O que se ouve nos áudios que registraram conversas
nada republicanas entre o presidente Michel Temer e o senador Aécio
Neves com o dono da JBS Joesley Batista, em momentos distintos, é uma
série de crimes sendo descritos, sendo premeditados. E demonstram que
continua em marcha uma ação no Congresso para anistiar os parlamentares
acusados de corrupção na Operação Lava-Jato e obstruir as investigações.
As
conversas demonstram que os procuradores de Curitiba e o Juiz Moro têm
razão ao defender as prisões preventivas alongadas para impedir que os
crimes continuem acontecendo. Mesmo assim, eles acontecem, como fica
claro nos diálogos. Eduardo Cunha tem a atuação semelhante aos chefes de
facções criminosas, que continuam controlando o crime de dentro da
cadeia.
Tanto Temer quanto Aécio Neves, presidente afastado do
PSDB, pedem apoio do empresário para que pressione parlamentares ainda
indecisos – como o presidente da Câmara Rodrigo Maia – e também que
organize uma ação de empresários para conseguir a aprovação no Congresso
da anistia política, esta uma sugestão de Temer que ele pede para que
não seja atribuída a ele. O presidente Michel Temer ouviu relatos
estarrecedores de Joesley sobre ações de apoio ao ex-presidente da
Câmara Eduardo Cunha e ao doleiro Lucio Funaro, a partir do minuto 11 do
vídeo: "Zerei tudo, liquidei tudo e ele foi firme. Veio cobrou, eu
acelerei o passo e tirei da frente", diz o empresário. Joesley disse
ainda que Cunha, mesmo na cadeia, cobrava o que considerava ser uma
dívida de propinas.
A certa altura, Joesley diz que, depois de
todas essas providências, está bem com Eduardo Cunha, e ouve do
presidente Temer: “Tem, que manter isso, viu?”. A sequência da conversa
não deixa dúvidas, como ressalta o Procurador-geral Rodrigo Janot, de
que falavam de dinheiro que Joesley dava aos dois presos “todo mês. Eu
tô segurando as pontas."
Além do relato sobre a mesada a Cunha,
Joesley Batista deu detalhes estarrecedores ao presidente Michel Temer
sobre como está “se defendendo” das investigações de que é acusado.
Contou que está “segurando” o juiz e o juiz-substituto do caso, estaria
tentando mudar o procurador “que está atrás de mim”, e conseguira
infiltrar um procurador na força-tarefa que investiga a JBS. O
presidente Temer ouviu tudo sem pelo menos um comentário crítico, e
quando reagiu, foi para repetir: “Está segurando os dois”. O procurador
infiltrado é Ângelo Goulart, preso ontem pela Operação Patmos. Ele já
esteve no Congresso defendendo as 10 medidas contra a corrupção
apresentadas pelos procuradores de Curitiba.
Essas mesmas
medidas, apresentadas como soluções para a crise moral em que estamos
afundados, seriam o instrumento para uma legislação que anistiaria os
parlamentares acusados de corrupção. O senador Aécio Neves, suspenso
de suas funções parlamentares pelo ministro do Supremo Luiz Edson
Fachin, comentou com Joesley que estavam trabalhando em um projeto de
anistia dentro das 10 medidas contra a corrupção. Em um linguajar
recheado de palavrões, ele relatou que “o negócio agora não dá para ser
mais na surdina, tem que ser o seguinte: todo mundo assinar, o PSDB vai
assinar, o PT vai assinar, o PMDB vai assinar, tá montada. A ideia é
votar na... Porque o Rodrigo devolveu aquela tal das Dez Medidas, a
gente vai votar naquelas dez... Naquela merda das Dez Medidas toda essa
porra”.
Resolvido isso, o senador Aécio Neves diz que o projeto é
“entrar no abuso de autoridade”. Ele garante que já conversou com o
presidente Michel Temer, que prometeu aprovar a nova legislação. O
presidente Michel Temer disse ontem à tarde, em tom enfático, que não
renunciará por que sabe o que fez e não teme delações premiadas. Temer
parece ter perdido a noção do que seja certo ou errado, já que a
conversa que teve com o empresário Joesley Batista o desqualifica para
continuar exercendo a presidência da República.
Fonte: Merval Pereira - O Globo
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sexta-feira, 19 de maio de 2017
Crimes em série
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