São Francisco de Itabapoana tem 15,6% de
miseráveis, enquanto Resende contabiliza apenas 1,6%
[ATENÇÃO: a reportagem de ontem e esta mostram apenas um pouco MISÉRIA
REINANTE no Brasil.
Gostem ou não, dona Dilma e a trupe
petista tem que aceitar que (saber, já sabem) o Brasil é um país de miseráveis: basta lembrar que a presimente teve a desfaçatez de
declarar que havia acabado a miséria no Brasil
com o aumento da renda ‘per capita’ de
R$ 70 para R$ 72, quando até as
pedras sabem que quem passa fome recebendo setenta reais/mês passa a mesma fome recebendo setenta e dois
reais.
Mas o plano petista de
manutenção no poder é tão diabólico, tão desumano, que a idéia agora é Dilma
estabelecer uma recessão + inflação = estagflação e
com isso aumentar
os índices de miséria valorizando os insignificantes valores das bolsas e tornando-as mais
necessárias.
Na
campanha eleitoral de 2018, perder uma bolsa será bem mais trágico do que se
a perda ocorrer nos dias atuais.
RESUMO DA
MISÉRIA: OS BOLSISTAS – QUE EM 2018,
INFELIZMENTE, SERÃO MAIS NUMEROSOS E
MAIS MISERÁVEIS QUE OS DE AGORA
– votarão em
massa no nosso Guia que terá o cinismo de repetir a velha história: que se a oposição ganhar as bolsas
serão extintas e considerando que a maioria dos
eleitores estão pensando com o estômago e que quem pensa com a barriga
não pensa nada aproveitável há grande risco de Lula ser reeleito.
Essa perspectiva trágica impõe uma
necessidade inadiável: Lula
tem que no mínimo estar preso em 2018 e inelegível – ele e toda a trupe
petralha.
O que nos dá essa certeza é fácil de
constatar: a miséria no
Brasil é várias vezes maior que a superficialmente apontada nas duas
reportagens e falamos de uma miséria crescentes.]
Num
Rio de disparidades superlativas, cabe um Brasil inteiro. Se o Norte e Noroeste fluminense
têm municípios com indicadores sociais que se aproximam do Norte e Nordeste do
país, o estado também tem seu Sul maravilha, na região do Médio Paraíba, além
de uma área metropolitana adensada e cheia de desafios, que se assemelha ao
Sudeste brasileiro.
Entre São Francisco de Itabapoana, num dos extremos do estado, e Resende, na outra ponta do território fluminense, a distância é muito maior do que sugerem os 480 quilômetros
que separam os dois municípios. Enquanto a cidade do Norte Fluminense
tem, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, 15,6% de seus moradores na extrema pobreza — o pior índice do
estado, comparável aos do Nordeste —, a do Médio Paraíba registra 1,6% de miseráveis —
percentual igual ao de Santa Catarina, que tem a menor
taxa entre as 27 unidades da federação. A segunda reportagem da série “Os miseráveis” revela os
contrastes de um Rio desigual.
Como O GLOBO na reportagemdeste domingo, o estado tem 3,77% de sua
população
(565.135 pessoas) vivendo na pobreza extrema,
de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Já o
Ministério do Desenvolvimento Social, que dispõe de dados sobre os 92
municípios fluminenses, utiliza critérios diferentes dos do Ipea e contabiliza
1,74% de miseráveis, ou 283 mil pessoas.
Perto do petróleo, que na última década alavancou
a economia do estado, mas longe da prosperidade vivida por cidades como Macaé e
Campos — hoje afetadas pela crise no
setor —, São Francisco de Itabapoana tem 41.354
habitantes (Censo 2010), sendo 6.452 extremamente pobres, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social. E não
é difícil entender por que tantos vivem na penúria. De acordo com números do
Ministério do Trabalho, no início deste ano, havia apenas 1.878 empregos formais na cidade. O que resta é a informalidade, na qual imperam salários de, no máximo, R$ 200, como o da empregada
Jocilene Melo, que não tem carteira assinada nem sonha com os direitos
assegurados pela PEC das Domésticas.
