Segundo o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Sérgio Fontes, as consequências se tornariam imprevisíveis
O secretário de Segurança Pública do Amazonas, Sérgio
Fontes, afirmou na manhã desta segunda-feira que a gestão da rebelião
que terminou com pelo menos 60 mortos em Manaus “foi a única possível”. Ele lamentou o número elevado de mortes, mas disse que “muitas vidas foram poupadas”.
Policiais patrulham área em volta do
Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, após rebelião
que deixou dezenas de mortos e feridos, no Amazonas - 02/01/2017 (Marcio Silva/AFP)
A rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj),
em Manaus, iniciada neste domingo, durou mais de dezessete horas e
deixou ao menos 60 presos mortos, segundo informações do governo do
Amazonas. Muitos dos detentos foram decapitados e esquartejados. A
situação foi contornada na manhã desta segunda-feira. O número de
mortos, porém, já configura a maior matança em presídios do país desde o
massacre do Carandiru. “A invasão do presídio não era viável. As consequências
seriam imprevisíveis”, disse ele. Segundo o secretário, a postura de
negociação fez com que muitos tivessem “as suas vidas preservadas”. Além
dos doze funcionários, outros 74 presos foram feitos reféns, vários
deles amarrados nas grades.
O governo do Amazonas vai alugar um contêiner frigorífico
para que os corpos possam ser preservados até a necrópsia. “Vamos tentar
fazer o trabalho da maneira mais rápida possível para que possamos
entregá-los para as respectivas famílias”, afirmou Fontes. Ele disse que durante a tarde terá uma reunião com o
governador José Melo de Oliveira (Pros) para definir a estratégia a ser
tomada após a rebelião. Mais cedo, o governador falou por telefone com o
ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.
O Ministério da Justiça ofereceu vagas para eventuais
transferências para presídios federais e o envio da Força Nacional de
Segurança ao Estado. O governador disse que vai utilizar os mais de 44
milhões de reais que o Fundo Penitenciário Nacional enviou ao Fundo
Penitenciário do Amazonas na última quinta-feira. O secretário confirmou que pelo menos 87 presos fugiram do
Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat). No Complexo Penitenciário
Anísio Jobim (Compaj), o número ainda é desconhecido. Será feita uma
contagem nesta tarde para saber quantos detentos conseguiram escapar.
Facções
Os presídios estão localizados no quilômetro 8 da BR 174
(que liga Manaus a Boa Vista) e foram tomados por bandidos que integram a
Família do Norte (FDN), a maior facção na Região Norte do país. Cerca
de 300 detentos teriam conseguido fugir e, até o fim da noite,
quinze haviam sido recapturados.
Dentro das cadeias, no entanto, a FDN iniciou o ataque aos
rivais do Primeiro Comando da Capital (PCC). Em outubro, pelo menos 25
morreram em rebeliões em Rondônia, Roraima e Acre nesta disputa de
controle. A guerra foi um dos motivos que fizeram o PCC paulista (maior
facção do país) rachar com o Comando Vermelho, que se aliou à FDN.
Em vídeos que circulam entre policiais, há uma cena em que
detentos enfileiram cinco cabeças decapitadas e e as identificam por
nomes que seriam membros do PCC.
Houve confronto com a PM quando policiais tentaram retomar o
controle do Compaj. Uma dezena de funcionários foi feita refém. Todos
foram liberados na manhã esta segunda-feira.
Matanças
O número de mortes no presídio de Manaus já é o maior
em presídios do país desde o massacre do Carandiru, em 1992, em São
Paulo, quando uma ação policial deixou 111 presos mortos na casa de
detenção. Desde então, há outras tragédias no sistema carcerário
nacional, como a rebelião em 2004 na Casa de Custódia do RJ, quando morreram 31 pessoas e o motim no presídio de Urso branco (RO), que deixou 27 mortos em 2002. Houve ainda a rebelião no Complexo Penitenciário de Pedrinhas (MA) em 2010, com 18 mortos.
Fonte: VEJA