Normalmente comedido, o ministro Sergio Moro (Justiça) perdeu a calma
com o presidente da Câmara. Além de retardar a tramitação do pacote anticrime
de Moro, Maia declarou que o texto não passa de um "copia e cola" de
outra proposta que já tramita na Câmara, de autoria do ministro do STF
Alexandre de Moraes. O deputado desdenhou do pedido de urgência de Moro, a quem
chamou de "funcionário do presidente Jair Bolsonaro." Moro respondeu
que seu projeto é "inovador e amplo". Reiterou que tem pressa. E
insinuou que a sociedade está do seu lado: "Talvez alguns entendam que o
combate ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não
aguenta mais." Moro esteve na Câmara nesta quarta-feira. Participou da
instalação da Frente Parlamentar de Segurança Pública. E voltou a pedir
urgência na tramitação do seu pacote anticrime: "Na minha avaliação, isso
(o pacote anticrime) pode tramitar em conjunto (com a reforma da Previdência),
não haveria maiores problemas. Mas vamos conversar, estamos abertos ao diálogo.
Evidentemente, as decisões relativas ao Congresso pertencem ao Congresso."
Na semana passada, Maia enviara o embrulho de Moro para um grupo detrabalho, que terá 90 dias para compatibilizar a o texto do ministro com outros
que já tramitam na Câmara, entre eles o de Alexandre de Moraes. Indagado sobre
a manifestação de Moro, o presidente da Câmara fez uma declaração ácida,
insinuando que prefere se entender com o chefe do ministro: "O funcionário
do presidente Bolsonaro? Ele conversa com o presidente Bolsonaro e se o
presidente Bolsonaro quiser ele conversa comigo. Eu fiz aquilo que eu poucas
novidades no projeto dele." Em resposta, Moro disse ter apresentado seu
pacote "em nome do governo do presidente Jair Bolsonaro". Negou
tratar-se de um mero exercício de "copia e cola". E injetou a
corrupção em sua prosa. Trata-se de "um projeto de lei inovador e amplo
contra crime organizado, contra crimes violentos e corrupção, flagelos contra o
povo brasileiro."
Em
privado, Maia disse a deputados que chateou-se com mensagens que recebeu de
Moro pelo celular, na madrugada desta quarta. Nessa versão, o ministro teria
cobrado celeridade na votação do seu pacote, insinuando uma hipotética quebra
de acordo. Na versão de Maia, o entendimento que prevalece é o de priorizar a
tramitação da reforma da Previdência. Algo que conta com a concordância de
Bolsonaro. Moro repisou na visita à Câmara a tecla da urgência: "A única
expectativa que tenho, atendendo aos anseios da sociedade contra o crime, é que
o projeto tramite regularmente e seja debatido e aprimorado pelo Congresso
Nacional com a urgência que o caso requer."
O ministro insinuou que Maia trafega na contramão do interesse social:
"Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado
indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais." De resto, o
ex-juiz da Lava Jato disse esperar um tratamento respeitoso de Maia.
"Essas questões sempre foram tratadas com respeito e cordialidade com o
presidente da Câmara, e espero que o mesmo possa ocorrer com o projeto e com
quem o propôs. Não por questões pessoais, mas por respeito ao cargo e ao amplo
desejo do povo brasileiro de viver em um país menos corrupto e mais seguro. Que
Deus abençoe essa grande nação." O problema de Moro é que o Planalto não
pega em lanças por seu pacote de medidas anticrime e anticorrupção. Conforma já
noticiado aqui, o governo dá preferência à Previdência. E trata as propostas de
Moro a golpes de barriga.
Leia abaixo a íntegra da manifestação de Sergio Moro:
"Sobre as declarações do Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, esclareço
que apresentei, em nome do Governo do presidente Jair Bolsonaro, um projeto de
lei inovador e amplo contra crime organizado, contra crimes violentos e
corrupção, flagelos contra o povo brasileiro.
A única expectativa que tenho, atendendo
aos anseios da sociedade contra o crime, é que o projeto tramite regularmente e
seja debatido e aprimorado pelo Congresso Nacional com a urgência que o caso
requer.
Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado
indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais. Essas questões sempre
foram tratadas com respeito e cordialidade com o Presidente da Câmara, e espero
que o mesmo possa ocorrer com o projeto e com quem o propôs. Não por questões
pessoais, mas por respeito ao cargo e ao amplo desejo do povo brasileiro de
viver em um país menos corrupto e mais seguro. Que Deus abençoe essa grande nação."
Blog do Josias de Souza