A coroa de espinhos que
Dilma Rousseff carrega por conta de seus desacertos na condução da
política e da economia no primeiro mandato tem espinhos suficientes para
agravar-lhe a dor da expiação. Poderia, portanto, poupar-se, e aos
brasileiros, das canhestras tentativas de tapar o sol com a peneira na
questão do escândalo da Petrobrás. Dias atrás, em entrevista à televisão
francesa, a presidente da República irritou-se com uma pergunta sobre
se “assumiria suas responsabilidades” no caso de ser comprovado seu
envolvimento com a corrupção na estatal: “Eu não respondo a essa questão
porque sei que não tenho nada a ver. Eu sei o que faço. Lutarei até o
fim para mostrar que não estou envolvida. Tenho uma história. Nunca fui
acusada de nada”.
Pouco antes, Dilma havia tentado dissociar a
Petrobrás do escândalo, alegando que as investigações da Operação Lava
Jato atingem apenas alguns funcionários da estatal: “É importante
entender que a Petrobrás tem mais de 30 mil empregados e são 5
envolvidos”. Garantiu ainda que não há “nenhum indício” de que pelo
propinoduto da estatal tenham transitado recursos destinados a sua
campanha reeleitoral. As entrevistas à TV France 24 e a outras
emissoras e jornais europeus foram concedidas a propósito da viagem de
Dilma a Bruxelas para participar da reunião de cúpula entre a União
Europeia e a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos
(Celac).
O público francês não há de ter opinião formada sobre a
possibilidade de envolvimento de Dilma no esquema de corrupção da
Petrobrás. No Brasil, a tendência é de acreditar que esse envolvimento
não implique a participação da então ministra de Minas e Energia, depois
chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da
estatal, no sentido de locupletar-se com as ações ilícitas. Apesar da
perda de credibilidade política e de popularidade, mantém-se a aura de
honestidade pessoal de Dilma. Mas é impossível de acreditar – levando em
consideração as posições que ocupou no governo, com alguma
responsabilidade em relação à Petrobrás, e suas características de
gestora centralizadora e detalhista – que Dilma não tivesse informação
ou nem desconfiasse da trama criminosa que durante tantos anos
movimentou bilhões de reais praticamente sob seu nariz. Para onde
estaria ela olhando, a ponto de ignorar completamente o que se passava
na empresa à qual, como ministra de Minas e Energia e da Casa Civil e,
depois, como presidente da República, dava especial atenção?
Nessas entrevistas, Dilma entrou em contradições e inconsistências. À TV
francesa negou veementemente que sua campanha se tenha beneficiado do
petrolão, para afirmar em seguida, reclamando de “perseguição”, que
“todas as campanhas”, em 2014, receberam contribuição das empresas
envolvidas no escândalo: “Eu não sei por que só a minha (campanha) foi
destacada”.
Ao jornal belga Le Soir, Dilma explicou, sobre a
substituição de diretores da Petrobrás por ocasião de sua posse na
Presidência: “Essas cinco pessoas já não estavam na Petrobrás desde o
fim de 2011. Não porque eram suspeitos, mas porque eles não faziam parte
dos membros da equipe em que eu confio”. Mas não explicou as razões de
sua desconfiança em relação a diretores nomeados durante o governo Lula e
com os quais conviveu, pelo menos formalmente, enquanto presidiu o
Conselho da empresa.
Quanto ao bisonho argumento de que não se
pode falar em escândalo “da Petrobrás” porque apenas 5 de seus mais de
30 mil funcionários estão sendo acusados de corrupção, é o caso de
lembrar-lhe que cada centavo dos bilhões de reais foi surrupiado “da
Petrobrás”.
Dilma Rousseff parece não ter aprendido, depois das
patranhas que disse durante a campanha eleitoral – e pelas quais paga
caro, agora –, que o peixe morre pela boca. Foi assim, por paradoxal que
pareça, que ela começou a perder sua credibilidade e a aprovação
popular no momento em que conseguiu ganhar a eleição de outubro. Não é
com tentativas canhestras de tapar o sol com a peneira que ela
recuperará a confiança dos brasileiros.
Fonte: O Estado de São Paulo - Editorial
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quinta-feira, 11 de junho de 2015
O Sol e a peneira
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