Os governos petistas sempre tiveram como meta
fortalecer as estatais como o melhor meio de combater as propostas de
privatização, reais ou imaginárias. Importante esta última ressalva
porque, a rigor, privatizar a Petrobras nunca entrou na pauta política
brasileira.
Mas isso não importava. Defender as estatais, eis o
discurso básico do PT. O partido também procurou desmontar a tese
implantada no governo FH, segundo a qual as companhias públicas deveriam
ser administradas profissionalmente, quase como se fossem privadas, por
executivos e quadros técnicos do setor.
Isso, dizia Lula, era neoliberalismo. Seria colocar as estatais a serviço do mercado e dos interesses privados. Vai daí, as estatais deveriam ser administradas
pelos quadros partidários, pelos companheiros, para que fossem
encaminhadas na direção correta. Essa direção era: ampliar as atividades e o alcance
das estatais; objetivos políticos e sociais eram mais importantes que
lucros ou valor de mercado; comprar e contratar no mercado nacional,
mesmo que a preços mais caros.
Fizeram isso, com requintes de populismo, como o de
entregar a administração de recursos humanos da Petrobras a
representantes dos sindicatos de petroleiros. Quebraram a estatal. Vamos falar francamente: a
Petrobras só não está em pedido de recuperação judicial porque é
estatal. Todo mundo espera que, em algum momento, o governo imprima
dinheiro para capitalizar a empresa.
A companhia tem problemas em todos os lados,
inclusive de excesso de pessoal e de pessoal mais bem remunerado que no
mercado. (Aliás, a ideia era exatamente essa). A Petrobras não quebrou apenas por corrupção. A
causa maior é a péssima administração, consequência daqueles
“princípios” estatistas.
Por isso estamos falando do assunto. O estatismo tem
sido dominante entre nós. E ainda hoje, muita gente partilha daquelas
ideias implantadas pelo PT. Diz esse pessoal: a coisa saiu mal por causa
da incompetência dos governos Lula e Dilma, e não porque a tese seja
errada. Esse é o grande risco que corremos. O modelo
populista está errado, a doutrina estatista é origem do fracasso. Nem um
gênio da gestão empresarial conseguiria evitar o desastre da Petrobras
nesse processo em que foi lançada por Lula.
Vai daí que será preciso aproveitar a oportunidade
para fazer o contrário, em tudo. Citamos mais a Petrobras porque é o
caso mais notável. Imaginemos uma teoria conspirativa: um presidente
neoliberal que tivesse a ideia macabra de quebrar a Petrobras para poder
fechá-la e, assim, coloca-se uma equipe talhada para produzir o
desastre. Pois não teria conseguido fazer o que a gestão petista aprontou.
Hoje, por exemplo, seria impossível privatizar a
Petrobras — a menos que se vendesse a preço de banana. E por falar
nisso, a ação da Petrobras não está mesmo valendo menos que um cacho de
bananas? Mas é possível — e absolutamente necessário — vender
pedaços da Petrobras e privatizar um monte de ativos. E o que sobrar
deve, sim, ser administrado por quadros do mercado, com regras de gestão
privada.
O presidente da companhia também deveria ser
procurado no mercado, inclusive no mercado internacional. Qual o
problema de se colocar um executivo chinês ou norueguês tomando conta da
Petrobras, conforme programas aprovados pelos conselhos? Isso vale para as demais estatais quebradas, como a Eletrobras.
E mais um programa de privatização não envergonhada.
Quando percebeu que não tinha mais dinheiro nem competência para
arrumar aeroportos, estradas, portos etc., o governo petista resolveu
concedê-los à iniciativa privada. Mas como era feio privatizar,
colocaram um monte de regras que tornaram o negócio menos atraente e
mais caro para os concessionários.
Por isso, isso andou mal. Fazendo o contrário, aqui há uma hipótese de rápida
retomada de negócios. Muitas empresas médias, nacionais e estrangeiras,
estão prontas para tomar o negócio das empreiteiras apanhadas na
Lava-Jato. O que não funciona é privatizar e dizer que o concessionário
não pode ganhar dinheiro ou só pode ganhar quanto o governo autorizar.
Tudo isso vale também para os bancos públicos. Todo o
mercado desconfia que estão em situação pior do que no final dos anos
90, quando o governo FH precisou colocar um monte de dinheiro no BB e na
Caixa. A contrapartida foi a gestão profissional nesses bancos, também desmontada pelos governos petistas. Quebraram de novo.
A tristeza disso é que os governos Lula/Dilma
estragaram o que estava pronto e funcionando. O que traz um certo ânimo é
que sabemos o que precisa fazer: é só repetir a combinação
privatização/profissionalização/equilíbrio das contas públicas. O país já havia conseguido enterrar o populismo
estatizante. Ressuscitou. Agora é preciso corrigir o desastre e colocar
esse populismo numa cova bem profunda, em algum cemitério privado,
claro.
Fonte: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - http://www.sardenberg.com.br/