Policiais civis prendem quarteto acusado de liderar o linchamento que culminou na morte de adolescente de 16 anos, em uma festa no Parque da Cidade. Agentes tentam descobrir quem deu o golpe fatal e definir a participação de outras pessoas
Denuncie
Quem
tiver mais informações sobre o caso pode entrar em contato com a
Polícia Civil pelo telefone 197 ou presencialmente, na 1ª Delegacia de
Polícia. O sigilo é assegurado aos denunciantes.
Sem
autorização, o evento foi organizado por meio das redes sociais e reuniu
jovens de 16 a 25 anos, com oferta de muita bebida alcoólica. O
linchamento aconteceu após os agressores acusarem Victor de roubar o
celular de uma menina. Mas as investigações comprovarem que ele não teve envolvimento com o sumiço do aparelho, nem nunca se envolveu com qualquer delito.
Após
mais de um mês de investigação, agentes da 1ª Delegacia de Polícia (Asa
Sul) cumpriram ontem quatro mandados de prisão temporária e nove de
busca e apreensão na casa de nove suspeitos de envolvimento no crime. A
operação — intitulada Thanatus, em referência à entidade que representa a
morte, segundo a mitologia grega — ocorreu no Paranoá, em Sobradinho 2 e
em Samambaia Sul. Três homens, de 20, 23 e 24 anos, e uma mulher de 24
ficarão presos por 30 dias para que a polícia dê continuidade à apuração
do inquérito e colete mais provas relacionadas ao crime. O tempo de
prisão temporária em situação de homicídio pode ser superior a cinco
dias e prorrogado por mais um mês.
Os investigadores identificaram os quatro suspeitos com a ajuda de
três denúncias anônimas. A Polícia Civil também teve acesso a vídeos de
celular feitos por pessoas que estavam no local do crime. Em um deles,
dois homens comentam que o linchamento está acontecendo e diz que a
vítima corre o risco de morrer. Em outro, mesmo com a vítima caída e
rendida, uma menina grita e pergunta “Cadê a p* do celular?”. Na
terceira imagem, um homem se revolta e esbraveja: “Que covardia!”.
Os
policiais tentam descobrir, agora, a dinâmica do crime. Apesar de não
haver definição sobre o que aconteceu depois de o celular da jovem ser
roubado, a apuração apontou que Victor não foi o responsável por tomar o
aparelho. Os policiais concluíram que um amigo de Victor teria roubado o
telefone. O suspeito, que também tem 16 anos, foi encaminhado à DCA, em
maio. “Não sabemos se Victor viu o momento do roubo ou se teve essa
consciência de que o amigo tinha subtraído o celular. Mas temos a
convicção de que não foi ele o autor desse crime”, ressaltou o delegado
João de Ataliba Neto, da 1ªDP.
Os suspeitos presos ontem passarão por identificação de outras
testemunhas para reforçar se eles tiveram participação no caso. “Essa
prisão é imprescindível para conseguirmos avançar na investigação. Temos
a informação de que um deles seria o autor da facada, mas queremos
confirmar quem de fato deu o golpe que tirou a vida do Victor”, explicou
Ataliba Neto. Em depoimento na 1ªDP, os quatro acusados negaram
qualquer envolvimento no crime, mas todos serão indiciados por
homicídio. “Quem deu a facada é o autor, mas as demais pessoas são
partícipes do homicídio”, comentou o delegado. Há, ainda, a
possibilidade de eles responderem pelos crimes de lesão corporal seguida
de morte e rixa qualificada.
Correio Braziliense
Além dos quatro
adultos, os agentes apuram a participação de nove adolescentes. A maior
parte dos envolvidos, segundo a Polícia Civil, é estudante do Centro de
Educação de Jovens e Adultos Asa Sul (Ceja Cesas), mesma escola de
Victor. Caso seja comprovado o envolvimento dos adolescentes no crime,
as condutas deles serão investigadas pela Delegacia da Criança e do
Adolescente (DCA).
Ajuda do pai
Pai da vítima, Íris Melo,
48 anos, participou das investigações, inclusive indicando testemunhas
para a polícia (leia Depoimento). “Eu sabia do caráter do meu filho, por
isso lutei tanto nessa investigação. Para provar que ele não teve
participação nisso aí (no roubo do celular). Corri atrás para provar a
inocência dele”, destacou. A mãe de Victor, Valdineia Martins Melo, 42
anos, tenta se recuperar da perda do filho. “Ela começou a melhorar
agora. No início, foi difícil aceitar tratamento psicológico, mas
estamos esperando ver como ela reage para decidir”, observou Íris. A
família, que mora no Setor de Chácaras do Lago Norte, tem uma loja de
películas para vidros, na Asa Norte, onde Victor ajudava o pai aplicando
o material.
Como os divulgadores da festa não
tinham autorização para fazer o evento em espaço público, eles podem
responder pelo caso no âmbito da Justiça cível. Uma das pessoas apontada
como organizadora negou qualquer envolvimento com a confraternização.
Responsável pela gestão do Parque da Cidade, a Secretaria de Esporte,
Turismo e Lazer confirmou que o encontro não tinha permissão pública,
mas não explicou por que ele durou ao menos quatro horas. A pasta
informou à reportagem que acionou a Polícia Militar assim que soube da
festa. Contudo, quando a primeira equipe da PM chegou ao local, o
linchamento já havia acontecido.
“O vazio na família é imenso”
Pelo
lado emocional, (essa prisão) não traz meu filho de volta, mas, lá no
fundo, lá no fundo, a gente sente que há um pouco de Justiça e que esse
caso não vai ficar impune. Acredito que foram, de fato, essas pessoas
que tiraram a vida do meu filho. Participei muito a fundo dessa
investigação, ajudei bastante, levei uma testemunha. E o próprio amigo
do meu filho afirma que foi ela (a menina) quem deu uma facada no meu
filho. Temos, também, outras testemunhas que mostram que foi aquela
pessoa lá.
Infelizmente, ou
felizmente, não sei, eu cruzei com ela na delegacia. Ela me reconheceu,
mas me olhou como se eu fosse uma pessoa normal. O próprio doutor
(delegado) falou que eles estão muito confiantes. Eles são muito frios. É
impressionante o jeito que estão agindo. Não reagiram, não choraram,
não manifestaram nenhum tipo de sentimento. Estão agindo normalmente com
uma frieza total.
Eu sabia
do caráter do meu filho, por isso lutei tanto nessa investigação. Para
provar que ele não teve participação nisso aí (no roubo do celular).
Corri atrás para provar a inocência dele. Todo mundo viu quem era
Victor. Uma pessoa honesta, alegre e de amizade.
Quero
que, a partir de agora, eles vão a Júri popular e que peguem a
condenação máxima. Além disso, que tenha punição para esses menores que
são monstros protegidos pela lei, porque já são 14 identificados até
agora.
Desde que o meu menino
se foi, tudo mudou. Sinto muita falta dele, dos momentos bons, da
alegria. Nós éramos uma família muito unida. Meu filho trabalhava
comigo. Sinto falta do café da manhã com ele, de levá-lo para o colégio.
O vazio na família é imenso, eu não sei nem te dizer.
Íris de Melo, pai da vítima
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Quem
tiver mais informações sobre o caso pode entrar em contato com a
Polícia Civil pelo telefone 197 ou presencialmente, na 1ª Delegacia de
Polícia. O sigilo é assegurado aos denunciantes.
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