilma, o PT a trata como uma tia excêntrica e incômoda, que precisa ser convidada para as reuniões de família porque, afinal, é da família.

Os mais impacientes recebem instruções para não ofender Dilma, salvo se for pelas costas ou nas conversas ao pé do ouvido. Os mais compreensivos são orientados a não encorajá-la a fazer um discurso longo. A tolerância que nem todos acham que a tia merece estará em perigo se ela escandalizar os presentes tentando convencê-los a apoiar a reforma da Previdência. Melhor evitar provocações. E só precisarão encontrá-la novamente, com polidez protocolar, em outra reunião familiar.

Ao farejar na atmosfera o tratamento de curiosidade anacrônica que lhe dispensam os companheiros, Dilma abespinhou-se. E construir uma desculpa para, eventualmente, faltar à celebração. Com viagem marcada para o Chile, pode cavar um atraso na agenda, de modo a retardar seu retorno ao Brasil.

Presidente do diretório do PT no Estado do Rio de Janeiro, Washington Quaquá, deu de ombros. Afirmou que o partido “não faz questão da presença de Dilma". Nesta sexta, a Executiva do PT federal deve aprovar um plano econômico alternative. Chama-se Plano Nacional de Emergência. Vai na contramão do que planeja tia Dilma. Inclui da queda brusca dos juros à elevação de gastos sociais e em infraestrutura. Sugere a abertura das arcas das reservas internacionais.

Se Dilma der as caras, será coadjuvante de Lula e atrairá olhares de irritação ou de condescendência. Se não for, liberará o petismo para se entregar ao boicote ao governo do PT. Sem constrangimentos. Prisioneiro de seus paradoxos, o PT pega em lanças contra o impeachment e se opõe ferozmente à hipótese de cassação do mandato presidencial no TSE. Mas já não sabe como lidar com a tia até 2018.

Agravamento da crise mantém Dilma no córner

Estava entendido que o governo seria outro depois que o STF jogou água fria na fervura do impeachment. Isso foi há dois meses. Nesse período, Dilma reagiu às crises que a rodeiam em três ritmos. Revelou-se intelectualmente lenta, moralmente ligeira e politicamente estagnada. Qualquer dessas velocidades é incompatível com a atmosfera de urgência.

A lentidão intelectual de Dilma é evidenciada pelo receituário do seu governo. Para estancar o derretimento da economia, a presidente sugere recriar a CPMF e reformar a previdência. A volta do tributo é rejeitada até pelos aliados. A reformulação do sistema previdenciário só existe no gogó. Diz-se que virá à luz em abril. O PT, partido de Dilma, não leu e não gostou. Informa que votará contra.

A ligeireza moral de Dilma se expressa nas suas reações à marcha da Lava Jato. “Não respeito delator”, já havia declarado a presidente, num dos atentados que promoveu contra a lei anticorrupção, que ela própria havia sancionado. Ao defender-se na ação que pede a cassação do seu mandato no TSE, a presidente revelou ter pouco respeito também pela lógica.

Por meio dos seus advogados, Dilma insinuou que não pode ser punida pela eventual perversão de seus benfeitores. “Se o doador obteve recursos de forma ilícita, […] essa ilicitude não se projeta sobre o donatário [beneficiário da doação], tornando-o partícipe confesso, até porque […] as empreiteiras doaram recursos para quase todas as campanhas mais importantes e de forma substancial para a campanha dos autores [o PSDB].”  Por esse raciocínio, Dilma não tem nada a ver também com eventuais ilicitudes praticadas por seu marqueteiro João Santana.

A estagnação política de Dilma está escancarada no desânimo de sua tropa. Em reuniões sequenciais com líderes governistas, a presidente passa a sensação de que algo está se movendo, quando nada sai do lugar exceto a nota do Brasil nas agências de classificação de risco, que cai; o PIB, que despenca; a dívida pública, que sobe; e a inflação, que foge ao controle. No Congresso, os cleptoaliados do Planalto, liderados por Eduardo Cunha, dedicam-se a preparar emboscadas que mantenham Dilma no córner, agarrada às cordas. Trava-se uma espécie de luta de boxe em que o país entra com a cara.

Fonte: Blog do Josias