Os petistas obtiveram, na média, um empenho de verbas do Orçamento superior àquilo que conseguiram os tucanos que votaram contra a denúncia
Entrevistei ontem, no programa “O É da Coisa”,
o presidente Michel Temer. Perguntei a ele como respondia à crítica de
que estava comprando votos dos deputados com a liberação de emendas. Ele
negou a acusação, que eu já sabia ser falsa, diga-se. Mas tinha a
obrigação de indagá-lo a respeito. Eu mesmo lembrei que a Emenda
Constitucional 86 tornou impositiva as chamadas emendas parlamentares. O
Orçamento reserva, neste ano, R$ 6,3 bilhões para este fim. Na conversa
com Temer, destaquei o caso da deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), uma
das que acusaram o presidente de comprar parlamentares. Ela própria está
entre as que receberam as maiores dotações. Trato do assunto na minha coluna da Folha.
Pois é… Algumas línguas de trapo
resolveram atacar a mim e ao presidente. Estaríamos, ora vejam!,
mentindo sobre os números. Em conjunto. Clique aqui para
ouvir o que disse o presidente a respeito, a partir de 24min05s. A
edição desta sexta da Folha traz uma reportagem sobre a distribuição de
emendas. Ela prova, com dados, que Temer e eu falamos a verdade.
O problema é que a opinião pública está
pilhada pela irresponsabilidade de vigaristas, de idiotas, de canalhas,
que falam o que lhes dá na telha, sem nenhum compromisso com os fatos.
Antes de tratar dos números da Folha, algumas considerações. Não estou nesta profissão a passeio.
Também estou aqui para exibir minha lindeza. Antes de opinar, pesquiso,
investigo, pergunto, escarafuncho. Já disse algumas vezes: opinião é
como orelha, joelho, cotovelo e traseiro: todo mundo tem. Existem as
opiniões qualificadas e as desqualificadas.
Uma fala judiciosa que se ancore num
dado errado, numa informação falsa, numa impossibilidade, é, por si, uma
opinião errada. Ainda que possa apontar para um horizonte que
consideremos correto. Eu exemplifico. Opino que é preciso que se adotem
medidas duras para que as empresas paguem suas respectivas dívidas com a
Previdência. Ok. Mas é um erro afirmar que, se isso for feito, então se
pode dispensar a reforma do setor. E por que é assim?
Porque a dívida das empresas com a
Previdência, como lembrei na conversa de ontem com o presidente, é um
estoque, é limitado, e o rombo do setor é um fluxo, é permanente, existe
ano após ano. Assim, ainda que seja correto opinar que as empresas têm
de pagar o que devem, trata-se de um erro afirmar que se trata de uma
alternativa à reforma. Querem o contrário? Pois não!
Se o Estado decidir eliminar de pronto
todos os portadores de uma determinada doença contagiosa, em vez de
tratá-los ou de permitir que se tratem, mais cedo o mal será debelado, e
menos pessoas serão contaminadas. Pergunta: seria ético fazê-lo? É
aceitável a opinião de que esse é um bom caminho?
Opinião é matéria delicada, queridos!
Nas democracias, é, a um só tempo, esplendor e sepultura. Querem outro
caso polêmico? Quantos de nós, ao passar pelas cracolândias da vida, já
não pensamos: “Essa gente tem de sair daí!” E tem. Uns dirão: “Os
viciados não podem privatizar o espaço público”. Outro ainda: “Meu
direito de ir e vir não pode ser tolhido por essas pessoas”. Tudo
verdade! Opiniões, no entanto, têm consequências. Como iremos tirá-los
de lá? Pessoas as mais distintas no credo, na
ideologia, nos valores podem, ora vejam!, concordar quanto aos fins, os
objetivos, aquilo que se quer alcançar. O que as diferencia são os meios
— razão por que revi o que Maquiavel nunca disse e cravei: os meios
qualificam os fins. Nunca se junte a alguém apenas porque ambos querem a
mesma coisa. Cumpre que você pergunte a quais meios a pessoa está
disposta a recorrer para alcançar seus objetivos.
Agora aos dados
De fato, os empenhos com emendas parlamentares foram crescendo: R$ 768 milhões em maio; R$ 1,6 bilhão em junho; R$ 1,9 bilhão em julho. Como aponta a Folha, não há nem correlação entre os votos dos deputados e a liberação de emendas: na média, cada parlamentar que votou com Temer teve liberados R$ 3,4 milhões, e os contrários, R$ 3,2 milhões. Isso é média. A comunista Alice Portugal conseguiu R$ 10,5 milhões.
De fato, os empenhos com emendas parlamentares foram crescendo: R$ 768 milhões em maio; R$ 1,6 bilhão em junho; R$ 1,9 bilhão em julho. Como aponta a Folha, não há nem correlação entre os votos dos deputados e a liberação de emendas: na média, cada parlamentar que votou com Temer teve liberados R$ 3,4 milhões, e os contrários, R$ 3,2 milhões. Isso é média. A comunista Alice Portugal conseguiu R$ 10,5 milhões.
A acusação é de tal sorte mentirosa que
os petistas, que votaram unanimemente contra Temer, receberam mais, na
média, do que os tucanos que votaram com o presidente: R$ 3,85 milhões
contra R$ 3,53 milhões. Assim, meu querido leitor, você tem todo
o direito, claro!, de opinar que o presidente Temer comprou os votos
dos parlamentares. Mas será uma opinião falsa, uma opinião burra, uma
opinião mentirosa. Os números a desmentem.
Muito provavelmente, você está se
deixando contaminar pela gritaria de pistoleiros e pistoleiras que falam
o que lhes dá na telha porque, de resto, não são nem mesmo donos de sua
opinião. Estão a serviço de candidaturas e de interesses nem sempre
postos à luz do dia. Para encerrar: segundo exigência da
Emenda Constitucional 86, 50% do valor que for liberado em emenda têm de
ser destinados à Saúde. E um número final: as emendas parlamentares
correspondem a apenas 1,2% da receita corrente líquida prevista no
projeto orçamentário enviado pelo governo.
Cuidado com a peixaria de onde saiu o produto que você anda consumindo. Opinião estragada é mais tóxica do que peixe podre.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo