Ministro do STF, que faz discurso político o tempo todo, fechou com a esquerda porque é um dos meios mais seguros de se subir na vida pública no Brasil de hoje
O ministro Alexandre Moraes, numa palestra sobre um novo tipo de regime político,
a “democracia defensiva”, anunciou de novo que o Brasil precisa
combater a “extrema direita”.
Disse que a atuação dos “extremistas” e
dos “direitistas” nas redes sociais é hoje “muito mais nociva” do que já
foi; deixaram de “pregar abertamente o golpe de estado”, afirmou
Moraes, e agora fazem uma “lavagem cerebral” nas redes sociais para
desacreditar as urnas eletrônicas do TSE e, com isso, atacar a
democracia.
Não ficou claro o que poderia ser uma “democracia
defensiva”, mas a questão não está aí.
A questão é que a lei proíbe que
um juiz fale sobre política em público – e os ministros do Supremo fazem
isso o tempo todo.
É óbvio que ninguém nos STJ, CNJ
e coisas parecidas vai dizer que Alexandre Moraes não pode fazer o que
está fazendo; ninguém é louco. Mas a lei não muda por causa disso.
Continua dizendo que não pode.
E
mesmo que pudesse: por que, nesse caso, o cidadão não poderia ser de
direita?
Não está escrito em lugar nenhum da Constituição ou de qualquer
lei brasileira atualmente em vigor que as pessoas estão proibidas de
ser de direita, ou de extrema direita, ou do que quiserem.
Se estão
cometendo algum crime para aplicar suas crenças políticas têm de ser
punidos na forma da lei, como qualquer pessoa; fora isso, ninguém tem
nada de se meter na sua vida.
A função do STF
não é combater a extrema direita – ou a extrema esquerda, o extremo
centro e qualquer opção política.
É fazer com que a Constituição seja
aplicada e, quando for o caso, julgar os crimes previstos em lei.
Que
imparcialidade um cidadão considerado “de direita” pode esperar num
julgamento feito por Moraes, com isso tudo que ele vive dizendo?
E se
falasse que a “extrema esquerda” faz “lavagem cerebral” na população e
tem de ser combatida? O mundo viria abaixo.
O
ministro, obviamente, não precisa de ninguém para lhe dizer o que está
certo ou errado.
Não quer saber se a lei permite ou proíbe.
Quer saber
até onde consegue ir em suas decisões. Pode prender um deputado federal
que não cometeu nenhum crime inafiançável? Pode, porque ninguém faz nada
– então ele prende.
Pode multar em R$ 22 milhões um partido que
apresentou uma petição à Justiça? Pode – então ele multa.
Pode abrir um
inquérito policial no STF? Pode – então ele abre. Moraes não está contra
a direita porque descobriu a verdade na estrada de Damasco.
Está contra
porque constatou uns anos atrás que fechar contrato com a esquerda é um
dos meios mais seguros de se subir na vida política do Brasil de hoje –
sobretudo com o apoio da polícia e do Exército. Deu certo.
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo