A tragédia venezuelana – hoje no epicentro de uma crise geopolítica mundial – tem as digitais do PT.
Melhor do que a encomenda
[o Ministério da Justiça é o mais antigo dos ministérios civis - o da Marinha é o mais antigo entre os militares - e não pode, nem deve se ocupar de assuntos menores.
Foi um Ministério que teve a honra de ter entre seus titulares Luis Antonio da Gama e Silva e Armando Falcão, nomes que dispensam apresentações.]
As reclamações foram encaminhadas para a Policia Federal que certamente investigou e se nada encontrou é que nada havia a ser encontrado.
O desperdício com segurança do ex-parlamentar foi um ônus que ficou por conta da Polícia Legislativa.
Não cabe nenhuma manifestação do ministro da Justiça, que deve ter como norte em seus pronunciamentos o seguimento rigoroso da 'liturgia' do cargo.]
Não é um fato corriqueiro, aqui e em parte alguma do mundo, que um deputado federal renuncie ao mandato e abandone o país por sentir-se ameaçado de morte. É a negação do Direito. A renúncia de [j w] pode ter surpreendido todo mundo, até mesmo seus assessores avisados apenas uma hora antes do anúncio. Mas o perigo que ele corria era fato público, notório e antigo. Há pelo menos dois anos, [j w] recebia uma ou duas ameaças por semana em seus endereços eletrônicos ou por telefone. Ele documentou várias delas e as encaminhou às autoridades competentes.
A Polícia Federal chegou a abrir cinco investigações que deram em nada. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos alertou o governo brasileiro para o que ocorria e pediu providências. [o silêncio de Moro além do respeito à liturgia do cargo, oferece o bônus de evitar que suas manifestações tenham o mesmo valor das efetuadas pela tal CIDH = nenhum.] Ultimamente, o deputado vivia cercado de seguranças, só andava em carro blindado, e poucos no Rio conheciam seu endereço. A vida de [j w] virou um inferno. Foi então que ele desistiu de viver aqui. [uma mera sugestão - não entendam como ameaça: os insatisfeitos com o Brasil de agora e com o Brasil de um futuro não muito distante, estejam à vontade para abandonar a Pátria Amada - não tão amada pelos que a abandonam.
Deixar o Brasil, por livre e espontânea vontade não é crime, não implica em perder a nacionalidade;
só não pode deixar o Brasil os criminosos, os condenados, os foragidos, os que tem contas a acertar com a Justiça.]
Não se ouviu até agora uma única palavra de Moro a respeito. Ele teve tempo para dizer que o caso de Flávio Bolsonaro não afeta a imagem do governo, mas não teve para dizer que o de Wyllys afeta a do país. [Moro diante do escarcéu de parte da Imprensa em atribuir a Flávio Bolsonaro e a outros membros da família de Jair Bolsonaro, a responsabilidade por movimentações bancárias atípicas efetuadas por um ex-assessor do parlamentar, entendeu conveniente se manifestar para esclarecer que GOVERNO e FLÁVIO BOLSONARO são figuras distintas, que não se misturam nem tão pouco os atos de um reperceutem no outro.]
Para Bolsonaro, Moro como um dos dois guardiões do tempo (o outro é o Posto Ipiranga), está se saindo melhor do que a encomenda. A continuar assim, terá feito por merecer a indicação para uma vaga no Supremo Tribunal Federal.
O rumo que o país tomaria com a vitória petista
Hoje, o partido condena o gesto do governo Bolsonaro de não reconhecimento do novo mandato de Maduro, acusando-o de intromissão em assuntos internos do país. Mas foi exatamente isso que o PT mais fez ao longo de seus quatro mandatos na presidência.
A autodeterminação dos povos só é observada pelo partido quando se trata de defender aliados em situação adversa. A própria presidente do partido, Gleisi Hoffmann, não teve qualquer escrúpulo em pedir, na TV Al Jazeera, socorro aos árabes para libertar Lula. José Dirceu e o comando petista ameaçaram reiteradamente recorrer (e o fizeram) às cortes internacionais para tentar evitar o impeachment de Dilma Roussef e a prisão de Lula. Fracassaram. Não hesitaram também em ir à ONU obter de um sub-subcomitê de direitos humanos uma declaração, sem qualquer validade jurídica ou significação (já que se tratava de um órgão assessor, sem poder deliberativo), postulando que Lula, mesmo preso e condenado em segundo grau, fosse candidato a presidente.
Mas as digitais não são apenas do PT. Toda a esquerda a ele aliada – PcdoB, PSB, PDT, PSol – subscreveu esse apoio. O próprio Ciro Gomes, na campanha, sustentou que a Venezuela é democrática. Não há, pois, exagero em afirmar que era aquele o rumo que o país tomaria se o PT tivesse vencido as eleições presidenciais. Se aquele governo é democrático e o daqui ditatorial, como dizem os petistas, estamos diante de políticos que padecem, no mínimo, de disfunção cognitiva. Veem o mundo pelo avesso.
É o mesmo pessoal que diz que o Estado é laico, mas vai pedir ajuda ao Papa quando a barra pesa para seu lado. O agravamento da crise venezuelana, agora em patamar mais explosivo, por envolver potências antagônicas, aprofundará o descrédito interno da esquerda, que paralelamente continuará a prestar contas à Lava Jato. Seu contencioso não se esgotou. Os sobreviventes terão de partir do zero e refundar-se.
Prevê-se um realinhamento partidário, ao tempo em que o país terá de lidar com uma agenda complexa e inadiável, que envolve reformas tais como a da Previdência, da legislação penal, do Estado e as privatizações. O ano político costuma começar depois do carnaval, mas desta feita o precedeu e prenuncia grande agitação.
Ruy Fabiano é jornalista - Blog do Noblat - Veja