Em São Francisco de Itabapoana, município do Norte Fluminense que tem maior percentual de...Foto: Gustavo Stephan / Agência O Globo
Na localidade do Valão Seco, o machadeiro Almir Alves Pereira segue a mesma profissão que garantia o sustento do avô, no século passado. Cata madeira seca no mato e a entrega na casa de quem usa fogão a lenha para economizar gás. O trabalho rende R$ 50 por mês: — Pego água para beber na torneira do banheiro de uma venda. Não tenho energia elétrica, nem vela em casa. Acordo com o sol e durmo quando anoitece.
Descalço
ou com o único par de chinelos surrados, ele segue para o trabalho diário numa bicicleta montada com o que achou na rua, puxando uma
carrocinha também feita do que encontrou no lixo. A estrada corta a região
mais pobre de São Francisco, que pode até enganar com terras cultivadas de
abacaxi, cana e aipim. Mas, com muitas propriedades arrendadas por produtores
capixabas, que trazem trabalhadores do Espírito Santo,
a roça ali costuma produzir muito suor, mas pouca esperança.
Marinho e Kátia Periquito, na mansão onde
moram, em Resende: município tem alguns dos melhores indicadores sociais do
estado - Márcia Foletto / Agência O
Globo
A história de Valdir Barreto de Lima, de 45 anos, é um retrato do que ocorre no município, onde mais de 40% dos moradores recebem Bolsa Família. Para ele, não há emprego formal. Uma rotina tão pesada que, não à toa, usa a expressão “bater-se” como sinônimo de trabalho. — É trabalho duro, que nem burro aguenta. Até febre dá. O dedo fica duro de tanto bater facão. Mas temos que suportar. Aqui não existe serviço. Quando aparece, é empreitada de cana. Tenho que me “bater” o dia inteiro para conseguir R$ 150 a R$ 200 por mês. O jeito é comprar fiado. Devo R$ 800 no sacolão, R$ 600 numa venda, R$ 500 em outra... E é só de comida — diz Valdir.
Numa tentativa de ascensão social, ele
chegou a deixar a roça para trabalhar como gari em Cabo Frio, na Região
dos Lagos. Mas foi parar no hospital, com dores no
coração. Recebeu a recomendação de repouso, que não cumpriu: — Sabe quantos filhos eu tenho? Sete, eu disse ao doutor. Vão sobreviver de
quê?
Já no Noroeste
Fluminense, região com menor PIB do estado, a estrutura de trabalho ainda lembra a do século
XIX, quando imigrantes ou ex-escravos ficavam presos a
propriedades rurais devido às dívidas contraídas com os donos das terras. Hoje,
em São José do Ubá, alguns trabalhadores das lavouras de tomate nem veem a cor do
dinheiro, porque são os patrões que pagam as
dívidas que eles acumulam em mercados e vendas.
Onde o Bolsa Família pesa mais
Zilma
de Souza, em São José de Ubá, ganhar R$ 200 como cozinheira num restaurante,
que junta aos R$ 70 que tem do Bolsa Família - Gustavo Stephan / Agência O
Globo
Mais grave ainda é quando há miséria de um lado e corrupção do outro. Em São Sebastião do Alto, na Região Serrana, que aparece na lista dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, em março o então prefeito Mauro Henrique Chagas (PT) foi preso em flagrante pela Polícia Federal, sob acusação de receber propina de empresa que faria obras nas áreas de saúde e saneamento. Enquanto isso, na zona rural do município, um dos mestres da folia de reis da região, Matozinho José da Silva, de 59 anos, sobrevive com R$ 79 do Bolsa Família, numa casa de estuque que, para pagá-la, deu em troca a sanfona, o pandeiro e o violão: — A vida aqui não vai para frente nem para trás. E tem hora que descontrola tudo.
