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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Bandido é bandido. Policial é policial. Não importa que o policial morra, quem não pode morrer é o bandido


Vamos dar um basta nos PMs homicidas


O vídeo da Providência é um dos maiores golpes à política de pacificação das favelas do Rio 

Chega. Não é mais possível correr o risco de ter assassinos a sangue frio em Unidades de Polícia Pacificadora. Não dá mais para deixar soltos por aí, com pompa e autoridade, com farda e arma, bandidos do quilate dos que mataram um rapaz de 17 anos no Morro da Providência e, depois, forjaram um auto de resistência. [adendo: rapaz de 17 anos, com ligações no tráfico. Ao ser abordado pela polícia, aparentemente, se rendeu. Aparentemente, já que o vídeo cuja autenticidade não foi comprovada - nada garante que não seja uma montagem - não mostra o inicio da operação. Estranhamente, o autor do vídeo, morador da favela e cineasta, só ficou curioso quando o ex-coroinha, e até o dia dos fatos traficante de drogas, estava rendido.]  Em bom português: os cinco PMs alteraram a cena do crime para fazer crer que haviam matado em legítima defesa, em confronto com traficantes.

O vídeo, filmado por moradores da Providência, é de dar nojo. O nojo vem da certeza de que essa não é uma ação rara. Seria irresponsável generalizar e dizer que quase todo auto de resistência em favelas é uma farsa. Seria injusto com tantos PMs no Rio de Janeiro que arriscam suas vidas entrando em becos dominados por criminosos. Muitos policiais também acabam morrendo a tiros. Mas esse vídeo é a comprovação do que nós sabemos: muitos "autos de resistência" são, na verdade, execuções. E isso é inadmissível.

Estamos todos cansados dos adjetivos superlativos. O governador Pezão qualifica de "abominável" a cena dos policiais colocando a arma na mão do jovem ensanguentado e semimorto, atirando duas vezes para simular reação do rapaz. O secretário de Segurança José Mariano Beltrame reage como sempre reagiu, de maneira digna: "A maneira que eu tenho de me desculpar com a população do Rio de Janeiro é colocando essas pessoas na rua. Não há outro tipo de alternativa e atitude a ser tomada, de maneira rápida. Essas pessoas não são dignas de participar de um programa (UPP) que está salvando vidas", disse Beltrame.

Eu não quero esses policiais na rua. A população das favelas e do asfalto não quer esses PMs na rua. Ok, eles estão presos. Por quanto tempo? A prisão foi decretada pela Justiça. Mas, uma hora qualquer, bem antes do correto, esses PMs estarão de volta às ruas.  [outro lembrete: centenas de bandidos, muitos assassinos e traficantes de drogas,. são presos em flagrante delito e dias depois estão nas ruas, são liberados pela Justiça para aguardar julgamento em liberdade. A lei tem que valer para todos. Se o bandido pode aguardar o julgamento em liberdade, o policial  tem o mesmo direito. Além da disposição legal, os policiais possuem emprego e residência fixa, não possuem antecedentes criminais  - requisitos que os bandidos favorecidos com a liberdade provisória nunca tem.] Não serão mais policiais. Serão apenas o que sempre foram. Bandidos, assassinos. Homens que desonram a corporação, comprometem os colegas e acham favelados "um lixo", como denunciou um morador tratado assim pelos PMs. O rapaz havia se rendido. Mãos ao alto nos filmes de bangue-bangue significa render-se, submeter-se à Justiça dos homens. Não dá. Algo precisa ser feito.

Esse vídeo é um dos maiores golpes à política de pacificação das favelas. O objetivo original era colocar nas UPPs policiais diferentes, formados em filosofia, direitos humanos. [exigir da polícia tais requisitos seria desperdício. O mais necessário para um policial - em qualquer área de uma cidade, seja na favela ou no assalto, na periferia ou em bairro nobre, é ser dedicado ao serviço, honesto e atirar bem.] Seria uma espécie de polícia de proximidade. Deu tudo errado? Sem políticas sociais, sem a ajuda do Estado, temos então esquadrões de extermínio misturados a bravos homens? A resposta para essa segunda pergunta é: temos, sim. Temos exterminadores. E eles precisam ser investigados e desmascarados antes de cometer crimes como esse – e não depois. A inteligência da Segurança precisa funcionar melhor para coibir esses elementos.

A banda podre da PM pode estar escrevendo a sentença de morte da corporação. Reestruturar as polícias para que os bons patrulhem com credibilidade e imponham respeito precisa ser a tônica do comando de segurança. O Estado deveria processar esses PMs em nome da família do rapaz, deveria contratar um advogado criminal para conseguir uma condenação a 30 anos de prisão para esses cinco agentes. Chamar esse homicídio, com alteração da cena do crime, de "desvio de conduta" é incentivar outras ações do mesmo tipo. Deixar esses cinco PMs uns aninhos na prisão de policiais não adianta nada como exemplo. [esta semana um policial foi atacado por traficantes, amarrado a um cavalo e arrastado, vivo, pelas ruas de uma favela. Pouco se escreveu sobre o caso. Já sobre o ex-coroinha, o 'santo' que já não era santo, escreveram verdadeiros tratados, defendendo mais um 'di menor' que, felizmente, não mais cometerá crimes.]

Eduardo Felipe Santos Victor, de 17 anos, foi o rapaz morto pelos cinco PMs. Era o Pintinho ou Felipe da Provi, assim se identificava em seu perfil no Facebook. Era tricolor. Foi coroinha mas a fé escafedeu-se num beco qualquer, no vício ou no tráfico. Soltava pipa mas vendia droga, segundo amigos. Deixou a escola no nono ano. Numa família de oito irmãos, um acaba no tráfico. Seria esse o destino inexorável em comunidades que o Estado abandona?

O governador Pezão está "triste" por saber que "um agente do estado, uma pessoa em que nós investimos, que fez concurso, que treinou, que está na comunidade para levar a paz, praticou um ato como este". Não basta, governador. Não basta também pedir desculpas à população,  secretário Beltrame. Não basta expulsar. Não basta lembrar que mais de 2 mil policiais já foram afastados das ruas por erros em serviço. Sim, são ao todo 60 mil policiais, muitos do bem. Mas todos nós temos certeza de que os PMs bandidos não são só 2 mil. 

O governador aproveita para lembrar como é também terrível a cena do jovem de 17 anos que "arrasta um policial com um cavalo e mata". Mas não está na hora de lembrar o que os bandidos fazem com policiais. Porque bandido é bandido. Policial deveria ser policial.

 Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época