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sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Folha prova que Temer disse a verdade sobre emendas; opinião pode ser mais tóxica que peixe podre

Os petistas obtiveram, na média, um empenho de verbas do Orçamento superior àquilo que conseguiram os tucanos que votaram contra a denúncia

Entrevistei ontem, no programa “O É da Coisa”, o presidente Michel Temer. Perguntei a ele como respondia à crítica de que estava comprando votos dos deputados com a liberação de emendas. Ele negou a acusação, que eu já sabia ser falsa, diga-se. Mas tinha a obrigação de indagá-lo a respeito. Eu mesmo lembrei que a Emenda Constitucional 86 tornou impositiva as chamadas emendas parlamentares. O Orçamento reserva, neste ano, R$ 6,3 bilhões para este fim. Na conversa com Temer, destaquei o caso da deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), uma das que acusaram o presidente de comprar parlamentares. Ela própria está entre as que receberam as maiores dotações. Trato do assunto na minha coluna da Folha.

Pois é… Algumas línguas de trapo resolveram atacar a mim e ao presidente. Estaríamos, ora vejam!, mentindo sobre os números. Em conjunto. Clique aqui para ouvir  o que disse o presidente a respeito, a partir de 24min05s. A edição desta sexta da Folha traz uma reportagem sobre a distribuição de emendas. Ela prova, com dados, que Temer e eu falamos a verdade.

O problema é que a opinião pública está pilhada pela irresponsabilidade de vigaristas, de idiotas, de canalhas, que falam o que lhes dá na telha, sem nenhum compromisso com os fatos. Antes de tratar dos números da Folha, algumas considerações.  Não estou nesta profissão a passeio. Também estou aqui para exibir minha lindeza. Antes de opinar, pesquiso, investigo, pergunto, escarafuncho. Já disse algumas vezes: opinião é como orelha, joelho, cotovelo e traseiro: todo mundo tem. Existem as opiniões qualificadas e as desqualificadas.

Uma fala judiciosa que se ancore num dado errado, numa informação falsa, numa impossibilidade, é, por si, uma opinião errada. Ainda que possa apontar para um horizonte que consideremos correto. Eu exemplifico. Opino que é preciso que se adotem medidas duras para que as empresas paguem suas respectivas dívidas com a Previdência. Ok. Mas é um erro afirmar que, se isso for feito, então se pode dispensar a reforma do setor. E por que é assim?

Porque a dívida das empresas com a Previdência, como lembrei na conversa de ontem com o presidente, é um estoque, é limitado, e o rombo do setor é um fluxo, é permanente, existe ano após ano. Assim, ainda que seja correto opinar que as empresas têm de pagar o que devem, trata-se de um erro afirmar que se trata de uma alternativa à reforma.  Querem o contrário? Pois não!

Se o Estado decidir eliminar de pronto todos os portadores de uma determinada doença contagiosa, em vez de tratá-los ou de permitir que se tratem, mais cedo o mal será debelado, e menos pessoas serão contaminadas. Pergunta: seria ético fazê-lo? É aceitável a opinião de que esse é um bom caminho?

Opinião é matéria delicada, queridos! Nas democracias, é, a um só tempo, esplendor e sepultura. Querem outro caso polêmico? Quantos de nós, ao passar pelas cracolândias da vida, já não pensamos: “Essa gente tem de sair daí!” E tem. Uns dirão: “Os viciados não podem privatizar o espaço público”. Outro ainda: “Meu direito de ir e vir não pode ser tolhido por essas pessoas”. Tudo verdade! Opiniões, no entanto, têm consequências. Como iremos tirá-los de lá? Pessoas as mais distintas no credo, na ideologia, nos valores podem, ora vejam!, concordar quanto aos fins, os objetivos, aquilo que se quer alcançar. O que as diferencia são os meios — razão por que revi o que Maquiavel nunca disse e cravei: os meios qualificam os fins. Nunca se junte a alguém apenas porque ambos querem a mesma coisa. Cumpre que você pergunte a quais meios a pessoa está disposta a recorrer para alcançar seus objetivos.

Agora aos dados
De fato, os empenhos com emendas parlamentares foram crescendo: R$ 768 milhões em maio; R$ 1,6 bilhão em junho; R$ 1,9 bilhão em julho. Como aponta a Folha, não há nem correlação entre os votos dos deputados e a liberação de emendas: na média, cada parlamentar que votou com Temer teve liberados R$ 3,4 milhões, e os contrários, R$ 3,2 milhões. Isso é média. A comunista Alice Portugal conseguiu R$ 10,5 milhões.

A acusação é de tal sorte mentirosa que os petistas, que votaram unanimemente contra Temer, receberam mais, na média, do que os tucanos que votaram com o presidente: R$ 3,85 milhões contra R$ 3,53 milhões.  Assim, meu querido leitor, você tem todo o direito, claro!, de opinar que o presidente Temer comprou os votos dos parlamentares. Mas será uma opinião falsa, uma opinião burra, uma opinião mentirosa. Os números a desmentem.

Muito provavelmente, você está se deixando contaminar pela gritaria de pistoleiros e pistoleiras que falam o que lhes dá na telha porque, de resto, não são nem mesmo donos de sua opinião. Estão a serviço de candidaturas e de interesses nem sempre postos à luz do dia.  Para encerrar: segundo exigência da Emenda Constitucional 86, 50% do valor que for liberado em emenda têm de ser destinados à Saúde. E um número final: as emendas parlamentares correspondem a apenas 1,2% da receita corrente líquida prevista no projeto orçamentário enviado pelo governo.

Cuidado com a peixaria de onde saiu o  produto que você anda consumindo. Opinião estragada é mais tóxica do que peixe podre.