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quinta-feira, 6 de maio de 2021

Bia do Bradesco: inteligência artificial capenga importa mais que as clientes

Entre mudar com crédito a vida de mulheres reais e atender às demandas autoritárias da lacração, ficou-se com a segunda opção. Uma pena.

Desde que o ESG virou ativo valioso para as empresas tem gente tentando fazer versões mequetrefes. Hoje, no mercado corporativo, se dá uma importância enorme aos 3 eixos de governança: corporativa, social e ambiental. Environmental, Social and Corporate Governance, a tal da ESG, custa muito caro e dá um trabalho danado porque a gigantesca maioria das empresas não nasceu assim.

O legado empresarial hoje engloba também o tipo de interferência da empresa na sociedade e como a modifica para as próximas gerações. Esse é o problema do ESG, não tem como faturar no marketing no curto prazo. Por isso, no Brasil, já está na moda o que eu batizei de "ESG de Taubaté". Em vez de gastar uma fortuna promovendo governança social e ambiental, você bota uma grana numa propaganda lacradora e finge que é a mesma coisa. Bia do Bradesco, sabe?

O banco diz que está promovendo uma campanha contra o assédio e usa como carro-chefe do marketing a inteligência artificial criada para atender os clientes. Trata-se de um produto capenga devido ao estado de evolução dessa tecnologia e à realidade da interface com o usuário. Você já usou assistência da Bia do Bradesco? Tente. Não dá certo. Quer dizer, dá super certo se o seu objetivo for passar nervoso.

Inteligência artificial precisa ser treinada na interface com cada usuário. A tente também precisa aprender como fazer isso. E, vamos confessar, a maioria não sabe, não tem tempo nem paciência. É o meu caso. É indecente e misógino comparar o assédio sofrido por mulheres reais, com todas as suas consequências, à reação de alguém gritando com uma máquina que não funciona direito.

A tentativa de transformar um limão em limonada por meio de publicidade da lacração é um desrespeito com as mulheres. O problema da Bia é que o próprio Bradesco havia programado respostas misóginas, comparando estupro com namoro, por exemplo. Agora mudou para respostas igualmente misóginas, que equiparam dores reais de mulheres em situações graves a alguém dizendo, "que b*sta de chat" diante da frustração com o funcionamento dele. Desde quando isso é luta contra assédio?

Claro que a internet não perdoa. Geral já sabia que a tal da Bia não acha as coisas que a gente pede nem com corrente de oração. É mais rápido ir até a agência, pegar a fila do covidário e falar com o gerente do que conseguir fazer o que você quer pedindo à inteligência artificial. Quando mudaram as respostas, a interface continuou igualzinha. Vocês sabem que a única indústria em franca ascensão no Brasil é a da zueira. Ela entrou em ação mostrando que a Bia do Bradesco continua com os mesmos problemas.

Segundo a propaganda lacradora, "inspirados pelo movimento "Hey, atualize minha voz", da UNESCO, mudamos as respostas da BIA para que ela reaja de forma justa e firme contra o assédio. Sem meias palavras. Sem submissão. Porque, se queremos construir um futuro com mais respeito, precisamos dar o exemplo AGORA". O banco gastou uma fortuna com a campanha da lacração e nem assim a inteligência artificial parou de elogiar machismo e confundir estupro com amor.

A diferença prática é que agora aparece lição de moral quando, por exemplo, a Bia não entende o nome do cliente. Com o novo conjunto de respostas pré-programadas, a assistente virtual elogia nazismo e fetos enlatados, mas compara ir à missa a estupro. Não me parece que a campanha da UNESCO recomende essas práticas. Eu não entendo nada de banco, mas talvez tivesse sido melhor gastar o dinheiro da campanha lacradora em desenvolvimento de inteligência artificial.

O Bradesco propagandeia como se fossem iniciativas contra o assédio outras ações de marketing. Por exemplo, entrou na Aliança sem Estereótipo, "movimento que visa conscientizar anunciantes, agências e a indústria da propaganda, em geral, sobre a importância de eliminar os estereótipos nas campanhas publicitárias". Como diria o grande João Kleber, "para, para, para, para". Vão desativar a Bia? Não tem estereótipo mais gongado na área de inteligência artificial do que toda assistente ser mulher. Por que não é homem? Por que não é uma voz robótica, neutra, sei lá?

Madeleine Lacsko, jornalista - VOZES - Gazeta do Povo

 

sábado, 25 de julho de 2015

O casal fera

Que Beatriz Catta Preta, advogada dos delatores do petrolão, não é conhecida pela simpatia, não é novidade. Nas sessões de depoimentos de seus clientes, raras vezes esboça sorriso. Por trás da esposa fechada, há um marido de personalidade idêntica. Carlos Eduardo de Oliveira Catta Preta Júnior é personagem chave na dinâmica de delação premiada. Se a advogada viabiliza e coordena as confissões, ele faz a 'contabilidade' do negócio: trata dos trâmites de pagamento com as famílias e negocia valores. 
 Advogada Beatriz Catta Preta(Evaristo Sa/AFP)

A estratégia é evitar o desgaste da relação entre advogada e delator, sobretudo diante das quantias vultosas negociadas com cada um dos acusados. Um criminalista, que prestou serviço a alguns clientes que já passaram pelo escritório de Beatriz, relata que o marido, que é ex-policial, usa métodos, digamos, indelicados para negociar pagamentos. Essa era a principal reclamação dos clientes que chegavam a seu escritório. Socos na mesa, gritos e xingamentos eram rotina na dinâmica das cobranças - em especial com famílias já fragilizadas pela prisão dos acusados. A rispidez não encontrava distinção entre os clientes. 

O mesmo tratamento dado aos donos de quantias vultosas do petrolão também era dispensado aos casos menores. Antes de cuidar com unhas e dentes dos negócios da esposa, Catta Preta, o marido, tinha experiência limitada em administração. Sua última empreitada na área foi no início dos anos 2000, quando abriu, em sociedade com a esposa, uma escolinha de kitesurf em Riviera de São Lourenço, no litoral norte de São Paulo. Àquela época, os negócios jurídicos não iam tão bem. Os ventos mudaram para os Catta Preta, e a escolinha de kite fechou.

 (Ana Clara Costa, de São Paulo)