Nas cordas, com o impacto da conspiração para calar Nestor Cerveró, governo precisa reagir e tratar da pauta econômica que deve ser aprovada no Congresso
Reeleita em outubro do ano passado, a presidente Dilma, a esta altura
em 2014, já sinalizava que não iria cumprir promessas de palanque, pois
se sabia que estava prestes a anunciar Joaquim Levy para o Ministério
da Fazenda. O que de fato aconteceu: Levy foi nomeado e houve a guinada
do governo real em relação àquele virtual, apresentado na propaganda
petista.
A popularidade de Dilma começou a desabar, e a presidente se fechou em Palácio. A situação se repete, enquanto repercute a devastadora gravação feita por Bernardo, filho do ex-diretor Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, de conversas entre ele e o senador Delcídio Amaral (PT-MS), o chefe de gabinete do parlamentar, Diogo Ferreira, e o advogado Edson Ribeiro, sobre um esquema para silenciar o pai, em tratativas para testemunhar na Operação Lava-Jato. Em troca, o banqueiro André Esteves (BTG Pactual) financiaria a fuga de Cerveró e sustentaria o ex-diretor e família.
A prisão do grupo, na quarta-feira, parece ter jogado o Planalto nas cordas — como aconteceu no início do mandato. Há motivos para o desnorteamento. Cerveró teria citado Dilma em depoimento, no caso da refinaria de Pasadena, e, na questão legislativa, Delcídio era peça-chave na defesa dos projetos do ajuste fiscal no Senado. Além de presidir a Comissão de Assuntos Econômicos da Casa, ele é o relator do projeto de legalização de recursos não declarados remetidos por brasileiros para o exterior, uma fonte potencial de receita num governo em extrema penúria.
O Planalto, porém, precisa reagir, junto com o que resta da base parlamentar, porque estão em aberto, no Congresso, questões sérias em torno do Orçamento do ano que vem e mesmo metas fiscais ainda de 2015. No início do ano, havia alguma margem de tempo para o Planalto se adaptar à realidade — parecia que a própria presidente acreditara no enredo de ficção da campanha.
Mas agora, não. A existência de uma conspiração mafiosa para calar e tirar do país testemunha relevante no petrolão, com a participação de um senador petista, por si só degrada a atmosfera tensa no Congresso. Em que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem sobre a cabeça a espada do Ministério Público Federal e usa o poder de dar andamento a um processo de pedido de impeachment de Dilma como escudo. Já o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é outro citado na Operação Lava-Jato.
O quadro político ruim piora o cenário deteriorado da economia. E se o Planalto voltar a cair em estado de depressão, tudo piorará ainda mais. Dentro do governo, também é preciso resolver logo as divergências sobre a meta do superávit primário de 0,7% do PIB para o ano que vem. E quanto à meta fiscal deste ano, não esquecer que este governo não tem qualquer margem de credibilidade para falsear nas contas públicas. O crédito acabou faz tempo, e continuam em questão novos rebaixamentos na nota de risco do país.
Fonte: Editorial - O Globo
A popularidade de Dilma começou a desabar, e a presidente se fechou em Palácio. A situação se repete, enquanto repercute a devastadora gravação feita por Bernardo, filho do ex-diretor Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, de conversas entre ele e o senador Delcídio Amaral (PT-MS), o chefe de gabinete do parlamentar, Diogo Ferreira, e o advogado Edson Ribeiro, sobre um esquema para silenciar o pai, em tratativas para testemunhar na Operação Lava-Jato. Em troca, o banqueiro André Esteves (BTG Pactual) financiaria a fuga de Cerveró e sustentaria o ex-diretor e família.
A prisão do grupo, na quarta-feira, parece ter jogado o Planalto nas cordas — como aconteceu no início do mandato. Há motivos para o desnorteamento. Cerveró teria citado Dilma em depoimento, no caso da refinaria de Pasadena, e, na questão legislativa, Delcídio era peça-chave na defesa dos projetos do ajuste fiscal no Senado. Além de presidir a Comissão de Assuntos Econômicos da Casa, ele é o relator do projeto de legalização de recursos não declarados remetidos por brasileiros para o exterior, uma fonte potencial de receita num governo em extrema penúria.
O Planalto, porém, precisa reagir, junto com o que resta da base parlamentar, porque estão em aberto, no Congresso, questões sérias em torno do Orçamento do ano que vem e mesmo metas fiscais ainda de 2015. No início do ano, havia alguma margem de tempo para o Planalto se adaptar à realidade — parecia que a própria presidente acreditara no enredo de ficção da campanha.
Mas agora, não. A existência de uma conspiração mafiosa para calar e tirar do país testemunha relevante no petrolão, com a participação de um senador petista, por si só degrada a atmosfera tensa no Congresso. Em que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem sobre a cabeça a espada do Ministério Público Federal e usa o poder de dar andamento a um processo de pedido de impeachment de Dilma como escudo. Já o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é outro citado na Operação Lava-Jato.
O quadro político ruim piora o cenário deteriorado da economia. E se o Planalto voltar a cair em estado de depressão, tudo piorará ainda mais. Dentro do governo, também é preciso resolver logo as divergências sobre a meta do superávit primário de 0,7% do PIB para o ano que vem. E quanto à meta fiscal deste ano, não esquecer que este governo não tem qualquer margem de credibilidade para falsear nas contas públicas. O crédito acabou faz tempo, e continuam em questão novos rebaixamentos na nota de risco do país.
Fonte: Editorial - O Globo