J. R. Guzzo
Farra dos jatinhos
É
raro, hoje em dia, passar muito tempo sem que os ministros do Supremo
Tribunal Federal comprovem com algum ato concreto, individual ou
coletivo, o quanto contribuem para os piores usos e costumes da vida
pública brasileira.
Nisso aí pode-se contar tranquilamente com todos
eles: da mesma forma como produzem insegurança jurídica permanente, com
decisões que ignoram a lei para atender interesses políticos e pessoais,
é garantido que vão sempre optar pelo lado do mal quando se trata de
gastar o dinheiro do pagador de impostos.
Reportagem do jornalista Lúcio Vaz, na Gazeta do Povo,
comprova pela centésima vez essa degeneração serial. O presidente do
STF, ministro Luiz Fux, gastou um total de R$ 1,6 milhão com suas
viagens em jatinhos da Força Aérea Brasileira em 2021 – quase tudo em
viagens de ida e volta para a sua casa do Rio de Janeiro, ou 96 voos.
Não há o mais remoto vestígio de interesse público em nenhuma despesa
dessas – todas elas são estritamente pessoais.
Por que diabo o cidadão
teria de tirar dinheiro do seu bolso para pagar os voos particulares do
ministro Fux? Não há resposta possível para isso.
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência BrasilNão
estão incluídos neste total os gastos com os batalhões de agentes de
segurança pessoais do ministro – o STF decidiu que tais despesas, como
tantas outras, são “secretas”.
Qual o propósito de esconder uma
informação como essa?
É tudo abertamente mal-intencionado – e feito de
propósito.
Fux, na verdade, superou o recorde anterior do ministro Dias
Toffoli, que conseguiu socar em cima do pagador de impostos até uma
viagem para assistir à canonização da Irmã Dulce em Roma.
Fux,
naturalmente, não é o único que abusa de sua função e utiliza a FAB,
cada vez mais, como uma empresa de táxi aéreo. Na verdade, essa é uma
doença incurável da vida diária entre os sultões de Brasília – os que
estão sentados, o tempo todo, nos galhos mais altos da árvore do Estado.
É uma das mais agressivas demonstrações do escândalo permanente de um
setor público pervertido – que vive como a nobreza dos tempos do rei
Luiz XV e que, para sustentar os seus privilégios, trata os brasileiros
como escravos, cuja principal função nesta existência é trabalhar para
encher-lhes o bucho e pagar-lhes os jatinhos.
Da próxima vez que for ao posto de gasolina, fizer uma ligação no celular ou acender a luz de casa, lembre-se que uma parte do que você está pagando – e pode ser até 30% do total – vai servir para que o ministro Fux continue voando de cima para baixo em avião da FAB. Que tal? Excelente emprego dos impostos, não é mesmo?
É o que
se chama normalmente de “disfunção” – aquele tipo de patologia que
impede um órgão de funcionar como previsto e de cumprir, assim, as
tarefas para as quais existe.
O ministro Fux e seus 96 voos em 2021
provam, uma vez mais, que o STF deixou de ser funcional neste país.
J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo