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quarta-feira, 11 de julho de 2018

Linchamento - Polícia busca responsável por desferir golpe que matou jovem no Parque

Policiais civis prendem quarteto acusado de liderar o linchamento que culminou na morte de adolescente de 16 anos, em uma festa no Parque da Cidade. Agentes tentam descobrir quem deu o golpe fatal e definir a participação de outras pessoas 

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Quem tiver mais informações sobre o caso pode entrar em contato com a Polícia Civil pelo telefone 197 ou presencialmente, na 1ª Delegacia de Polícia. O sigilo é assegurado aos denunciantes.

 Sem autorização, o evento foi organizado por meio das redes sociais e reuniu jovens de 16 a 25 anos, com oferta de muita bebida alcoólica. O linchamento aconteceu após os agressores acusarem Victor de roubar o celular de uma menina. Mas as investigações comprovarem que ele não teve envolvimento com o sumiço do aparelho, nem nunca se envolveu com qualquer delito.

Após mais de um mês de investigação, agentes da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) cumpriram ontem quatro mandados de prisão temporária e nove de busca e apreensão na casa de nove suspeitos de envolvimento no crime. A operação — intitulada Thanatus, em referência à entidade que representa a morte, segundo a mitologia grega — ocorreu no Paranoá, em Sobradinho 2 e em Samambaia Sul. Três homens, de 20, 23 e 24 anos, e uma mulher de 24 ficarão presos por 30 dias para que a polícia dê continuidade à apuração do inquérito e colete mais provas relacionadas ao crime. O tempo de prisão temporária em situação de homicídio pode ser superior a cinco dias e prorrogado por mais um mês.
 
Os investigadores identificaram os quatro suspeitos com a ajuda de três denúncias anônimas. A Polícia Civil também teve acesso a vídeos de celular feitos por pessoas que estavam no local do crime. Em um deles, dois homens comentam que o linchamento está acontecendo e diz que a vítima corre o risco de morrer. Em outro, mesmo com a vítima caída e rendida, uma menina grita e pergunta “Cadê a p* do celular?”. Na terceira imagem, um homem se revolta e esbraveja: “Que covardia!”.

Os policiais tentam descobrir, agora, a dinâmica do crime. Apesar de não haver definição sobre o que aconteceu depois de o celular da jovem ser roubado, a apuração apontou que Victor não foi o responsável por tomar o aparelho. Os policiais concluíram que um amigo de Victor teria roubado o telefone. O suspeito, que também tem 16 anos, foi encaminhado à DCA, em maio. “Não sabemos se Victor viu o momento do roubo ou se teve essa consciência de que o amigo tinha subtraído o celular. Mas temos a convicção de que não foi ele o autor desse crime”, ressaltou o delegado João de Ataliba Neto, da 1ªDP.
 
Os suspeitos presos ontem passarão por identificação de outras testemunhas para reforçar se eles tiveram participação no caso. “Essa prisão é imprescindível para conseguirmos avançar na investigação. Temos a informação de que um deles seria o autor da facada, mas queremos confirmar quem de fato deu o golpe que tirou a vida do Victor”, explicou Ataliba Neto. Em depoimento na 1ªDP, os quatro acusados negaram qualquer envolvimento no crime, mas todos serão indiciados por homicídio. “Quem deu a facada é o autor, mas as demais pessoas são partícipes do homicídio”, comentou o delegado. Há, ainda, a possibilidade de eles responderem pelos crimes de lesão corporal seguida de morte e rixa qualificada.

Além dos quatro adultos, os agentes apuram a participação de nove adolescentes. A maior parte dos envolvidos, segundo a Polícia Civil, é estudante do Centro de Educação de Jovens e Adultos Asa Sul (Ceja Cesas), mesma escola de Victor. Caso seja comprovado o envolvimento dos adolescentes no crime, as condutas deles serão investigadas pela Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA).

Ajuda do pai

Pai da vítima, Íris Melo, 48 anos, participou das investigações, inclusive indicando testemunhas para a polícia (leia Depoimento). “Eu sabia do caráter do meu filho, por isso lutei tanto nessa investigação. Para provar que ele não teve participação nisso aí (no roubo do celular). Corri atrás para provar a inocência dele”, destacou. A mãe de Victor, Valdineia Martins Melo, 42 anos, tenta se recuperar da perda do filho. “Ela começou a melhorar agora. No início, foi difícil aceitar tratamento psicológico, mas estamos esperando ver como ela reage para decidir”, observou Íris. A família, que mora no Setor de Chácaras do Lago Norte, tem uma loja de películas para vidros, na Asa Norte, onde Victor ajudava o pai aplicando o material.

Como os divulgadores da festa não tinham autorização para fazer o evento em espaço público, eles podem responder pelo caso no âmbito da Justiça cível. Uma das pessoas apontada como organizadora negou qualquer envolvimento com a confraternização. Responsável pela gestão do Parque da Cidade, a Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer confirmou que o encontro não tinha permissão pública, mas não explicou por que ele durou ao menos quatro horas. A pasta informou à reportagem que acionou a Polícia Militar assim que soube da festa. Contudo, quando a primeira equipe da PM chegou ao local, o linchamento já havia acontecido.

“O vazio na família é imenso”


Pelo lado emocional, (essa prisão) não traz meu filho de volta, mas, lá no fundo, lá no fundo, a gente sente que há um pouco de Justiça e que esse caso não vai ficar impune. Acredito que foram, de fato, essas pessoas que tiraram a vida do meu filho. Participei muito a fundo dessa investigação, ajudei bastante, levei uma testemunha. E o próprio amigo do meu filho afirma que foi ela (a menina) quem deu uma facada no meu filho. Temos, também, outras testemunhas que mostram que foi aquela pessoa lá.

Infelizmente, ou felizmente, não sei, eu cruzei com ela na delegacia. Ela me reconheceu, mas me olhou como se eu fosse uma pessoa normal. O próprio doutor (delegado) falou que eles estão muito confiantes. Eles são muito frios. É impressionante o jeito que estão agindo. Não reagiram, não choraram, não manifestaram nenhum tipo de sentimento. Estão agindo normalmente com uma frieza total.

Eu sabia do caráter do meu filho, por isso lutei tanto nessa investigação. Para provar que ele não teve participação nisso aí (no roubo do celular). Corri atrás para provar a inocência dele. Todo mundo viu quem era Victor. Uma pessoa honesta, alegre e de amizade.

Quero que, a partir de agora, eles vão a Júri popular e que peguem a condenação máxima. Além disso, que tenha punição para esses menores que são monstros protegidos pela lei, porque já são 14 identificados até agora.

Desde que o meu menino se foi, tudo mudou. Sinto muita falta dele, dos momentos bons, da alegria. Nós éramos uma família muito unida. Meu filho trabalhava comigo. Sinto falta do café da manhã com ele, de levá-lo para o colégio. O vazio na família é imenso, eu não sei nem te dizer.

Íris de Melo, pai da vítima

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Quem tiver mais informações sobre o caso pode entrar em contato com a Polícia Civil pelo telefone 197 ou presencialmente, na 1ª Delegacia de Polícia. O sigilo é assegurado aos denunciantes.

 Correio Braziliense