De
descontrole, o casal
Josimar Resende e Nazarini Moura, de Sumidouro, entende.
Empregado até seis meses atrás, ele
conseguiu construir uma casa com quarto, banheiro e cozinha. Mas, desde que
perdeu o emprego, vive com os R$ 128 que a mulher ganha
revendendo biscoitos. Semana passada, o almoço do casal era arroz. E uma salsicha. — Só tem essa, vamos ter que dividir —
resignou-se Nazarini.
Privações
como as vividas em cidades como São Francisco de Itabapoana são raridade em Resende, no Médio
Paraíba. Estrategicamente localizada entre Rio e São Paulo, a cidade viu sua economia deslanchar depois
de receber montadoras de automóveis na década de 1990. Foram oferecidos
cursos profissionalizantes para qualificar a mão de obra da região. O resultado
é uma cidade com pouca miséria à vista, e tranquilidade para os moradores de
renda mais alta. — Aqui, as pessoas mais
pobres, que iriam para a construção civil, vão para as montadoras, se
qualificaram. A cidade mudou muito de perfil, mas ainda tem clima de interior.
De vez em quando, alguém fala que teve um assalto, mas eu durmo com a porta
destrancada — diz Kátia Periquito, que mora num dos condomínios mais
luxuosos da região.
‘HISTÓRIAS DA MISÉRIA’ Carla Nascimento, em Itaocara, está grávida do sexto filho. Mas quatro deles ela já teve de entregar ao conselho tutelar - Gustavo Stephan / Agência O Globo
Claro, no município também há pobreza. Assim como a miséria pode ser encontrada em menor grau, mas também existe em Nova Friburgo, na Região Serrana, e Comendador Levy Gasparian, no Centro-Sul Fluminense, cidades donas dos menores percentuais de pobreza extrema no estado, segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento Social, com base no Censo de 2010 do IBGE. Nos dois municípios, eram apenas de 1,3% de miseráveis. Já em Porto Real, vizinha de Resende, no Médio Paraíba, esse percentual era de 1,4%. E, em Quatis, na mesma região, de 1,5%.
Aos 50
anos, Zilma de Souza trabalha a semana inteira. Não
folga nem em dia santo e feriado. Ela é cozinheira num restaurante em São José
de Ubá, no Noroeste Fluminense. Mas, sem
carteira assinada, o que ganha por mês não passa dos R$200, muito distante do
salário mínimo de R$788. Ela complementa a renda com R$ 70 do Bolsa Família. E só, na cidade com maior percentual da
população recebendo o programa do governo federal. Segundo dados de janeiro
de 2015, são 42,51% dos moradores
beneficiadas, num município que tem o terceiro menor Produto Interno Bruto
(PIB) do Rio. - O que dificulta mais é que meu marido, que trabalhava na roça, sofreu
um acidente de moto. Ele está em casa. E a família depende do meu dinheiro. É
pouquinho, mas agradeço a Deus - diz Zilma, que mora no Morro do Pinhão,
perto do Centro de São José de Ubá.
Um alto
percentual de moradores recebendo o Bolsa Família, no entanto, não é
exclusividade do município. Outros três têm mais de 40% da população
beneficiada: Varre-Sai (41,64%), no Noroeste Fluminense; Silva Jardim (40,67%),
nas Baixadas Litorâneas; e São Francisco de Itabapoana (40,24%), no Norte
Fluminense. Todos têm índices próximos de estados como Pernambuco e Sergipe, no
Nordeste, e do Pará, no Norte.
São
pessoas como Cenilda Guilherme dos Santos, que recebe R$ 170 do programa,
fundamental para as despesas da casa, em Barra de Itabapoana, no extremo norte
de São Francisco de Itabapoana. - O
problema é que a inflação tem nos prejudicado muito na hora de ir ao mercado.
