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Nesses pouco mais de três anos de
mandato, Mourão não mudou de pensamento, mas portou-se como alguém que
tem noção da posição que ocupa. Soube adaptar-se à liturgia do cargo.
Assumiu posições mais moderadas que o chefe em diversas ocasiões, a
ponto de ter sido visto como uma solução para substituir Bolsonaro em
caso de impeachment, exatamente o contrário do que Bolsonaro e seus
filhos queriam quando o convidaram para o cargo.[não há, nem nunca houve, motivo para general Mourão ser visto como uma solução para substituir Bolsonaro - caso o presidente tivesse cometido algum crime - o vice-presidente, general Mourão, é o substituto legal do presidente da República em seus afastamentos, temporários ou definitivos.]
Exatamente por
Mourão ser mais moderado que o desejado, Bolsonaro deu várias
demonstrações públicas de que não o queria mais, deixou de convocá-lo
para reuniões ministeriais e tirou-o antecipadamente da chapa pela
reeleição. Não quer dizer que Mourão tenha se tornado um liberal da
noite para o dia, mas, de que é mais civilizado do que Bolsonaro, não há
dúvidas. Braga Netto, ao contrário, foi endurecendo à medida que o
tempo passava, e o gosto pelo poder aumentava.
Sua última atuação
pública havia sido como interventor no Rio de Janeiro para combater a
violência das milícias, e o resultado foi bom. O general teve um bom
desempenho na função e demonstrava capacidade de diálogo com políticos e
jornalistas. Quando foi indicado para ministro-chefe da Casa Civil,
fazia parte daquela turma de militares identificados como os
“moderadores” de Bolsonaro, os que atuariam nos bastidores para contê-lo
nos arroubos autoritários.
Ao contrário, quem controlou Braga
Netto e outros militares de seu entorno foi o próprio Bolsonaro. Os que
não concordaram com os rumos que o governo ia tomando foram
paulatinamente sendo jogados para fora, transformaram-se em inimigos,
mais que adversários.
Braga Netto já demonstrou que é da linha
dura, saudosista dos tempos militares. É uma jogada de risco para
Bolsonaro. O Centrão queria um político como vice, e, com a escolha de
Braga Netto, o presidente demonstra que não confia muito no grupo. Com
um político do Centrão como vice, a chance de “armarem” contra ele
aumentaria muito. Com Braga Netto, fica quase impossível uma tentativa
de impeachment ou reação em alguma eventual dissidência com o governo,
caso Bolsonaro seja reeleito.
Bolsonaro está reforçando a imagem
de presidente linha-dura, extrema direita, militarista,, o que lhe
garante apoio de cerca de 30% do eleitorado mas não amplia sua votação [será?];
ao contrário, a restringe. Braga Netto não o ajuda a ganhar votos, mas
ajudará a governar, se vencer a eleição.
O Centrão já tenta
convencer Bolsonaro há bom tempo de que mais um general na chapa não é
bom para sua candidatura, mas ele agora quer é se defender do próprio
Centrão, a quem entregou o comando político do governo. Se reeleito,
até mesmo essa relação cordial e submissa com o Congresso voltará a ser
conflitante. O espírito autoritário de Bolsonaro e seu entorno será
reforçado pelo que entenderão ser o respaldo popular para avançar sobre a
democracia.[O chefe do Poder Executivo, autoridade máxima da Nação, tem a fama de autoritário; e na cúpula do Poder Judiciário, os dedos de uma mão não são suficientes para contar os que são autoritários ao extremo.]
Merval Pereira, colunista - O Globo