Além
de ser um anacronismo e de envolver um grave erro estratégico, a política adotada
pelos governos petistas foi usada como instrumento de banditismo
Em maio de 2010 o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, acompanhado de sua ministra Dilma Rousseff, candidata à sucessão
presidencial, chefiou
a cerimônia de lançamento do navio João Cândido, fabricado para a Petrobras. As
imagens da cerimônia – de fato um comício
eleitoral – foram transmitidas muitas vezes. Mas o
navio ficou no estaleiro, porque poderia ir para o fundo se tentassem fazê-lo
navegar. Já havia custado muito mais do que poderia custar um petroleiro
importado, mas, além disso, foi efetivamente lançado apenas dois anos depois.
Esse é um bom exemplo da
desastrosa política de conteúdo nacional imposta pelo governo petista, a partir de 2003, à maior
estatal brasileira. A novidade, agora, é o aparecimento de um relatório do
Tribunal de Contas da União (TCU) sobre os efeitos
dessa aberração. A pilhagem da Petrobras, a maior estatal, foi
facilitada pela política de conteúdo nacional, como confirma o documento,
noticiado em reportagem do jornal Valor.
O trabalho do TCU enfatiza o erro
de concepção econômica e administrativa, mas a história completa deve incluir
muito mais que isso. Ao converter a
Petrobras em instrumento de estímulo à indústria, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de forçá-la a suportar custos mais altos, criou
condições para a bandalheira amplamente exposta na Operação Lava Jato. Os
efeitos do erro administrativo e do banditismo já foram pelo menos em parte
reconhecidos na contabilidade oficial da companhia.
Mesmo sem os efeitos da
corrupção, a exploração de petróleo e gás seria muito prejudicada. Basta levar em conta, em
primeiro lugar, a enorme diferença entre os preços de equipamentos e
componentes nacionais e importados. Alertado pela Agência Nacional do Petróleo,
em 2009, o governo preferiu desconhecer os problemas. Essa atitude foi mantida pela presidente Dilma
Rousseff, segundo o TCU.
Os autores do relatório usaram
números da indústria naval para exemplificar as diferenças de custos. A comparação mostra os
diferentes prazos necessários para a construção de um navio-plataforma. Aparecem no quadro dois estaleiros coreanos, com tempos de
construção de 8 e de 12 meses. A
companhia japonesa incluída na exemplificação também demora 12 meses para entregar o navio. O estaleiro Rio
Grande, citado como exemplo brasileiro,
gasta 44 meses.
A demora
muito maior dos fornecedores brasileiros tem como efeito um segundo problema.
Ao custo maior do produto nacional é preciso acrescentar o atraso na execução
dos programas da empresa. A combinação dos dois problemas – preço dos equipamentos e componentes e
demora na entrega – também reduz a capacidade de investimento, porque
inevitavelmente afeta as finanças da companhia.
Do ponto
de vista da gerência, a política de conteúdo nacional ainda envolve um erro tão
grave quanto elementar. Quando se deixam em segundo plano os objetivos centrais
da empresa, para atender a finalidades acessórias, as perdas estratégicas podem
ser enormes. Uma das perdas mais visíveis, nesse caso, é o atraso na exploração
do pré-sal, um empreendimento complexo e custoso e, no entanto, tratado como
assunto secundário. Além de ser um anacronismo e de
envolver um grave erro estratégico, a
política de conteúdo nacional foi usada como instrumento de banditismo. A
preferência forçada ao fornecedor local favoreceu a realização de contratos criminosos,
com propina, sobrepreço e nenhum cuidado com prazos e qualidade.
Tudo isso
foi mostrado pelas investigações da Operação Lava Jato, mas novos pormenores ou
mesmo capítulos inteiros ainda poderão enriquecer essa história.Essa política também estimulou aventuras
irresponsáveis, como a criação da Sete Brasil, uma empresa fracassada, até agora, como
fornecedora de sondas, mas
muito eficiente como fonte de perdas para fundos de pensão de estatais e bancos
controlados pela União. É o desenvolvimento à moda do PT.
Fonte: Editorial do Estadão – Coluna do Augusto Nunes -
VEJA