Está tudo caro, e o que recebo dá para cada vez menos - diz Cenilda.
Em
contraposição, os municípios com menos
moradores cadastrados no Bolsa Família, proporcionalmente, são Resende (7,7% dos habitantes), Nova Friburgo (8,71%).
Sofro
desde o berço.
A afirmação não é um exagero de Carla
Nascimento. Com
dias de vida, sua mãe a abandonou num curral de boi, na zona rural de
São Sebastião do Alto, na Região Serrana. O primeiro
bebê ela teve aos 17 anos e, hoje, aos 29, está grávida do sexto filho. Com problemas de alcoolismo, contudo,
teve quatro deles retirados de seus cuidados pelo conselho tutelar. Agora, Carla vive com um único filho, o pequeno Luiz Otávio, de 3
anos, num recanto isolado de Itaocara, no Noroeste Fluminense, conhecido
como Ponte da Jararaca. E não segura as
lágrimas toda vez que lembra de seu passado.
Sem
renda alguma, nem Bolsa Família, Carla só não passa fome porque tem a ajuda do pai, com
quem vive, e da tia que a criou depois de ter sido abandonada no curral. O que
não significa que ela encontre facilidades na vida. Roupa para o bebê que está prestes a nascer, ela não tem uma única
peça. Dorme num sofá, enquanto seu pai descansa do
trabalho na roça no chão. E, sim, embora viva numa região de
propriedades rurais, com plantações ou criações de gado, às vezes a comida é escassa. - Só às vezes dá para comer carne. A comida
tem que ser angu e feijão - relata ela.
O último
trabalho de Carla foi alguns meses atrás, como caseira num sítio em
Teresópolis, na Serra. Mas de três meses trabalhados,
ela só recebeu o salário do primeiro. E quando só tinha canjiquinha e taioba para comer, resolveu
abandonar o serviço. - Eu trabalhava e passava fome. Meu filho
chorava o tempo inteiro, e acordava de noite com fome. Não resisti àquilo. Vim
embora - diz ela. - Quando minha filha Dáfini nascer, vou ver o que Deus
vai agir na nossa vida. Meu desejo é ter uma casa para mim e meus filhos, todos
juntos.
Chefe de
Economia Empresarial do Sistema Firjan, Tatiana Sanchez apontou as características
dos municípios que apresentaram os piores resultado no último Índice Firjan de
Desenvolvimento Municipal (IFDM), divulgado em 2014, referente a indicadores
sociais de 2011. Segundo ela, os municípios com menor desenvolvimento têm seus
principais problemas no mercado de trabalho e na saúde. - No mercado de trabalho, não só é baixa a geração de vagas formais de
emprego, bem como é baixo o nível salarial. Na saúde, os principais problemas
estão na cobertura de consultas pré-natal e no número de internações que
poderiam ter sido evitadas caso a atenção básica de saúde tivesse sido efetiva
- diz ela.
‘palavra de especialista’
Em Sumidouro, 10,59% das
crianças viviam na extrema pobreza, segundo dados do Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento, com base em dados do Censo de 2010 - Márcia Foletto / Agência O Globo
Em Japeri, na Região Metropolitana, com o pior resultado no levantamento, a condição de desenvolvimento, aponta ela, é similar à de municípios do interior do Norte e do Nordeste. - Além dos problemas comuns aos municípios de pior classificação no Rio, Japeri divide ainda com os municípios de menor classificação no Brasil questões como a baixa inserção da população em idade ativa no mercado formal de trabalho.
Já Santa
Maria Madalena, na Serra, com a penúltima posição, tem baixa capacidade de
criação de vagas formais. O que afeta
também São Sebastião do Alto, na 90ª posição, e Varre-Sai, na 89ª. Em outro índice que analisa os indicadores
socieconômicos dos municípios, o de Desenvolvimento Humano, do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento, Sumidouro, na Região Serrana, aparece no
último lugar.
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