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sábado, 26 de janeiro de 2019

Fala aí, Moro e PT na crise venezuelana

A tragédia venezuelana – hoje no epicentro de uma crise geopolítica mundial – tem as digitais do PT.

Melhor do que a encomenda

[o Ministério da Justiça é o mais antigo dos ministérios civis - o da Marinha é o mais antigo entre os militares - e não pode, nem deve se ocupar de assuntos menores.

Foi um Ministério que teve a honra de ter entre seus titulares  Luis Antonio da Gama e Silva e Armando Falcão, nomes que dispensam apresentações.]

Como juiz, Sérgio Moro podia e devia falar somente nos autos. Na maioria das vezes, quando falou fora dos autos, teve o bom senso de silenciar sobre os processos aos seus cuidados.  Como ministro da Justiça é diferente. Tudo o que tenha a ver com Justiça e Segurança Pública é com ele – do combate à corrupção à situação das penitenciárias. Sua palavra tem peso. [convenhamos que o combate à corrupção e a situação nas penitenciárias tem mais importância do que as reclamações - ao que tudo indica infundadas - de um deputado que se notabilizou pela propensão a escândalos e a prática do esporte 'cusparada'.

As reclamações foram encaminhadas para a Policia Federal que certamente investigou e se nada encontrou é que nada havia a ser encontrado.

O desperdício com segurança do ex-parlamentar foi um ônus que  ficou por conta da Polícia Legislativa.

Não cabe nenhuma manifestação do ministro da Justiça, que deve ter como norte em seus pronunciamentos o seguimento rigoroso da 'liturgia' do cargo.]

Não é um fato corriqueiro, aqui e em parte alguma do mundo, que um deputado federal renuncie ao mandato e abandone o país por sentir-se ameaçado de morte. É a negação do Direito. A renúncia de [j w]  pode ter surpreendido todo mundo, até mesmo seus assessores avisados apenas uma hora antes do anúncio. Mas o perigo que ele corria era fato público, notório e antigo.  Há pelo menos dois anos, [j w]   recebia uma ou duas ameaças por semana em seus endereços eletrônicos ou por telefone. Ele documentou várias delas e as encaminhou às autoridades competentes.

A Polícia Federal chegou a abrir cinco investigações que deram em nada. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos alertou o governo brasileiro para o que ocorria e pediu providências. [o silêncio de Moro além do respeito à liturgia do cargo, oferece o bônus de evitar que suas manifestações tenham o mesmo valor das efetuadas pela tal CIDH = nenhum.Ultimamente, o deputado vivia cercado de seguranças, só andava em carro blindado, e poucos no Rio conheciam seu endereço. A vida de [j w]  virou um inferno. Foi então que ele desistiu de viver aqui. [uma mera sugestão - não entendam como ameaça: os insatisfeitos com o Brasil de agora e com o Brasil de um futuro não muito distante, estejam à vontade para abandonar a Pátria Amada - não tão amada pelos que a abandonam.
Deixar o Brasil, por livre e espontânea vontade não é crime, não implica em perder a nacionalidade;
só não pode deixar o Brasil os criminosos, os condenados, os foragidos, os que tem contas a acertar com a Justiça.]

Não se ouviu até agora uma única palavra de Moro a respeito. Ele teve tempo para dizer que o caso de Flávio Bolsonaro não afeta a imagem do governo, mas não teve para dizer que o de Wyllys afeta a do país. [Moro diante do escarcéu de parte da Imprensa em atribuir a Flávio Bolsonaro e a outros membros da família de Jair Bolsonaro, a responsabilidade por movimentações bancárias  atípicas efetuadas por um ex-assessor do parlamentar, entendeu conveniente se manifestar para esclarecer que GOVERNO e FLÁVIO BOLSONARO são figuras distintas, que não se misturam nem tão pouco os atos de um reperceutem no outro.]
 
Para Bolsonaro, Moro como um dos dois guardiões do tempo (o outro é o Posto Ipiranga), está se saindo melhor do que a encomenda. A continuar assim, terá feito por merecer a indicação para uma vaga no Supremo Tribunal Federal.

O rumo que o país tomaria com a vitória petista


A tragédia venezuelana – hoje no epicentro de uma crise geopolítica mundial – tem as digitais do PT.  Não fosse o apoio explícito dado pelo partido, ao tempo em que presidia o Brasil – e dispunha de meios para sustentar política e financeiramente aquele aliado -, o regime não teria ido tão longe. Além de subir nos palanques de Chavez e Maduro, Lula disponibilizou a ambos o esquema de propinas das empreiteiras, de que se valia internamente, para garantir sucessivas reeleições daqueles governantes – sem esquecer, claro, dos cofres do BNDES.
Hoje, o partido condena o gesto do governo Bolsonaro de não reconhecimento do novo mandato de Maduro, acusando-o de intromissão em assuntos internos do país. Mas foi exatamente isso que o PT mais fez ao longo de seus quatro mandatos na presidência.

A autodeterminação dos povos só é observada pelo partido quando se trata de defender aliados em situação adversa. A própria presidente do partido, Gleisi Hoffmann, não teve qualquer escrúpulo em pedir, na TV Al Jazeera, socorro aos árabes para libertar Lula. José Dirceu e o comando petista ameaçaram reiteradamente recorrer (e o fizeram) às cortes internacionais para tentar evitar o impeachment de Dilma Roussef e a prisão de Lula. Fracassaram.  Não hesitaram também em ir à ONU obter de um sub-subcomitê de direitos humanos uma declaração, sem qualquer validade jurídica ou significação (já que se tratava de um órgão assessor, sem poder deliberativo), postulando que Lula, mesmo preso e condenado em segundo grau, fosse candidato a presidente.

Mas as digitais não são apenas do PT. Toda a esquerda a ele aliada – PcdoB, PSB, PDT, PSol – subscreveu esse apoio. O próprio Ciro Gomes, na campanha, sustentou que a Venezuela é democrática.  Não há, pois, exagero em afirmar que era aquele o rumo que o país tomaria se o PT tivesse vencido as eleições presidenciais.  Se aquele governo é democrático e o daqui ditatorial, como dizem os petistas, estamos diante de políticos que padecem, no mínimo, de disfunção cognitiva. Veem o mundo pelo avesso.

É o mesmo pessoal que diz que o Estado é laico, mas vai pedir ajuda ao Papa quando a barra pesa para seu lado.  O agravamento da crise venezuelana, agora em patamar mais explosivo, por envolver potências antagônicas, aprofundará o descrédito interno da esquerda, que paralelamente continuará a prestar contas à Lava Jato. Seu contencioso não se esgotou. Os sobreviventes terão de partir do zero e refundar-se.

Prevê-se um realinhamento partidário, ao tempo em que o país terá de lidar com uma agenda complexa e inadiável, que envolve reformas tais como a da Previdência, da legislação penal, do Estado e as privatizações. O ano político costuma começar depois do carnaval, mas desta feita o precedeu e prenuncia grande agitação.

Ruy Fabiano é jornalista - Blog do Noblat - Veja