Se há algo realmente ruidoso e organizado, nestes dias, é o trabalho dos gestores da crise institucional no sentido de desestimular a
manifestação prevista para o dia 7 de setembro.
Da população, só o
silêncio lhes interessa.
O totalitarismo absorve os sentimentos, as
reflexões e opiniões divergentes como uma espécie de buraco negro,
desses existentes no universo atraindo o seu entorno.
Outro dia, um
canal de TV se manifestava preocupado com o custo e a origem dos
recursos financeiros envolvidos em eventos com a magnitude do previsto
para o dia 7. O “Inquérito do fim do mundo”, aliás, cumpre ordens
emanadas da mesma curiosidade.
Fiquei pensando no custo das horas de
rádio e TV, nas toneladas de papel de jornal, nos salários da multidão
de profissionais de comunicação social que atuam em defesa do
indefensável e na contramão da opinião pública.
Comparar o poder
econômico dos dois grupos é dar férias bem remuneradas ao bom senso e ao
realismo. Isso, porém, não importa porque, para eles, o sujeito do sofá
é um idiota incapaz de entender uma polegada além do que lhe dizem os
grandes grupos de comunicação.
Afirmam
categoricamente que as instituições estão cumprindo seu papel e o
presidente vive criando caso. Invertem a cronologia para inverter a
relação de causa e efeito.
Apenas muito recentemente o presidente passou
a reclamar dos notórios problemas que, de modo não raro grosseiro, o
STF lhe criou. As instituições se desestabilizam por si mesmas, virando
as costas para a sociedade e lendo a Constituição de cabeça para baixo.
Você já
percebeu quanto o STF muda de convicção?
De um dia para outro, o que era
a verdade soberana da Constituição passa a ser engano ou má
interpretação.
Pois esse mesmo poder se volta contra um indivíduo cuja
simples opinião, ou subjetiva interpretação da realidade, se confronta
com a convicção dos senhores ministros. Ora, convicção! [especialmente se a guinada favorece um amigo dos senhores ministros - ainda que criminoso multicondenado - ou possibilita prejudicar um apoiador do presidente.]
E veja a enorme
distância entre a “convicção” de uma Suprema Corte e suas consequências
e a “opinião” de um cidadão numa sociedade supostamente livre.
A
distopia entrou pela porta da frente, joga e apita o jogo. Assistimos à
estatização da verdade, saudada pela claque midiática. Ela precisa do
povo no sofá, indolente e silente.
De minha
parte, lamento o que está em curso no Brasil. O mesmo Congresso Nacional
e o mesmo STF, tão atentos e zelosos ante reclamos das minorias, por
estranhos motivos pedem submissão e voltam às costas a dezenas de
milhões de brasileiros.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.