Que Beatriz Catta Preta, advogada dos delatores do petrolão, não é
conhecida pela simpatia, não é novidade. Nas sessões de depoimentos de
seus clientes, raras vezes esboça sorriso. Por trás da esposa fechada,
há um marido de personalidade idêntica. Carlos Eduardo de Oliveira Catta
Preta Júnior é personagem chave na dinâmica de delação premiada. Se a
advogada viabiliza e coordena as confissões, ele faz a 'contabilidade'
do negócio: trata dos trâmites de pagamento com as famílias e negocia
valores.
Advogada Beatriz Catta Preta(Evaristo Sa/AFP)
A estratégia é evitar o desgaste da relação entre advogada e
delator, sobretudo diante das quantias vultosas negociadas com cada um
dos acusados. Um criminalista, que prestou serviço a alguns clientes que
já passaram pelo escritório de Beatriz, relata que o marido, que é
ex-policial, usa métodos, digamos, indelicados para negociar pagamentos.
Essa era a principal reclamação dos clientes que chegavam a seu
escritório. Socos na mesa, gritos e xingamentos eram rotina na dinâmica
das cobranças - em especial com famílias já fragilizadas pela prisão dos
acusados. A rispidez não encontrava distinção entre os clientes.
O
mesmo tratamento dado aos donos de quantias vultosas do petrolão também
era dispensado aos casos menores. Antes de cuidar com unhas e dentes dos
negócios da esposa, Catta Preta, o marido, tinha experiência limitada
em administração. Sua última empreitada na área foi no início dos anos
2000, quando abriu, em sociedade com a esposa, uma escolinha de kitesurf
em Riviera de São Lourenço, no litoral norte de São Paulo. Àquela
época, os negócios jurídicos não iam tão bem. Os ventos mudaram para os
Catta Preta, e a escolinha de kite fechou.
(Ana Clara Costa, de São Paulo)